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Reforma conduzida por presidente de Mianmar dá novo fôlego ao processo de democratização

Thomas Fuller

Em Kyonku (Mianmar)

  • Chor Sokhuntea/Reuters

    O presidente de Mianmar, U Thein Sein

    O presidente de Mianmar, U Thein Sein

Durante grande parte de sua carreira, ele foi um burocrata leal de um dos regimes militares mais brutais do mundo. Mas, nos 12 meses desde que se tornou presidente de Mianmar, U Thein Sein tem conduzido este país de 12 milhões de habitantes por um caminho radical da ditadura para a democracia, prometendo, como disse ao país neste mês, “extirpar os legados malignos profundamente enraizados em nossa sociedade”.   Não há uma resposta clara para o motivo de Thein Sein, um estudioso de 66 anos com um sorriso como de esfinge, ter decidido sacudir um dos países mais pobres e fechados da ásia. E pouco foi publicado sobre o presidente, um ex-general que tem sido chamado de o Mikhail Gorbachev de Mianmar, talvez prematuramente, dada a fragilidade das reformas.   Mas uma viagem a Kyonku, sua cidade natal, localizada em um canto remoto do país, oferece algumas pistas sobre sua personalidade e ao que o levou a promover um programa tão ambicioso de reforma. Kyonku é um pequeno vilarejo no delta do rio Irrawaddy, uma área ligada por uma vasta rede de canais, enseadas e rios. Há quatro anos, Thein Sein voltou ao delta após um ciclone que veio do oceano índico ter devastado a área. Foi o pior desastre natural sofrido por Mianmar, matando mais de 130 mil pessoas. Na época, Thein Sein era o chefe do comitê de preparação para desastres do país e, portanto, líder da resposta de emergência da junta militar. Mas, enquanto percorria todo o delta em um helicóptero, ele viu o quão despreparado o país pobre estava para tamanha catástrofe.   O ciclone Nargis foi um “gatilho mental”, disse U Tin Maung Thann, o chefe da Myanmar Egress, uma organização de pesquisa em Yangun que fornece consultoria de políticas ao presidente. “Aquilo fez com que ele percebesse as limitações do velho regime.” Thein Sein também pode ter tido outras compreensões. Como primeiro-ministro por três anos, ele representou Mianmar, a antiga Birmânia, no exterior, diferente de outros altos oficiais da junta que raramente deixavam o país.   Aqueles que acompanharam a ascensão de Thein Sein nas fileiras das forças armadas de Mianmar o descrevem como extremamente leal, mas também mais conciliador do que outros importantes membros da junta. Como chefe do comando do Triângulo, a região no norte de Mianmar repleta de narcotraficantes e lar de várias minorias étnicas, Thein Sein foi lembrado como “menos cruel” do que outros homens que ocuparam o mesmo cargo, disse Khuensai Jaiyen, editor de uma organização de notícias a respeito do grupo étnico shan. “Se você perguntar às pessoas daqui de qual comandante gostaram mais, seria ele”, disse Khuensai por telefone. “Ou, mais precisamente, ele foi o comandante menos odiado pelas pessoas.”   Thein Sein deve sua ascensão nas fileiras das forças armadas ao seu antigo chefe, o general Than Shwe, o ditador que liderou a junta por quase duas décadas, até se aposentar no ano passado. Acredita-se que o general Than Shwe, que era altamente odiado no país por sua supressão das forças democráticas, tenha orquestrado a escolha de Thein Sein para presidente. Um conselheiro diz que a escolha de Thein Sein e o início do processo de reforma foram projetados para permitir ao velho ditador passar discreta e pacificamente à aposentadoria. “Than Shwe está seguro devido às reformas”, disse o conselheiro, U Nay Win Maung, que também foi redator de discursos do presidente. Na mesma conversa, ele ofereceu uma descrição franca de Thein Sein: “Não é ambicioso, não é decisivo, não é carismático, mas é muito sincero”.   As reformas em Mianmar, parafraseando Victor Hugo, foram de certo modo uma ideia cujo momento chegou: o governo de Thein Sein respondeu às ambições e desejos reprimidos das pequenas empresas, monges budistas e cidadãos comuns, que sofreram sob a junta e foram em parte inspiradas pela Primavera árabe do ano passado. Mas os analistas dizem que o papel de Thein Sein não deve ser subestimado. O grande avanço de seu governo foi convencer Aung San Suu Kyi, a líder do movimento democrático do país, a retornar ao sistema político, uma decisão que deu a Thein Sein considerável credibilidade em casa e no exterior.   Thein Sein também costuma ser descrito como “limpo”, algo de peso em uma junta militar cleptocrática que distribuía contratos e concessões para amigos e parentes. “Há pessoas que eram próximas dos militares e que o consideravam um dos melhores, que ele não era pessoalmente corrupto”, disse Larry Dinger, que chefiou a missão americana em Mianmar até agosto do ano passado.

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