"Não dá mais": Marina Silva critica Temer em 1º discurso como candidata

Gustavo Maia

Do UOL, em Brasília

Candidata à Presidência da República pela terceira vez consecutiva, a ex-senadora e ex-ministra Marina Silva, 60, afirmou neste sábado (4) que tem o projeto "mais preparado" e que sua candidatura é a que está "em melhores condições de unir o Brasil". Em discurso de cerca de 50 minutos, ela relembrou o ex-governador de Pernambuco Eduardo Campos (PSB), morto durante a campanha eleitoral de 2014, e criticou o governo de Michel Temer (MDB).

A candidatura dela foi oficializada por aclamação durante convenção nacional da Rede, em Brasília, na véspera do prazo final para que os partidos definam quem vai disputar as eleições desse ano.

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Elevando o tom do discurso, Marina criticou os métodos do governo do presidente Temer. "Foi essa fórmula [de governar] que levou o Brasil para o fundo do poço. E se ela se repetir, vai levar o Brasil para um poço sem fundo", declarou. "Não dá mais para ter dois pesos e duas medidas compactuando com a corrupção", acrescentou.

"Não dá mais para ser marcado para morrer na fila do SUS porque não consegue marcar um exame, um atendimento digno". "Não dá mais, não dá mais, não dá mais", gritou repetidamente, sendo acompanhada em coro e com batucadas pelo público presente.

"Ontem ficamos todos chocados com aquela situação que vimos nos veículos de televisão [imagens da advogada morta no Paraná sendo agredida pelo marido]. A indignação é legítima, e se não formos capazes de dialogar com a ela, as pessoas vão manifestá-las em descaminhos", declarou, em referência indireta a eleitores do presidenciável Jair Bolsonaro (PSL).

"Temos que saber acolher essa indignação", afirmou Marina, acrescentando que "a má política que tem sabotado o futuro do Brasil".

Já no fim do discurso, Marina defendeu uma reforma política que acabe com a reeleição e estabeleça um mandato presidencial de cinco anos a partir das eleições de 2022. "Eu terei apenas quatro anos", afirmou.

Ela destacou ainda a necessidade de fazer mudanças na legislação trabalhista sancionada no ano passado e de aprovar reformas tributária e da Previdência, "dialogando com a sociedade e com o Congresso".

Marina citou seu companheiro de chapa em 2014, Eduardo Campos. "Em 2014, perdemos o Eduardo Campos, uma tragédia [...] E não tem como assumir esse lugar, se empoderando desse lugar, sorrindo, [...] como se fosse uma oportunidade."

A presidenciável disse ainda que não existe em sua trajetória política como cristã católica, "que sempre foi", e de cristã evangélica, "que hoje é", qualquer atentado contra o Estado laico e o direito dos brasileiros.

"Eu sou especialista em frestas", declarou Marina, citando dois episódios de sua juventude: a alfabetização aos 16 anos e a primeira ida ao médico, aos 15 anos, com hepatite, quando era indigente. "Não era menor do que a fresta que agora temos", apontou.

A candidata se disse disposta a oferecer na campanha a face da verdade, do trabalho, da esperança e da união, e não a da mentira, da preguiça, da ilusão e do ódio. Afirmou também que não atacaria seus adversários na disputa, mencionando Ciro Gomes (PDT), Geraldo Alckmin (PSDB) e Jair Bolsonaro (PSL).

"A postura vai derrotar o mecanismo, as estruturas. O povo brasileiro não vai ser submetido aos centrões de esquerda, de direita, de centro. Quem tá no centro é o povo brasileiro", concluiu, aos gritos.

Questionada em entrevista coletiva sobre que estratégia pretende adotar para superar a deficiência estrutural de sua campanha, Marina disse que pretende "continuar sendo coerente" e que o povo brasileiro vai suprir o que está faltando.

Marina se negou a apontar quem ou que situação eleitoral considera seu maior adversário, dizendo que nesse momento o importante é escolher os aliados.

No seu discurso, Marina fez questão de celebrar o encontro entre a Rede e o Partido Verde. A presidenciável exaltou a "nova forma de caminhar juntos" e disse que a aliança "é programática e não pragmática", e que não firmada por dinheiro ou por tempo de televisão.

Marina disse ainda que é uma pessoa movida à fé e à determinação. "Fé, para remover as montanhas que eu não tenho como escalar. Determinação, para não ter que transferir pela fé as montanhas que a gente precisa subir", afirmou.

Questionada sobre se estava disposta a apoiar algum candidato na segunda etapa das eleições caso fique novamente pelo caminho, a candidata disse que querer discutir o segundo turno apenas quando este acontecer.

Já sobre possível aliança com Ciro, externou o "respeito e amizade pessoal" que tem com o candidato do PDT e disse estar dialogando com aqueles que não foram pegos no "doping da corrupção", como ele e o senador Alvaro Dias (Podemos), por exemplo.

Ao lado de Marina, Eduardo Jorge defendeu a inclusão do sistema parlamentarista como uma das propostas do plano de governo da chapa, assim como o modelo de voto distrital misto.

Ele também defendeu que o Brasil discuta a possibilidade de adotar uma renda mínima universal, "discussão que está acontecendo em várias partes do mundo".

Do Acre à terceira candidatura presidencial

Nascida em Rio Branco, no Acre, Maria Osmarina Marina Silva Vaz de Lima disse ter vindo de "um Brasil profundo, da Amazônia". Ela é professora de história e foi vereadora de 1989 a 1990, deputada estadual de 1991 a 1994 e senadora de 1995 a 2011. Ambientalista, ela integrou o ministério de Lula entre entre 2003 e 2008.

No início de sua fala, ela agradeceu a Deus por estar em "uma festa tão bonita, com tantas pessoas, com tantas responsabilidades e compromissos para mudar o Brasil".

Essa será a primeira vez que Marina concorrerá pela Rede Sustentabilidade, legenda que fundou em 2013, mas só conseguiu registrar no TSE (Tribunal Superior Eleitoral) dois anos depois.

Em 2010, depois de se desfiliar do PT, no qual esteve por 23 anos, ela disputou a eleição presidencial pelo PV e obteve 19,6 milhões de votos, ficando em terceiro lugar.

No pleito seguinte, em 2014, ela entrou no PSB para ser vice na chapa de Eduardo Campos, do mesmo partido, mas assumiu o posto de candidata depois que ele morreu em um acidente aéreo, em agosto daquele ano.

Marina chegou a liderar as pesquisas de intenção de voto durante o processo eleitoral, mas foi alvo de ataques da ex-presidente Dilma Rousseff (PT) e terminou o primeiro turno novamente na terceira colocação, com pouco mais de 22 milhões de votos.

No segundo turno, a ex-ministra do Meio Ambiente do governo do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) apoiou o senador e candidato do PSDB, Aécio Neves.

Nas mais recentes pesquisas eleitorais, a presidenciável tem aparecido em terceiro lugar nos cenários em que o petista é testado, atrás também do candidato do PSL, o deputado federal Jair Bolsonaro (RJ). Em levantamentos do Ibope e do Datafolha, Marina teve de 7% a 15%, em diversos cenários.

Divulgado nesta semana, estudo da CNI sobre levantamento do Ibope apontou que a candidata da Rede é quem mais herda votos de Lula, que está preso desde abril e deve ser declarado inelegível pelo TSE.

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