Datafolha: mulheres são minoria em votos dos 'polêmicos' Ciro e Bolsonaro
Daniela Garcia
Do UOL, em São Paulo
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Arte/UOL
Jair Bolsonaro (à esq.) e Ciro Gomes
Além das declarações polêmicas, os pré-candidatos à Presidência Jair Bolsonaro (PSL) e Ciro Gomes (PDT) têm outro ponto em comum na disputa eleitoral. Por enquanto, o eleitorado de ambos é majoritariamente masculino, conforme apontou pesquisa Datafolha divulgada no último domingo (10).
Nos quatro cenários de pesquisa estimulada, os dois postulantes ao Palácio do Planalto têm maior aprovação dos homens. Foram feitas 2.824 entrevistas entre 6 e 7 de junho, em 174 municípios.
Entre os cinco pré-candidatos mais bem posicionados, o deputado federal Bolsonaro (RJ) tem a maior diferença entre os sexos. Ciro e Marina Silva (Rede-AC) vêm logo em seguida, com o ex-governador do Ceará tendo preferência maior dos homens e a ex-senadora, das mulheres.
Na situação em que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) está no páreo, homens que apoiam Bolsonaro representam 23%, enquanto mulheres são 11%. No caso de Ciro Gomes, o eleitorado masculino se refere a 8%, e o público feminino é de 5%.
Para Mauro Paulino, diretor-geral do Datafolha, é evidente que Bolsonaro tem uma maior diferença entre mulheres e homens do que Ciro. Contudo, ele diz que a oscilação do pedetista também é significativa. "Não fica dentro da margem de erro", pontua.
O Datafolha atestou ainda que as mulheres representam a maioria dos votos brancos/nulos e de indecisos. No primeiro caso, elas são 20% contra 13% do eleitorado masculino. Já as entrevistadas que ainda não sabe em quem vão votar são 6% e homens ficam com 5%.
"A série histórica mostra que as mulheres decidem o voto mais tarde e essa eleição também deverá ser assim", comenta Paulino.
Declarações polêmicas
Tanto Ciro como Bolsonaro, segundo Paulino, fizeram discursos que contribuíram para que as mulheres os rejeitem.
Ele cita a campanha de Ciro ao Planalto em 2002, na qual o político declarou que a então mulher Patrícia Pillar tinha o papel crucial de "dormir com ele". "A declaração repercutiu muito e o fez cair nas pesquisas", lembra o diretor-geral.
Ciro foi lançado oficialmente como pré-candidato do PDT justamente no Dia da Mulher neste ano. A escolha da data teve o propósito de diminuir o ruído da declaração do passado, segundo aliados.
Na ocasião, o pré-candidato disse ser "feminista", mas admitiu a gafe. "Fiz uma piada de extremo mau gosto com a mulher da minha vida, o amor da minha vida, e uma pessoa que tenho respeito intelectual, além do amor extremo e, por isso, pedi desculpas imediatamente."
Já em relação a Bolsonaro, o discurso de defesa do armamento e da pena de morte é o que o distancia do eleitorado feminino, na avaliação de Paulino. "Há mais homens que concordam com esse discurso radical do que mulheres", diz.
Bolsonaro também virou alvo de críticas de mulheres após um bate-boca em 2014 com a deputada Maria do Rosário (PT-RS). O deputado disse, na ocasião, que não a estupraria porque ela não merece.
Pela declaração, o pré-candidato é réu no STF (Supremo Tribunal Federal) sob acusação de incitação ao estupro. "O emprego do vocábulo 'merece' (...) teve por fim conferir a este gravíssimo delito, que é o estupro, o atributo de um prêmio, um favor, uma benesse à mulher, revelando interpretação de que o homem estaria em posição de avaliar qual mulher 'poderia' ou 'mereceria' ser estuprada", diz parte do acórdão da 1ª turma do Supremo ao acolher em 2016 a denúncia.
Outro lado
Procurada, a campanha de Ciro Gomes não quis comentar os números da pesquisa referentes ao eleitorado feminino, por considerar que a diferença entre homens e mulheres está dentro da margem de erro.
Aliado de Bolsonaro e presidente do PSL em São Paulo, o deputado Major Olímpio afirmou que o presidenciável foi vítima de interpretações equivocadas em suas declarações sobre as mulheres.
"Ao longo do tempo, as falas dele foram descontextualizadas. O verdadeiro Bolsonaro não tem nenhuma antipatia ou preconceito contra as mulheres". Para o deputado, os adversários tentam desconstruir o colega.
Olímpio afirma que não haverá uma "estratégia especial" para atrair o eleitorado feminino. "Não vamos contratar mulheres para dizer que gostam do Bolsonaro. Ele vai continuar a ser um candidato verdadeiro", afirmou.
Marina desponta entre as mulheres
Na contramão dos adversários, a ex-senadora Marina Silva desponta na preferência do eleitorado feminino. Entre os seus apoiadores, a maioria é mulher (11%), enquanto homens representam 8%.
Já Lula e o ex-governador de São Paulo Geraldo Alckmin (PSDB) têm um eleitorado equilibrado entre os sexos.
O Datafolha aponta Lula com 30% das intenções de voto. Nos cenários em que o petista está ausente, o deputado Jair Bolsonaro mantém a liderança da corrida presidencial com 19% das preferências. Marina aparece com até 15% das intenções de voto. Ciro que oscila entre 10 e 11%, e Alckmin, que tem 7%, estão tecnicamente empatados. Eleitores sem candidato somam 34% no cenário sem Lula.