Ciro se diz "envergonhado" por apoio de irmãos a Eunício e cria saia justa

Carlos Madeiro

Colaboração para o UOL, em Maceió

  • Reprodução/Facebook

O apoio dos irmãos de Ciro Gomes à candidatura à reeleição do presidente do Senado, Eunício Oliveira (MDB), causou um racha político na família Ferreira Gomes no Ceará e criou uma saia justa à campanha no Estado. O candidato à Presidência pelo PDT disse estar com "vergonha" da aliança e que se recusará a subir no palanque em que Eunício estiver.

"Eu não voto. Eu me sinto envergonhado com essa contradição. Respeito porque na vida pública é assim que acontece, mas tenho vergonha desse momento", disse Ciro em entrevista ao jornalista Carlos Mazza, do jornal "O Povo", após ato de campanha na noite do último sábado (18), em Fortaleza.

Ciro é conhecido pelos duros ataques a Eunício, a quem já chamou de "picareta", "ladrão", entre outros adjetivos --e que resultaram, inclusive, em pelo menos 37 processos judiciais contra o candidato à Presidência.

O MDB de Eunício não está na mesma coligação do governador e do candidato à reeleição Camilo Santana (PT) e do ex-governador e candidato ao Senado Cid Gomes (PDT), mas é o "segundo voto" declarado da chapa. Além deles, outro irmão de Ciro --o prefeito de Sobral, Ivo Gomes-- declara voto e faz elogios a Eunício.

O apoio causou um problema de palanque, já que Ciro diz que não subirá em nenhum com Eunício. "Eu já disse que essa foto minha com Eunício em qualquer palanque até o fim da minha vida ninguém terá", completou Ciro.

Posturas diferentes

Entre os irmãos há uma certa diferença de postura. Ivo Gomes é mais explícito e disse que seu município tem recebido "apoio muito forte" de Eunício. "Voto nele com tranquilidade, está fazendo muito por nós", disse.

Apesar de estar na coligação, Cid evita declarar apoio a Eunício. Em sua página no Facebook, por exemplo, não há menção ao nome de Eunício, e a rede social é usada para pedir votos para ele, para seu irmão Ciro, e para Camilo Santana.

Entretanto, Cid faz campanha ao lado de Eunício. Em Sobral, na quinta-feira (16), o ex-governador se deixou fotografado servindo e tomando café com Eunício em um boteco da sua cidade natal.

Em entrevista à radio "Tribuna" no último dia 9, Cid disse que votará e recomendou voto em "homenagem" ao governador Camilo Santana, dizendo que seria "melhor para o povo cearense. 

Já na sua página, Eunício destaca o apoio de Cid. Nessa segunda-feira (20), postou com destaque em sua página do Facebook uma foto apertando a mão de Cid, durante convenção que homologou a candidatura de Camilo Santana à reeleição ao governo do Estado. 

Com a oposição esmagada, Camilo, Cid e Eunício lideram com folga as intenções de voto, segundo pesquisa Ibope divulgada na sexta-feira (17): Camilo aparece com 64% das intenções para o governo, enquanto Cid e Eunício lideram com 55% e 37%, respectivamente.

Costura do governador

Segundo apurou o UOL, a costura para puxar Eunício para o lado governista foi tomada diretamente pelo governador Camilo Santana --inicialmente à revelia dos Ferreira Gomes e do PT nacional. Camilo, ressalte-se, apesar de ser petista, é uma cria dos Ferreira Gomes e sucedeu Cid no governo do Ceará e mostra-se dividido no apoio presidencial a Lula (PT) e a Ciro.

A ideia do governador em atrair Eunício era sufocar a oposição, que enfraquecida lançou o nome do desconhecido General Theófilo (PSDB) --que tem como maior apoio o senador Tasso Jereissati (PSDB).

Em 2014, Eunício foi candidato a governador do Ceará e chegou a ir ao segundo turno contra Camilo com apoio de praticamente toda oposição. À época, ele atacava duramente o então candidato governador e os Ferreira Gomes.

Para trazer Eunício, o PT precisou rifar a candidatura à reeleição do senador José Pimentel, que deixou claro sua insatisfação ao recorrer, junto com outros petistas, à cúpula nacional do PT da decisão. Mas em nome de um "plano nacional", o PT negou o pedido e deixou fora o senador, que optou por não se candidatar em 2018.

Sobre as declarações de Ciro do sábado, Camilo disse que não via problemas e que faz "parte da democracia." Por sua vez, Eunício explicou que o passado de divergências com Camilo Santana foi superado e que a união não é para beneficiar ambos, mas "pelo bem do Ceará" e um "exemplo para o país."

Já Ciro, ainda no sábado, disse que vai buscar um segundo candidato para votar ao Senado. "Não anulo meu voto nunca, vou procurar o melhor que houver... Vou assistir à campanha, vou ver", afirmou.

Receba notícias do UOL. É grátis!

UOL Newsletter

Para começar e terminar o dia bem informado.

Quero Receber

Veja também

UOL Cursos Online

Todos os cursos