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O desafio do Ocidente é tentar conter a bomba do Irã e o bombardeio israelense

Ari Shavit

Se o Irã se tornar nuclear, isso mudará o nosso mundo.   Uma bomba atômica iraniana forçaria Arábia Saudita, Turquia e Egito a obterem suas próprias bombas atômicas. Assim, ficaria estabelecida uma arena nuclear multipolar na região mais volátil do planeta. Cedo ou tarde, esse desdobramento sem precedente resultaria em um evento nuclear. O mundo como o conhecemos deixaria de existir depois de Teerã, Riad, Cairo ou Tel Aviv se tornarem a Hiroshima do século 21.   Uma bomba iraniana provocaria uma proliferação nuclear universal. A maior realização da humanidade desde 1945 foi controlar o armamento nuclear por meio da limitação do número de membros no clube nuclear exclusivo. Esse arranjo injusto criou uma ordem mundial que garantiu a relativa paz mundial.   Mas se o Irã se tornar nuclear e o Oriente Médio se tornar nuclear, o mesmo acontecerá com o Terceiro Mundo. Se os aiatolás puderem ter o brinquedo mortal de Robert Oppenheimer, toda potência emergente na ásia e na áfrica se sentirá no direito de tê-lo. A ordem mundial que por 60 anos garantiu a paz mundial ruiria.   Uma bomba atômica iraniana daria ao Islã radical uma enorme influência. Assim que se tornasse nuclear, o poder xiita ascendente dominaria o Iraque, o Golfo e os preços internacionais do petróleo. Ele espalharia o terror, provocaria guerras convencionais e desestabilizaria os países árabes moderados.   Assim como as ogivas nucleares iranianas ameaçariam Israel, elas também colocariam a Europa em risco. Pela primeira vez, centenas de milhões de cidadãos das sociedades livres viveriam sob a sombra do poderio nuclear de fanáticos religiosos. A união do fundamentalismo supremo com a arma suprema tingiria o mundo em que vivemos em um tom infernal.   Se Israel atacar o Irã, isso mudará nosso mundo.   Um ataque israelense contra as instalações nucleares do Irã criaria a crise internacional mais dramática da era pós-Guerra Fria. Enquanto o Estado judeu e a república xiita trocassem golpes, o Oriente Médio se agitaria. As tensões cresceriam entre China, índia e Rússia pró-iranianos e os Estados Unidos, Reino Unido, França e Alemanha anti-iranianos. Os preços do petróleo subiriam (para US$ 230-US$ 300 o barril), os mercados financeiros entrariam em pânico e a economia mundial experimentaria um verdadeiro revés.   Um ataque israelense contra as instalações nucleares do Irã provocaria uma guerra regional cujas consequências poderiam ser catastróficas. O Irã revidaria com tudo que tem: Hizbollah, Hamas, mísseis Shahab, surpresas estratégicas. O Irã bloquearia o Estreito de Hormuz e convocaria todos os muçulmanos em seu auxílio. Apesar de que a maioria dos regimes árabes apoiaria em segredo a operação israelense, as massas árabes poderiam se levantar.   Por todo o mundo, milhões de muçulmanos veriam o ataque ao Irã como um ataque contra sua própria dignidade e orgulho. A luta religiosa provocada pela ação israelense poderia durar décadas.   Um ataque israelense contra instalações nucleares do Irã poderia arrastar os Estados Unidos para a guerra. Israel tem poder aéreo limitado. As cidades israelenses são ameaçadas por 200 mil foguetes. Se uma contraofensiva iraniana incendiasse Tel Aviv e matasse milhares de civis israelenses, os Estados Unidos se sentiriam obrigados a intervir. Em vez de iniciarem um ataque cirúrgico bem planejado e com apoio internacional contra o projeto nuclear do Irã, os Estados Unidos se tornariam reféns de uma guerra israelense-iraniana fora de controle. Após saírem da lama iraquiana e enquanto tentam sair do deserto afegão, os Estados Unidos se veriam atolados em um conflito altamente carregado e caro com a República Islâmica.   A questão internacional chave enfrentada pelo Ocidente nos primeiros 12 anos do século 21 tem sido o Irã. O principal desafio estratégico da última década tem sido como prevenir duas ameaças: a bomba (iraniana) e o bombardeio (israelense). Mas o Ocidente fracassou em tratar do desafio a tempo.   Por anos, ele cometeu todos os erros possíveis. Primeiro, o presidente George W. Bush se concentrou no Iraque, em vez do Irã. Então o presidente Barack Obama perdeu tempo precioso com diplomacia inútil. O Reino Unido e a França tentaram o melhor que puderam, mas a União Europeia fez corpo mole até passar a uma ação decisiva. As sanções econômicas que deveriam ter sido adotadas há dez anos foram implantadas apenas no ano passado.   As sanções debilitantes que deveriam ter sido impostas em 2005 ainda não foram impostas. A diplomacia assertiva não foi seriamente buscada quando poderia ter sido eficaz. A solução política criativa nunca foi realmente explorada. A liderança ocidental não endossou uma estratégia de terceira via abrangente, engenhosa, consistente e dura que poderia impedir a bomba e o bombardeio.   Agora, nós estamos testemunhando uma mudança. Assustados com a perspectiva de um ataque israelense iminente, os tomadores de decisão e os líderes de opinião nos Estados Unidos e na Europa passaram a se concentrar no Irã. Na semana passada, o Irã foi cortado da rede SWIFT de transferências bancárias. Em julho, todos os países da União Europeia deixarão de comprar petróleo iraniano.   Mas tudo isso é muito pouco, tarde demais. Em nove meses os iranianos estariam imunes a um ataque aéreo israelense. No Natal, Israel perderia a capacidade militar de impedir uma bomba xiita. Ao ver sua existência ameaçada, o Estado judeu se sentiria obrigado a agir.   Assim, o verão (no hemisfério norte) de 2012 agora parece ser o verão da última oportunidade. Se nos próximos meses sanções debilitantes não forem impostas contra o Irã e Israel não conseguir garantias substanciais para assegurar seu futuro, qualquer coisa poderá acontecer. Poderia se tornar o inferno na Terra.   Se o Ocidente não agir da forma apropriada neste último momento, ele em breve poderá enfrentar as terríveis consequências de sua própria impotência.

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