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Europa precisa ser mais dura com os palestinos; trata-se de falar o que necessitam ouvir

David Makovsky *

  • Mohammed Abed/AFP

    10.jun.2013 - Garotos palestinos participam de treinamento militar em acampamento de férias do Hamas, em Gaza

    10.jun.2013 - Garotos palestinos participam de treinamento militar em acampamento de férias do Hamas, em Gaza

O comunicado final da cúpula do G-8 na semana que vem, na Irlanda do Norte, invariavelmente mencionará a paz no Oriente Médio, talvez apoiando os esforços do secretário de Estado dos Estados Unidos, John Kerry, de ressuscitar as negociações de paz. De qualquer modo, qualquer declaração será prontamente esquecida assim que a cúpula terminar. Todavia, a Europa pode ajudar Kerry. Vale a pena lembrar que, pouco antes da cúpula do G-8 há dois anos, o presidente Obama fez um importante discurso sobre o Oriente Médio, um que incluiu uma expressão importante de "amor duro". Ali estava o presidente dos Estados Unidos, o tradicional benfeitor de Israel, dizendo que a base para as negociações territoriais deveria ser trocas de terras tendo como base as fronteiras que existiam antes da guerra de 1967 --um pedido repetido neste ano por uma delegação da Liga árabe. Por delinear os termos territoriais de um acordo de paz, o discurso de Obama não foi popular junto ao primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu. Nem foi bem-recebido nos Estados Unidos, onde um proeminente republicano, Mitt Romney, acusou Obama de ter "empurrado Israel na frente de um ônibus". Os democratas também não deram muito apoio. Obama obteve aplausos iniciais dos europeus, mas depois apenas silêncio. Infelizmente, o quarteto de mediadores de paz no Oriente Médio --os Estados Unidos, União Europeia, Rússia e o secretário-geral da ONU-- nunca apoiou adequadamente o discurso do presidente. Após muitas minutas em meados de 2011, Moscou ajudou a invalidar qualquer declaração de apoio devido a aspectos do discurso que sentia não serem suficientemente do agrado dos palestinos. O quarteto nunca se recuperou. Ele não é mais uma força diplomática, apesar de seu emissário especial, o ex-primeiro-ministro do Reino Unido, Tony Blair, estar envolvido nas ações econômicas e de governança favoráveis em apoio aos palestinos. é hora de um discurso europeu unificado, um que seja análogo ao discurso de Obama. Se o presidente dos Estados Unidos disse aos israelenses coisas que eles não queriam ouvir, a União Europeia, tradicionalmente benfeitora dos palestinos, precisa lhes dizer o que eles precisam ouvir. Esse discurso daria a Kerry uma chance de ter sucesso, apesar de não uma garantia. Ele diria ao presidente palestino, Mahmoud Abbas, que ele não conta com carta branca da Europa, que a paciência da UE com os palestinos tem limites. Também diria aos israelenses que as cartas não estão marcadas contra eles na comunidade internacional. é difícil para os europeus argumentarem que os palestinos esgotaram as negociações, dado que Abbas concordou apenas com três semanas de negociações nos últimos quatro anos, e que uma oferta em setembro de 2008, pelo então primeiro-ministro de Israel, Ehud Olmert, nunca recebeu uma resposta. Para dar às negociações de paz do Oriente Médio uma nova chance, aqui estão algumas coisas que um discurso europeu precisa dizer: A única forma de se obter o Estado palestino é por meio de negociações diretas, incondicionais, com Israel. O conselho de ministros da União Europeia disse isso em um comunicado diplomático, mas não declarou de modo tão direto aos palestinos. A ONU está disposta a endossar um Estado, mas o Conselho de Segurança bloqueou isso no passado, e o ingresso na Unesco não suspenderá o controle israelense da Cisjordânia. Os palestinos devem tentar as negociações. A estrada para o Estado passa pela paz. Tanto judeus quanto árabes têm um ligação histórica com as terras e, portanto, elas devem ser compartilhadas. Qualquer refugiado palestino pode ir para o novo Estado da Palestina, mas não para a Palestina e Israel. Israel não está errado em insistir em arranjos rígidos de segurança. A segurança não está subordinada a qualquer acordo. Assim como o mundo precisa solidarizar com a situação difícil dos palestinos, ele também precisa ver a situação de segurança pelos olhos de Israel. Na fronteira de Gaza e do Egito, túneis foram usados para contrabandear foguetes para Gaza, que foram repetida e indiscriminadamente disparados contra cidades israelenses. é incontestável que aspectos da Resolução 1701 do Conselho de Segurança da ONU, que pede pelo embargo de armas ao Hizbollah depois da guerra no Líbano em 2006, nunca foram implantados. Além disso, os pacificadores internacionais não podem ser a única base para segurança --como demonstrado pela recente decisão da áustria de se retirar das Forças das Nações Unidas de Observação da Separação entre as forças israelenses e sírias. Em conversas privadas, muitos diplomatas europeus concordam com muitos desses pontos. Mas nenhum líder europeu demonstrou a coragem de Obama de endossá-los publicamente. Talvez seja hora de os europeus pararem de se queixar sobre a falta de sucesso americano no Oriente Médio. A questão não é a identidade do mensageiro, mas sim da necessidade de uma mensagem unificada.

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