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A Europa não deveria se esforçar tanto para salvar o planeta sozinha, diz conselheiro do governo alemão

Alexander Neubacher

  • Nasa

à medida que chega ao fim a conferência do clima da ONU em Doha, muitos ambientalistas estão se sentindo sem esperança diante da falta de progresso. Mas em uma entrevista para a “Spiegel”, o conselheiro do governo alemão, Kai Konrad, diz que Berlim e a Europa estão adotando a abordagem errada para motivar os outros.   Spiegel: Senhor Konrad, as negociações do clima em Doha parecem estar fracassando. Por que isso está acontecendo?  Konrad: A Alemanha e a União Europeia assumiram um papel pioneiro na proteção do clima, com a suposição equivocada de que outros países seguiriam nosso exemplo. Essa é a estratégia errada. Promover esse tipo de esforço avançado enfraquece nossa posição de negociação. Em vez de construir turbinas eólicas, nós deveríamos construir diques maiores.   Spiegel: O senhor acredita que a batalha contra a mudança climática já está perdida?  Konrad: Não. Eu ainda torço por um acordo internacional, porque nós só conseguiremos deter a mudança climática se o máximo possível de países participar. Mas isso não acontecerá se não mudarmos nossa estratégia. A Alemanha e a Europa estão convidando sanguessugas. é errado acreditar que nosso comportamento nobre impressionará tanto os outros nessas negociações a ponto disso os levar a fazer concessões.   Spiegel: As negociações do clima agora estão entrando na próxima rodada. Nossos delegados são ingênuos?  Konrad: Imagine uma situação onde uma criança corre o risco de cair em um lago. Se um dos adultos presentes disser que ele ou ela certamente pulará na água se isso acontecer, então ninguém mais vai se preocupar em se molhar.   Spiegel: O mais importante é que a criança seja salva.  Konrad: Infelizmente, onde a comparação falha é no fato de que um país sozinho não pode salvar o clima global. Na esfera internacional, nós podemos esperar que nossas medidas unilaterais para evitar a emissão do CO2 danoso ao clima na verdade sirvam para suprimir as reduções que outros países caso contrário fariam. Resumindo, nosso comportamento bem-intencionado é caro para nós e não faz nada para proteger o clima.   Spiegel: Que ação concreta o governo alemão deveria tomar?  Konrad: Nós devemos deixar claro à China, aos Estados Unidos e aos grandes países em desenvolvimento que a Alemanha e a Europa não tentarão mais salvar o clima sozinhas. Em vez de evitar o CO2 a todo custo, nós devemos nos preparar para a continuidade do aquecimento global. é uma ameaça crível. Tudo o que sabemos sugere que a Europa Central sofrerá comparativamente pouco com o aquecimento global. Berlim apenas terá as temperaturas que Roma tem hoje. Os ajustes que teremos que fazer são relativamente fáceis.   Spiegel: Mas os países industrializados do Ocidente são responsáveis pela alta concentração de CO2 na atmosfera. Nós não temos uma dívida a pagar à China, por exemplo?  Konrad: Pode ser que sim. Mas as negociações não avançarão se fizermos tantas concessões à posição da China a ponto de não haver mais nenhum movimento.   Spiegel: As organizações ambientais esperam que a Alemanha contribua generosamente para os fundos do clima para ajuda aos países em desenvolvimento, para que esses se protejam da mudança climática. Isso é justo?  Konrad: Novamente, seria inteligente não tratar desses fundos no início das negociações, sem pedir por algo em troca.   Spiegel: Essa é uma posição que soa cínica. Os países pobres não têm dinheiro para se prepararem para enchentes e secas catastróficas.  Konrad: Um colega meu disse corretamente: nós estamos gastando muito dinheiro para proteger os filhos e netos das mesmas pessoas que estamos permitindo que morram de fome hoje. A quantia que estamos gastando tentando reduzir o CO2 seria mais bem investida em educação e saúde nas regiões que estão sob ameaça. Nossa meta deveria ser melhorar as condições econômicas nos países em desenvolvimento, porque isso, por sua vez, fortaleceria a capacidade desses países se adaptarem à mudança climática.   Spiegel: Mesmo assim, graças ao seu papel pioneiro na proteção ao clima, a Alemanha está na vanguarda do desenvolvimento de tecnologias boas para o meio ambiente.  Konrad: Infelizmente, isso também só é parcialmente verdadeiro. Veja quem domina atualmente o mercado global de painéis solares. As melhores empresas estão na China e vendem para a Alemanha.  

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