Agronegócio tem medo, mas deveria sorrir comigo, diz Marina em fazenda

Luciana Amaral

Do UOL, em Ipameri (GO)

  • Luciana Amaral/UOL

    Marina Silva (Rede) colhe uvas na fazenda Santa Brígida, em Ipameri (GO)

    Marina Silva (Rede) colhe uvas na fazenda Santa Brígida, em Ipameri (GO)

A candidata à Presidência pela Rede, a ex-senadora Marina Silva, afirmou nesta sexta-feira (24) que o agronegócio deve "ficar sorrindo com ela", mas sem abrir mão do desenvolvimento sustentável.

"Às vezes, as pessoas dizem que o agronegócio tem medo de mim. Eu digo que o agronegócio comigo deveria ficar sorrindo, como você [proprietária de fazenda que visitou] sorriu, porque você entende para onde as coisas estão indo", afirmou em visita a uma propriedade rural considerada modelo na chamada produção carbono zero em Goiás – que compensa a emissão de carbono no meio ambiente. 

A visita nesta sexta à fazenda Santa Brígida em Ipameri (cerca de 190 km de Goiânia) foi um aceno da candidata a dois grupos eleitorais importantes, e que costumam ocupar campos opostos: produtores rurais e ambientalistas.

Luciana Amaral/UOL
Marina Silva experimenta uvas na fazenda

Degradada até 2005, a fazenda goiana virou modelo no uso de sistemas de integração lavoura-pecuária-floresta no Brasil. O método tem como objetivos aumentar a produtividade de áreas cultivadas de grãos, carne e de leite, reduzir degradações na natureza, diminuir emissões de carbono e evitar a expansão de lavouras ou pastagens em novos terrenos.

"Sou sustentabilista progressista", diz candidata

Marina Silva focou toda a fala na necessidade de se investir no agronegócio, com o compromisso do desenvolvimento sustentável. Segundo a ex-senadora, o Brasil já conta com tecnologia para produzir mais por hectare sem a abertura de novas terras no cerrado e na Amazônia. O que falta, disse, são políticas públicas que ampliem o acesso dos proprietários rurais a essas técnicas e implementá-las em larga escala.

"Tem coisa que a gente não precisa de inventar a roda. É só botar para girar, dar escala. [...] Nunca fui, digamos, uma ambientalista pelo meio ambiente em si. Eu sou uma sócio ambientalista e, quando me perguntam qual é, se sou de esquerda, centro, de lado, de cima, de baixo, eu digo que estou à frente. Quando pressionam bastante, digo que sou sustentabilista [sic] progressista, porque são os que estão fazendo uma nova síntese do mundo para uma nova economia, relação de pessoas e política em que a gente não tem de se odiar. A gente pode até cooperar", declarou.

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Gado na fazenda Santa Brígida, visitada por Marina

Em discurso para os proprietários rurais presentes, ela defendeu a ampliação da linha de crédito para projetos de baixo carbono no plano Safra do Banco do Brasil, que hoje representam cerca de 1% do total, a ampliação de assistência técnica e o aumento em investimentos na Embrapa (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária) – vinculada ao Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento. Ela criticou propostas de amplas privatizações defendidas por adversários e disse que a Embrapa é fundamental para os resultados positivos alcançados na agropecuária brasileira.

Marina reforçou que sistemas de integração lavoura-pecuária-floresta são o caminho para que o Brasil consiga cumprir metas acordadas para redução de emissão de carbono na Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas de 2009, realizada em Copenhague, também conhecida por COP-15. A fazenda Santa Brígida, por exemplo, não apenas compensa a emissão feita pelo gado, mas até recupera mais do que o despendido com a plantação de eucaliptos em meio ao plantio e ao pasto.

No programa de governo entregue ao TSE (Tribunal Superior Eleitoral), em que dedica mais de sete das 46 páginas ao desenvolvimento sustentável, a candidata ressalta a necessidade de investimentos em infraestrutura para o armazenamento e escoamento da produção agrícola, novos modais de transporte, energia limpa e "desmatamento zero" até 2030.

O setor agropecuário estuda como compensar financeiramente esses créditos e presentes pediram a ajuda de Marina para o tema. "Na hora de vender [esse valor agregado], às vezes a gente peca", lamentou a dona da Santa Brígida, Marize Porto. Marina se comprometeu a discutir a viabilidade da medida.

"É preciso quebrar imagem negativa", diz consultor

O consultor e médico veterinário da fazenda Santa Brígida, William Marchió, falou que é preciso "quebrar essa imagem negativa" do agronegócio em grandes centros urbanos. Como exemplo, citou o fato de técnicas permitirem um salto de rentabilidade líquido na propriedade goiana de menos de R$ 200 por hectare para R$ 3 mil no mesmo espaço.

"É rara a chance que temos como essa de falar para os ambientalistas", afirmou.

Marina ainda criticou projeto de lei em tramitação no Congresso Nacional que facilita a regulamentação de agrotóxicos de uso proibido em outros países. Segundo a candidata, o projeto vai ao desencontro da competitividade brasileira no cenário internacional, pois, quanto melhores as práticas no setor, maior a abertura de mercado para exportações.

"O agronegócio não é homogêneo, não venham generalizar como se todos fizessem errado", ressaltou em determinado momento de fala durante visita.

Maquiagem na estrada e parreiral

A candidata saiu de Brasília por volta das 7h com a comitiva formada por coordenadores de campanha, assessores, equipe de filmagem e maquiador em uma van. A imprensa foi convidada pela comitiva da candidata que viajou em outro veículo idêntico.

O trajeto até Ipameri durou quatro horas, com uma parada em lanchonete ao lado de um posto de gasolina na beira da estrada. O grupo despertou a curiosidade dos funcionários do local, que perguntaram se as pessoas estavam indo para um casamento, pois estavam "maquiando uma moça ali atrás". No caso, Marina Silva.

Na fazenda, Marina conheceu parte do pasto e do gado, além de um parreiral. Ela cortou alguns cachos e experimentou as uvas. Quando solicitada que colocasse um chapéu estilo boiadeiro, recusou com educação, alegando ser seringueira.

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