Ônibus de caravana são atacados a tiros. "Querem matar Lula", diz Gleisi
Bernardo Barbosa
Do UOL, em Laranjeiras do Sul (PR)
Dois ônibus da caravana do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) pela região Sul foram atingidos nesta terça-feira (27) por tiros no caminho entre as cidades paranaenses de Quedas do Iguaçu e Laranjeiras do Sul, em uma aparente tentativa de emboscada. Lula estava em um outro veículo que não foi atingido. Ninguém ficou ferido.
Segundo integrantes da comitiva, um dos veículos foi atingido por três tiros e o outro, por um. A reportagem do UOL encontrou ao menos uma perfuração, aparentemente feita por balas, em cada um dos ônibus.
O ônibus que transporta parte da imprensa que acompanha a viagem foi o atingido por três disparos, dois do lado direito e um do lado esquerdo, de acordo com passageiros. Neste, um dos vidros foi atingido por um objeto que deixou uma marca arredondada --segundo integrantes da comitiva, possivelmente uma bala que ricocheteou no local.
Dois pneus deste mesmo ônibus foram perfurados por ganchos pontiagudos de metal, conhecidos popularmente como "miguelitos", deixados em uma estrada por onde a comitiva passou.
A presidente do PT, senadora Gleisi Hoffmann (PT-PR), o líder do PT na Câmara, deputado federal Paulo Pimenta (PT-RS), e o coordenador da caravana, Márcio Macedo, cobraram providências dos governos federal e estadual.
"Querem matar o ex-presidente Lula", disse Gleisi mais tarde, em ato ao lado do petista. "Tivemos polícia em alguns eventos, em alguns momentos, mas não temos segurança em relação à caravana (...) Não é grupo de oposição política, é milícia armada. Peço que as autoridades não esperem um cadáver para saber a gravidade das coisas que estão acontecendo desde o Rio Grande do Sul".
Segundo Gleisi, um boletim de ocorrência será feito e uma perícia vai ser pedida. Ela garantiu que a caravana continua. A viagem está prevista para acabar amanhã com ato público em Curitiba.
Pimenta disse já ter informado o ministro da Segurança Pública, Raul Jungmann, sobre o ocorrido. Macedo, por sua vez, mencionou a "turma do Bolsonaro" ao falar do ataque, e disse que qualquer coisa que vier a acontecer com a caravana será de responsabilidade do presidente Michel Temer (MDB) e do governador do Paraná, Beto Richa (PSDB).
Em nota enviada à imprensa à noite, a ex-presidente Dilma Rousseff (PT) condenou o que chamou de "atentado" contra Lula e disse que a tentativa de "intimidar" o petista e sua comitiva, "com tiros e agressões, é inaceitável". Não estamos mais nos anos 50 do século passado, ou na ditadura militar, quando a eliminação física de adversários políticos era uma constante no Brasil e na América Latina. Essa prática não pode ser tolerada. Tais ataques não vão intimidar democratas e militantes políticos", afirmou Dilma.
Não ficou claro, ao menos neste primeiro momento, quem teria sido responsável pelo ataque.
Jungmann chama ataque de "inaceitável"; Secretaria nega pedido de escolta
Em entrevista, o ministro da Segurança Pública, Raul Jungmann, classificou como "inaceitável" o ataque à caravana. "É absolutamente inaceitável que aconteça, parta de quem partir. Isso não é convivência democrática. Isso não pode acontecer, e se acontecer é preciso identificar os responsáveis porque não pode se repetir dentro do regime democrático", disse o ministro.
Ele informou que a Polícia Federal não irá investigar o caso porque o crime não foi federal e cabe às autoridades estaduais atuar. "Caberá à investigação estabelecer se foi ou não (um atentado político)", disse.
Em comunicado oficial, a Secretaria da Segurança Pública e Administração Penitenciária do Paraná afirmou que uma equipe de policiais civis da delegacia de Laranjeiras do Sul foi enviada ao local. "Será feita uma perícia no ônibus e se constatado um disparo de arma de fogo será aberto um inquérito policial para apurar os fatos", diz o texto.
A pasta disse ainda que a PM (Polícia Militar) do Paraná reforçou o policiamento nos locais de manifestação pré-determinados junto à comitiva do ex-presidente, mas que não houve pedido de escolta por parte de Lula.
O PT rebateu a informação da Secretaria e encaminhou à imprensa cópias de ofícios enviados pelo partido a autoridades estaduais e federais solicitando segurança para a caravana. "A Secretaria de Segurança Pública do estado do Paraná mente para omitir sua responsabilidade no atentado sofrido hoje pela caravana do ex-presidente Lula", disse o partido, em nota. "O PT pediu sim ao governo do Estado que providenciasse toda segurança à caravana".
"Campanha falando de ódio"
Em seu primeiro ato público após a divulgação do ataque, em um assentamento do MST em Laranjeiras do Sul, Lula desafiou os responsáveis pelo crime. "Pode atirar pedra. Deem tiro no ônibus como deram hoje. Se pensam que com isso vão acabar com a minha disposição em lutar, estão enganados", disse.
"Essa caravana minha está sendo perseguida por fascistas, por grandes proprietários de terra", declarou. "Se eles acham que fazendo isso vão nos assustar, não vão nos assustar. Vai motivar a gente a fazer muito mais coisa, porque não podemos permitir que depois do nazismo e do fascismo a gente permita grupos fanáticos no Brasil".
O ex-presidente afirmou ainda que "não tinha em conta o que está acontecendo no Brasil", o que classificou como uma campanha de ódio que, na avaliação dele, teria sido "consagrada na campanha do Aécio [Neves, do PSDB] contra a Dilma [Rousseff, do PT]" em 2013.
"Resultou numa campanha falando em ódio toda hora", disse. "Só queremos andar pelo Brasil e discutir os problemas do Brasil. Estamos dispostos a discutir com quem quer que seja", afirmou ainda o ex-presidente.
O ex-presidente dedicou a maior parte de seu discurso a temas diversos, como a sua pré-candidatura à Presidência; a defesa de sua inocência no caso do tríplex, da Operação Lava Jato; a promessa de uma reforma agrária; e críticas à intervenção federal no Rio, dizendo que "antes de levar o Exército, tem que levar saúde, educação, cultura".
A caravana de Lula pelo Sul, que se encerra nesta quarta (28) em Curitiba, foi alvo de protestos em quase todas as cidades pelas quais passou. Em algumas situações, a comitiva foi alvo de pedras e ovos atirados por militantes antipetistas. Em Cruz Alta (RS), quatro mulheres apoiadoras do PT foram atacadas por opositores. Nesta segunda (26), um segurança da caravana agrediu um repórter que cobria os eventos.
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