Bolsonaro é uma ameaça para Brasil e América Latina, diz "The Economist"
Colaboração para o UOL, em São Paulo
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Reprodução
A prestigiada revista britânica "The Economist" traz na capa desta semana o candidato à Presidência Jair Bolsonaro (PSL) e diz que ele é uma ameaça, não só para o país, mas para toda a América Latina.
Em editorial publicado nesta quinta-feira (20) com o título "Jair Bolsonaro, a última ameaça da América Latina", a revista analisa o momento atual do Brasil e afirma que "a economia é um desastre, as finanças públicas estão sob pressão e a política está completamente podre".
A publicação compara o brasileiro, líder nas pesquisas, ao presidente americano Donald Trump e afirma que, "se a vitória for para Bolsonaro, um populista de direita, o Brasil corre o risco de tornar tudo pior".
Procurado pelo UOL para comentar a reportagem da revista inglesa, o presidente em exercício do PSL, Gustavo Bebianno, destacou que o texto afirmou que Bolsonaro "would be" [seria, em português], verbo auxiliar usado na condicional.
"Os outros [candidatos] seriam 'must be' [devem ser]. 'Should be' [deveria ser] seria fraco. É só esse o comentário", declarou Bebianno.
Bolsonaro continua internado após ter sido esfaqueado no dia 6 deste mês, durante ato de campanha em Juiz de Fora (MG).
Bolsonaro, cujo nome do meio é Messias, promete a salvação; na verdade, ele é uma ameaça para o Brasil e para a América Latina
Trecho do editorial da "Economist"
A crise econômica brasileira é um dos fatores apontados pela "Economist" para o crescimento de Bolsonaro nas pesquisas.
"Os populistas recorrem a queixas semelhantes. Economia fracassada é uma delas --e no Brasil a falha foi catastrófica. Na pior recessão de sua história, o PIB encolheu 10% entre 2014 e 2016 e ainda não se recuperou. A taxa de desemprego é de 12%", escreveu a revista. Na capa da publicação está escrito "Bolsonaro presidente" em português.
O editorial cita o guru econômico de Bolsonaro, Paulo Guedes, e lembra que ele estudou nos Estados Unidos. "Ele [Guedes] defende a privatização de todas as empresas estatais brasileiras e a simplificação brutal dos impostos", afirma o texto.
As falas polêmicas de Bolsonaro também foram citadas pela publicação. "Ele tem uma longa história de ser grosseiramente ofensivo. Disse que não iria violentar uma congressista porque ela era 'muito feia' e que preferiria um filho morto a um gay".
Ainda segundo a revista, Bolsonaro tem uma "preocupante admiração pela ditadura" e o compara ao ex-ditador chileno Augusto Pinochet [1915-2006] por misturar autoritarismo e liberalismo econômico.
"Ele pode não ser capaz de converter seu populismo em ditadura ao estilo de Pinochet, mesmo que quisesse. Mas a democracia do Brasil ainda é jovem. Até mesmo um flerte com autoritarismo é preocupante", diz.
Essa não é a primeira vez que a revista inglesa se manifesta sobre a candidatura de Bolsonaro. Sob o título de "Brasília, nós temos um problema", o editorial publicado no começo de agosto já dizia que o militar é um risco à democracia brasileira e seria um presidente desastroso.
"Uma eleição assustadora no Brasil"
Além do editorial, a "Economist" traz uma extensa reportagem sobre a crise política e econômica que vive o Brasil.
Com o título de "Uma eleição assustadora no Brasil", a reportagem lembra que o maior concorrente de Bolsonaro nas eleições é Fernando Haddad (PT), que "lutará para acabar com a percepção de que ele é o fantoche de Lula".
"A eleição presidencial será uma disputa entre o partido de Lula, que é maior responsável pelos traumas mais profundos que o Brasil sofreu desde o fim da ditadura em 1985, e um candidato que representa uma resposta extrema a eles", diz a matéria.
Os traumas citados pela revista são os casos de corrupção investigados pela Lava Jato, a recessão e o aumento da violência no país.
"Essas crises abalaram a fé dos brasileiros na democracia", afirma a reportagem.
A corrupção, aliás, é apontada pela revista britânica como maior razão para a ascensão de Bolsonaro, mas faz um alerta. "Seus instintos autoritários podem enfraquecer ainda mais a democracia brasileira", diz.
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