Exclusivo para assinantes UOL

Sem Chávez, chega ao fim uma era na América do Sul

Klaus Ehringfeld

Da Cidade do México

  • Leo Ramirez/AFP

    Apoiador do presidente da Venezuela exibe santinho de Hugo Chávez em frente ao Hospital Militar Dr. Carlos Arvelo, em Caracas, onde o mandatário morreu na terça-feira (5)

    Apoiador do presidente da Venezuela exibe santinho de Hugo Chávez em frente ao Hospital Militar Dr. Carlos Arvelo, em Caracas, onde o mandatário morreu na terça-feira (5)

Hugo Chávez será lembrado por mudar completamente a face tanto da Venezuela quanto de grande parte da América Latina. Durante seu governo, ele quase sempre conseguiu o que queria. Mas seus métodos não eram universalmente apreciados. Sua morte na terça-feira (5) marca o fim de uma era. "Estou disposto a ficar com vocês até 2019, até 2021 e o que Deus e o povo mandarem", disse Hugo Chávez em 2008. Na época, o presidente venezuelano e nacionalista de esquerda estava no ápice de seu poder. Com 54 anos e na presidência há dez anos, ele planejava de forma enérgica e confiante para a próxima década como o chefe de Estado há mais tempo no poder na América Latina. Na época, era inimaginável que esse orador dotado e ex-oficial militar ficaria gravemente doente quando as eleições presidenciais de 2012 chegassem. Um ano antes daquela votação, Chávez passou pela primeira das quatro operações para livrá-lo do câncer. Nos últimos meses, sua imagem pública passou a ser dominada principalmente pelos relatos sobre sua saúde e procedimentos cirúrgicos adicionais – uma queda significativa para um homem que representava um desafio espinhoso para a elite política da América do Sul e que via a si mesmo como um baluarte contra os Estados Unidos. Agora, Chávez sucumbiu à sua doença; o vice-presidente Nicolás Maduro anunciou a morte do líder no final da tarde de terça-feira, logo após a publicação da notícia de uma infecção respiratória "severa". Ele tinha 58 anos. Maduro anunciou sete dias de luto oficial, com o funeral público marcado para sexta-feira (8). Novas eleições serão realizadas em 30 dias. "é um momento de profunda dor", disse Maduro, que permanecerá no poder até a votação. "Seu projeto, suas bandeiras serão erguidas com honra e dignidade. Comandante, obrigado, muito obrigado, em nome das pessoas a quem você protegeu." A morte de Chávez marca o fim de uma vida dinâmica. Filho de professores escolares da cidade de Sabaneta, no Estado de Barinas, Chávez rapidamente ascendeu nas fileiras militares para se tornar tenente-coronel, antes de chegar à Presidência do país rico em petróleo. Em 1992, ele tentou tomar o poder em uma tentativa fracassada de golpe contra o presidente Carlos Andrés Pérez. Ele foi perdoado depois de passar dois anos preso. Depois disso, ele buscou o caminho político para o poder na Venezuela. Mudando o país Não demorou muito. Nas eleições de dezembro de 1998, Chávez venceu com 56% dos votos. Ele personificava um novo projeto, uma alternativa à elite corrupta e aos democrata-cristãos e social-democratas que se alternavam no poder há décadas. Veja álbum de fotos O projeto mudaria completamente o país, um "reboot" liderado por Chávez. Ele reescreveu a Constituição, retirou o poder do antigo Parlamento e o substituiu por um novo, e concentrou o poder em suas mãos. Ele entregou altos cargos políticos para seus confidentes mais próximos. Talvez mais importante, ele assegurou o controle sobre o tesouro mais valioso do país: o petróleo. Sendo a Venezuela uma das maiores produtoras do mundo de óleo cru, a receita do petróleo seria um elemento significativo do poder de Chávez, e ele não hesitou em nacionalizar partes do setor. Chávez governou a Venezuela como se fosse sua fazenda particular. Mas mesmo assim ele cuidou para que seu governo fosse constantemente legitimado pelas urnas. No total, ele conseguiu sobreviver a quatro eleições, uma tentativa de golpe de Estado e um referendo nacional.

Veja também

UOL Cursos Online

Todos os cursos