Morte de Osama bin Laden

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Morte de Bin Laden ameaça minar iniciativas dos EUA de saúde global

Jack C. Chow*

Em Washington (EUA)

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A CIA não poupou esforços em sua campanha implacável, e no final bem-sucedida, para localizar e matar Osama Bin Laden. Mas foi revelado que a inventividade vale-tudo dos agentes da CIA envolveu o recrutamento de um médico paquistanês para dirigir um programa de vacinação comunitária em Abbottabad, como fachada para tentar obter amostras biológicas dos ocupantes do esconderijo de Bin Laden. O esquema envolveu fazer com que o médico entrasse no esconderijo, sob o pretexto de uma campanha de vacinação contra hepatite, vacinasse o grupo de Bin Laden e extraísse uma amostra biológica que pudesse confirmar a presença de Bin Laden a partir do DNA de seus filhos. O plano da CIA de verificar a presença de Bin Laden em seu esconderijo em Abbottabad, por meio de seu projeto “Agulha de Troia”, provocou uma tempestade de oposição por parte da comunidade de saúde pública. Associar a agenda política e de inteligência a uma campanha médica significa violar a confiança entre médicos e pacientes –o entendimento de que o atendimento de saúde é fornecido exclusivamente para fins humanitários. Essa cadeia de confiança também se estende aos grandes programas de saúde pública, que dependem dos líderes nacionais e comunitários para ingresso em aldeias remotas e manutenção de cadeias complexas de suprimento para vacinas e medicamentos. A cooperação que possibilita o fluxo de ajuda entre os Estados Unidos e os países atingidos por doenças e pobreza é construída por anos de negociações e um retrospecto de colaboração bem-sucedida. A revelação das táticas da CIA agora ameaça minar uma série de iniciativas americanas de saúde global. Apesar do esforço em Abbottabad não ter envolvido americanos de modo direto, a mão escondida da CIA deixa as atuais operações internacionais de saúde americanas vulneráveis a novo escrutínio e suspeita, por mais infundada e indesejável que possa ser. O momento gerado pelas iniciativas contra Aids e malária de Bush, assim como a Iniciativa de Saúde Global do presidente Obama, mobiliza bilhões de dólares e emprega milhares de pessoas em dezenas de países em desenvolvimento. O Departamento de Estado lançou recentemente uma campanha de diplomacia para desenvolvimento que promove a boa vontade americana por meio do “poder civil”. Agora, com a manipulação pela CIA de um programa de vacinação, os motivos americanos para realização de uma campanha podem ser recebidos com ceticismo, até mesmo com zombaria. A confiança na assistência americana ao desenvolvimento poderá ruir, especialmente em regiões onde os rivais geopolíticos dos Estados Unidos exercem pressão. As operações americanas de saúde e os funcionários que trabalham no exterior poderiam se tornar alvo de vigilância da inteligência estrangeira e enfrentar obstáculo e assédio com motivação política, potencialmente interrompendo as linhas de fornecimento de saúde para milhões de pessoas necessitadas. Os diplomatas encarregados pela coordenação da ajuda americana podem ser colocados na defensiva. Especialmente vulneráveis ao escrutínio estrangeiro estão os programas de saúde patrocinados pelas forças armadas americanas, como as bases de pesquisa médica da Marinha no Peru e no Egito, e os programas de assistência médica do Departamento de Defesa na Etiópia e Tanzânia, onde as equipes de saúde americanas fornecem atendimento direto e orientação de saúde pública. No passado, teorias de conspiração acusavam a CIA de ajudar a disseminar doenças para seus próprios fins nefastos. Em 2000, por exemplo, o então presidente da áfrica do Sul, Thabo Mbeki, acusou abertamente a CIA de disseminar a pandemia de HIV/Aids. Essas acusações eram facilmente rechaçadas por serem absurdas. Mas com a revelação da operação da agência no Paquistão, a CIA fica vulnerável a novos ataques pelo uso impróprio de programas legítimos. Como a agência poderia atuar para remediar os efeitos colaterais adversos para a diplomacia de saúde dos Estados Unidos? O futuro diretor da CIA, David Petraeus, deve impor proibições e restrições claras às táticas de espionagem que fazem uso da medicina, de modo que a integridade e o propósito humanitário da ajuda americana na área de saúde sejam afirmadas e para atuais e futuras operações de ajuda em saúde não sejam utilizadas de modo impróprio. Os comitês de supervisão do Congresso devem investigar a operação no Paquistão e determinar se os líderes da agência consideraram os aspectos sensíveis ou as implicações éticas do uso de uma tática baseada em medicina para obtenção de inteligência. Por mais importante que fosse o alvo Bin Laden, o uso de um programa legítimo de saúde ameaça transformar a ajuda americana para saúde e desenvolvimento em uma baixa indesejada na luta contra o terrorismo. Com milhões de vidas dependendo da ajuda americana, é vital que a assistência médica aos necessitados continue sem obstáculos políticos e sem causa para impugnar as motivações humanitárias americanas. *Jack C. Chow foi embaixador global americano para HIV/Aids de 2001 a 2003, assim como diretor-geral assistente da Organização Mundial da Saúde para HIV/Aids, tuberculose e malária de 2003 a 2005. Ele atualmente é professor da Faculdade Heinz de Política Pública da Universidade Carnegie Mellon

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