Não é só ideologia. O que move os presidenciáveis em busca de alianças

Ana Carla Bermúdez e Daniela Garcia

Do UOL, em São Paulo

  • Lula Marques/Folhapress

A 47 dias do prazo final para registro das candidaturas, no dia 15 de agosto, os pré-candidatos à Presidência intensificam o diálogo com outros partidos para fechar possíveis coligações.

A definição do TSE (Tribunal Superior Eleitoral) para uma coligação partidária é "a união de dois ou mais partidos com vistas na apresentação conjunta de candidatos a determinada eleição". As alianças, no entanto, não revelam apenas concordância programática ou ideológica. Entre as razões por que os partidos avançam na corrida por aliados, estão um maior tempo de propaganda política na TV e no rádio, visibilidade nos estados e governabilidade após a eleição.

"Há partidos diferentes do ponto de vista ideológico que fazem coligação e isso mostra um certo pragmatismo, porque eles pensam em somar forças e deixam a questão do programa de governo para depois", diz Ricardo Ismael, cientista político da PUC-RJ. Ele aponta que, após o processo eleitoral, é comum que a coligação se amplie para que sejam aprovados projetos e emendas constitucionais no Congresso.

Paulo Silvino Ribeiro, cientista político e professor da Fesp-SP, lembra que é comum o "toma lá, dá cá" das alianças. "O partido apoiador pode, em uma eventual vitória, cobrar algo em troca. Uma secretaria, um ministério, algum apoio dessa natureza", afirma.

"Você leiloa demais os cargos e abre mão da qualidade de ministros", diz Lilian Andrade, cientista política da FGV-SP. "Essa divisão de cargos seria absolutamente aceitável se fosse para construir a melhor equipe de governo, mas do jeito que a gente faz é loteamento, em vez de escolher a melhor pessoa para determinado ministério".

Alianças atrás de tempo de TV e visibilidade

Entre os objetivos principais pelos quais os partidos buscam alianças, segundo os especialistas, está o tempo de TV e rádio. "[A televisão] é a propaganda que chega principalmente ao eleitor de baixa renda", afirma Ricardo Ismael.

Do total de tempo disponível para propaganda gratuita na TV e no rádio, 90% são distribuídos de forma proporcional ao número de cadeiras conquistadas por cada partido na Câmara dos Deputados na eleição anterior, e 10% são divididos igualmente entre as siglas. Para essa conta, são consideradas as mudanças de filiação que acontecerem até a data da convenção de cada partido.

"Se eu tenho um partido que é pequenininho, mas se junta a um partido que já é grande, ou um partido mediano e vários pequenininhos se juntam a ele, eu vou ter a soma disso tudo", diz Ribeiro. "E isso, evidentemente, pode fazer com que, na próxima eleição, esse partido que era pequenininho já seja um partido mediano".

Mesmo assim, o professor diz acreditar que, nestas eleições, o diferencial pode ser o investimento dos partidos e coligações em outras mídias. "Das últimas eleições para cá, o que a gente vê é que tem contado mais a exposição do candidato e das suas ideias nas redes sociais de modo geral", afirma.

A visibilidade do candidato e do partido Brasil afora é, inclusive, outro ponto pelo qual as siglas buscam alianças.

"Em um país como é o nosso, muito grande, você não consegue cobrir todos os estados. Por exemplo, em 1994 o Fernando Henrique [Cardoso] fez aliança com o PFL [atual DEM], porque o PFL era forte no Nordeste e o PSDB não era tanto assim. Então, há uma estratégia de tentar montar uma repercussão no nível dos estados", diz Ismael.

Alianças "em construção"

Diferentemente das eleições municipais de 2016, o período total de campanha neste ano será menor. Em vez de 90 dias, serão 45. A redução acabou adiando o acordo entre as coligações.

Até o momento, os principais presidenciáveis que despontam nas pesquisas são Luiz Inácio Lula da Silva (PT), Jair Bolsonaro (PSL), Marina Silva (Rede), Ciro Gomes (PDT) e Geraldo Alckmin (PSDB). Por enquanto, apenas Alckmin declara publicamente ter feito aliança com PV, PTB, PPS e PSD. Nos bastidores, o tucano procura se aliar ao DEM, que, por enquanto, tem o deputado Rodrigo Maia (RJ) como pré-candidato ao Planalto. O Solidariedade, que tem Aldo Rebelo (AL) como presidenciável, é outro na mira.

"Nossas alianças não são formadas só para ganhar as eleições, mas também para governar, se formos eleitos, com o apoio e a estabilidade necessários para fazer rapidamente as reformas de que o Brasil precisa. Isso é fundamental. Estamos conversando com partidos mais próximos do centro político, distante dos extremismos tão prejudiciais à união da população", disse Geraldo Alckmin, em nota enviada à reportagem.

DEM e Solidariedade também são alvos de Ciro Gomes, que tem falado abertamente sobre seu interesse em reunir o maior número possível de partidos em torno de sua candidatura. Na semana passada, ele se encontrou com líderes dos partidos em Brasília. De maneira reservada, aliados do pedetista afirmam que também pretendem se coligar com PRB e PP.

Sob a justificativa de uma "hegemonia moral e intelectual", o ex-governador do Ceará afirmou que PSB e PCdoB estariam entre as legendas preferidas para a composição de centro-esquerda. A sigla comunista conta com a deputada estadual Manuela D'Ávila (RS) como a pré-candidata ao Planalto.

Sem candidato próprio à Presidência, o PSB tem sido cobiçado pelo PSDB, PT, além do PDT. Defensor do aval do PSB a Alckmin, o governador de São Paulo, Márcio França concordou que será muito difícil para o partido tomar uma decisão antes de julho. "A disputa vai ser voto a voto na convenção, mas também pode haver neutralidade", disse.

O PT também negocia a união nacional com os socialistas, mesmo que para isso tenha de sacrificar a candidatura da vereadora petista Marília Arraes ao governo de Pernambuco.

O Partido dos Trabalhadores busca ainda o apoio de outros partidos de centro-esquerda, como o PCdoB e o PSOL. Apesar de terem seus próprios candidatos à Presidência, as alianças não deixam de ser cogitadas ainda para o primeiro turno. Há resistência dentro do PT para a negociação com legendas que apoiaram o impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff em 2016.

À reportagem, o PT afirmou que procura construir suas alianças políticas e eleitorais com base nos temas abordados no Manifesto "Unidade Para Reconstruir o Brasil". O documento, lançado em fevereiro pelas fundações partidárias do PCdoB, PDT, PSOL e do próprio PT, diz que "independentemente das estratégias e táticas eleitorais do conjunto das legendas progressistas, uma base programática convergente pode facilitar o diálogo que construa a união de amplas forças políticas, sociais, econômicas e culturais".

Porta-voz da Rede, Pedro Ivo, diz que há conversas avançadas com os nanicos PMN, PHS e Pros. A pré-candidata da Rede, Marina Silva, não conseguirá reeditar a coligação com o PSB de 2014 e também já recebeu a negativa do PPS. Ciente das poucas chances de montar uma coligação forte, Marina já admite que terá que se esforçar para superar o baixo tempo de campanha na TV, menos de 10 segundos.

Até o momento, Bolsonaro só está em conversas com o PR. Mas a definição deve ficar para o fim de julho. Assim como Marina, o vice-líder das principais pesquisas de intenção de voto - atrás apenas de Lula - deverá ter tempo escasso na TV, mas tem declarado não se importar em fazer alianças. O foco de Bolsonaro é o público atingido pelas redes sociais.

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