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McDonald's venderá sanduíches de peixe com certificação ecológica a europeus

David Jolly

  • Reprodução/"Le Figaro"

    Propaganda do McDonald's com o campeão gaulês Asterix comendo hambúrguer e batata frita

    Propaganda do McDonald's com o campeão gaulês Asterix comendo hambúrguer e batata frita

O McDonald's, a maior companhia de lanchonetes de fast-food do mundo, anunciou na quarta-feira (8) que fez um acordo segundo o qual uma organização sem fins lucrativos classificará como sustentável a matéria prima para os 100 milhões de sanduíches de peixe que a rede vende por ano na Europa. A partir de outubro, o selo ecológico azul da organização Marine Stewardship Council aparecerá nos papéis que envolvem os sanduíches de peixe Filet-o-Fish nos McDonald's da Europa. Esses sanduíches são feitos com filé branco de peixe frito, molho tártaro e uma fatia de queijo servidos dentro de um pão aquecido. O braço europeu do McDonald's, que enfrenta críticas persistentes de ambientalistas que o acusam de práticas destrutivas, vem procurando nos últimos anos melhorar a sua imagem com a venda de café certificado pela Rainforest Alliance e a instituição de programas de agricultura sustentável. Os europeus são – pelo menos aparentemente – um pouco mais sensíveis do que os norte-americanos às questões ambientais. O McDonald's observa, por exemplo, que na América do Norte, “os alimentos feitos com ingredientes geneticamente modificados são geralmente aceitos, mas isso não ocorre na Europa”. Joanna Trigg, uma porta-voz do McDonald's em Londres, afirmou: “A companhia procurou obter o selo de certificação porque nós reconhecemos que, ao usarmos o selo ecológico do Marine Stewardship Council, permitiremos que os nossos clientes possam contar com opções sustentáveis, sem que tenham que modificar o comportamento”. Trigg disse ainda que “tem havido algumas conversas” a respeito de estender o acordo também para os Estados Unidos. O McDonald's possui 7.000 restaurantes em 39 países europeus. Este é um dos mais notáveis acordos relativos à classificação ecológica de pescados já anunciados, e os ambientalistas de forma geral apoiam as metas desse projeto. “Essa medida, tomada por uma companhia que tem um volume de distribuição assim tão grande, demonstra que existe uma demanda crescente por parte da população por uma maior sustentabilidade ecológica da atividade pesqueira europeia e pela recuperação das reservas de pescado excessivamente exploradas”, diz Xavier Pastor, do grupo de defesa da ecologia marítima Oceana. Em outro grande estímulo para a classificação ecológica dos frutos do mar, a Wal-Mart Stores, a maior rede de supermercados do mundo, anunciou que exigirá que todos os fornecedores de frutos do mar vendidos nas lojas Wal-Mart e Sam's Club obtenham a certificação do Marine Stewardship Council ou de uma organização certificadora equivalente para os peixes produzidos em fazendas de piscicultura. A Wal-Mart afirmou que “isso exigirá que as atuais empresas de produção de pescado não certificadas desenvolvam planos de trabalho para a obtenção de certificação e que elas anunciem os progressos feitos a cada seis meses”. As redes supermercadistas Kroger, Costco e Supervalu também estão adotando o programa do Marine Stewardship Council. O conselho, com sede em Londres, foi criado em 1995 pelo World Wildlife Fund e pela Unilever, que na época era uma grande vendedora de frutos do mar, a fim de encorajar lojas, restaurantes e consumidores a optar pela compra de peixe produzido de forma responsável. O conselho contrata outras companhias para certificarem que as reservas de pescado são gerenciadas de forma a preservar empregos, manter estas reservas em níveis recomendáveis e proteger o oceano. Para conceder ao McDonald's o direito de utilizar o seu selo, a organização receberá 0,5% do custo dos cem milhões de filés certificados que ela certificar. “O acordo se constitui em uma prova tremenda da capacidade que os nossos líderes industriais possuem para transformar o mercado de pescado e ajudar a promover mudanças positivas no oceano”, disse em uma declaração pública Rupert Howes, o diretor executivo do conselho. Joanna Trigg disse que o McDonald's da Europa utiliza quatro espécies de peixes selvagens nos seus sanduíches: bacalhau, hadoque, pollock do Alasca e hoki neozelandês, sendo que as percentagens de cada espécie usadas nos sanduíches variam no decorrer do ano. Ela afirmou que o McDonald's poderia ter começado a usar apenas peixes produzidos de formas sustentáveis muitos anos atrás, cancelando os negócios com aqueles fornecedores que não respeitavam os padrões ambientais. “Mas a política da companhia é continuar engajada, ajudando a indústria pesqueira a melhorar as suas práticas”, acrescenta Trigg. O Marine Stewardship Council não está isento de críticas. A sua certificação do hoki neozelandês, em especial, tem sido objeto de escrutínio, porque os peixes são capturados com uma rede arrastada no fundo do oceano, uma modalidade de pesca que costuma ser comparada à terraplanagem do fundo do mar com um trator. Alguns comerciantes, incluindo a rede de supermercados britânica Waitrose, se recusam a trabalhar com o hoki neozelandês por este motivo. Uma parte do bacalhau do Báltico Oriental e do pollock do Alasca também é capturada com as redes de fundo. “Isso é apenas um passo”, afirma Pastor, da organização Oceana. “A definição e os limites de sustentabilidade ainda precisam ser identificados, especialmente no que diz respeito à rotulação de produtos obtidos por meio de práticas de pesca destrutivas. Nós não consideramos a pesca com redes de fundo uma atividade sustentável, já que o impacto desses equipamentos de pesca sobre o fundo do mar provoca mais danos aos nossos já exauridos ecossistemas oceânicos”.

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