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Humala abranda a sua posição quanto ao setor de mineração do Peru

Javier Blas

  • Martin Mejia/AP

    Humala logo após vencer as eleições presidenciais

    Humala logo após vencer as eleições presidenciais

A eleição de Ollanta Humala como presidente do Peru gerou uma onda de preocupação na indústria de mineração do país, já que, durante a sua campanha, ele defendeu o aumento dos impostos sobre o setor e a intervenção estatal. O valor das ações do setor de mineração peruano despencou após a vitória dele, mas até agora os piores temores quanto ao novo presidente se revelaram prematuros. Humala, que assumirá a presidência no dia 28 de julho, abrandou a sua mensagem econômica e confirmou que o atual presidente do banco central será mantido no cargo. Os acontecimentos políticos do país são cuidadosamente observados pelos mercados, já que o Peru é o segundo maior produtor mundial de prata, cobre e zinco. O país é particularmente importante como fornecedor de cobre e deverá responder por um terço da produção global desse minério nos próximos cinco anos, segundo dados compilados pelo Grupo Macquarie. Mas a indústria de mineração suspirou aliviada e os preços das ações das companhias mineradoras que atuam no Peru registraram forte alta. No dia seguinte à eleição de Humala, as ações da Southern Copper Corporation, uma companhia que produz grande quantidade de cobre e que possui várias minas no Peru, caíram mais de 10%, e continuaram em queda nos dias seguintes. Até o momento, neste mês, as ações subiram 18,5%, recuperando-se das quedas. A companhia mineradora de prata Hochschild, que atua no Peru, viu as suas ações despencarem 8,5% no dia seguinte à eleição de Humala, mas elas tiveram alta de quase 11% neste mês, tendo retornado aos níveis registrados antes das eleições. E outras mineradoras passaram por experiências similares. A decisão de manter o respeitado economista Julio Velard no cargo de presidente do banco central foi até agora a indicação mais clara de que Humala pretende seguir o chamado “Lulismo”, o modelo econômico adotado pelo ex-presidente brasileiro Luiz Inácio Lula da Silva. Mas o perigo de que aconteçam aumentos de impostos e intensificação do controle estatal ainda não desapareceu. “No Peru, as pessoas sabem que houve crescimento econômico, mas sabem também que este crescimento pode não tê-las beneficiado”, disse Humala antes da eleição, indicando que as mineradoras precisam pagar mais impostos. Mas, depois que ele se elegeu, o seu discurso ficou mais ameno. Antes da eleição ele se concentrou em um imposto sobre lucros extraordinários (“windfall tax”), sugerindo que a alíquota de impostos corporativos pagos pelas mineradoras poderia ter um aumento de até 40%. A atual alíquota, de 30%, é relativamente baixa segundo os padrões internacionais – no Chile, por exemplo, esse índice é de 35%. Mas agora Humala deseja suspender o imposto de royalties, atualmente de 3%, e a ideia de instituir o imposto sobre lucros extraordinários foi, por ora, arquivada. Humala e os seus assessores afirmam também que desejam reunir-se com as mineradoras e negociar condições mais favoráveis, em vez de se arriscarem a sofrer uma represália desta indústria que lhes poderia custar bilhões de dólares em investimentos planejados. Mas os executivos das mineradoras não se iludem com a perspectiva de escaparem intocados. Afinal, o Peru é a mais recente nação rica em recursos naturais a procura obter uma maior parcela dos benefícios resultantes da elevação dos preços das commodities em um momento em que uma nova onda de “nacionalismo de recursos” varre o setor. Neste ano, vários países, desde o Reino Unido até a Austrália, impuseram impostos mais altos às companhias de recursos naturais ou renegociaram contratos de mineração e de petróleo à medida que os preços das commodities disparavam. Mas, conforme demonstrou anteriormente o exemplo da Austrália neste ano, governos que negociam acordos de operação com a indústria de mineração podem suavizar o impacto sofrido pelas mineradoras.

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