Bastidores do debate da Globo: Ciro irado, vice barrado e olho na Record

Hanrrikson de Andrade

Do UOL, no Rio

  • AP Photo/Silvia Izquierdo

    4.out.2018 - Marina Silva, Ciro Gomes e Guilherme Boulos antes do início do debate

    4.out.2018 - Marina Silva, Ciro Gomes e Guilherme Boulos antes do início do debate

Se o debate promovido pela Globo nesta quinta-feira (4), o último entre candidatos à Presidência da República antes do primeiro turno da eleição, ficou marcado pela relativa tranquilidade entre os presidenciáveis e ataques ao ausente Jair Bolsonaro (PSL), nos bastidores, a organização teve de correr para conter confusões ao final do encontro.

Ciro Gomes (PDT) deixou os estúdios da Globo furioso com a emissora. De tão bravo, o candidato não esperou nem a caminhada até o local designado para as entrevistas tradicionalmente concedidas após o debate. No meio do caminho, o pedetista parou e confidenciou a jornalistas o motivo de sua indignação: um oficial de Justiça havia entrado em seu camarim para notificá-lo de uma ação na Justiça eleitoral.

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Rapidamente, os profissionais de imprensa o cercaram e a organização do debate teve dificuldade para solucionar a quebra de protocolo. A atitude de Ciro gerou correria entre repórteres, fotógrafos e cinegrafistas. Desolados, os produtores que trabalhavam no debate tentavam, sem sucesso, levar o candidato até o local certo.

Segundo o presidenciável, ele foi notificado de um processo na Justiça eleitoral movido pelo candidato do PSDB ao governo de São Paulo, João Doria, que teria sido chamado por Ciro de "farsante". Há um processo do tucano contra o pedetista na Justiça do Rio por calúnia, difamação e injúria. A ação data de agosto de 2017, mas a intimação a Ciro foi expedida só nesta quinta.

"A Globo colocou o oficial de Justiça dentro do meu camarim. O Doria conseguiu que uma juíza do Rio de Janeiro mandasse o oficial de Justiça agora, uma hora da manhã, no camarim que a Globo deu, e a Globo deixou o cara entrar", esbravejou o presidenciável.

A fúria sobrou até para um repórter da GloboNews, que fez a primeira pergunta da entrevista coletiva. Ciro atacou a Globo, em resposta transmitida ao vivo pelo canal por assinatura.

O pedetista afirmou que à emissora interessava a definição do resultado da eleição já no primeiro turno. "Claro que a Globo gostaria que fosse assim, mas ela felizmente não manda. Tem certa influência, mas não manda", respondeu ele sobre a possibilidade da adoção do voto útil em Jair Bolsonaro, que hoje lidera as pesquisas.

Em nota, a Globo informou que o oficial apareceu de surpresa e que a ele foi dito que esperasse o fim do debate para cumprir a diligência. "A fim de evitar que o episódio fosse explorado politicamente, o oficial foi encaminhado a uma sala reservada, para que lá pudesse realizar a diligência de forma discreta", diz o texto.

De acordo com a nota, "ao final do debate, Ciro, informado da situação, se negou a comparecer à sala em que se encontrava o oficial para receber a citação".

"O oficial de Justiça então resolveu ir ao encontro do candidato, mas foi impedido pelos assessores ou seguranças de Ciro de se aproximar dele. Ciro deixou os Estúdios se negando a receber o documento", termina o texto.

Eduardo Jorge barrado

Conter o nervosismo de Ciro e a correria dos jornalistas não foi a única demanda imprevista pela organização. Outro momento curioso ocorreu quando a candidata da Rede, Marina Silva, tentou levar o vice, Eduardo Jorge (PV), ao local designado para as entrevistas.

A ideia era que Jorge aparecesse junto a Marina frente às câmeras. Mas a produção do debate vetou imediatamente, o que gerou breve constrangimento.

A produção explicou a Marina que nenhum outro candidato havia feito o mesmo --ela foi a última a participar das entrevistas individuais -- e que isso poderia eventualmente ser entendido como favorecimento. A presidenciável reclamou: "Ah, é? Não levaram porque não quiseram", disse ela na tentativa, sem sucesso de convencer uma produtora.

Antes de o debate começar, os esforços da organização foram direcionados a um forte esquema de segurança. Foi montado um ponto de bloqueio na estrada dos Bandeirantes, via que margeia os estúdios da Globo, onde os carros eram parados para identificação.

Em seguida, convidados e jornalistas desembarcavam em um ponto de encontro situado a cerca de 200 metros da entrada do estúdio. Uma van da emissora era responsável pela locomoção até o destino final.

Os bloqueios nos arredores da Globo praticamente inviabilizaram qualquer tentativa de aproximação de manifestantes e curiosos. Segundo profissionais que trabalharam em debates anteriores com presidenciáveis, o esquema desse ano demonstrou maior cautela por parte da organizadora do evento.

Gargalhadas por Alvaro Dias

A maioria dos jornalistas e alguns convidados não tiveram acesso ao estúdio onde ocorreu o debate. A emissora reservou uma sala com telões, onde os concorrentes à Presidência concederam entrevistas coletivas ao fim do evento. À distância, os presentes se manifestavam com surpresa ou risos ao que acontecia no estúdio.

Durante o primeiro bloco, Alvaro Dias (Podemos) provocou gargalhadas entre os presentes em ao menos dois momentos nos quais ele se perdeu nos 30 segundos destinado a perguntas. Isso ocorreu logo no começo do debate, quando o candidato gastou quase todo o tempo para saudar o mediador, William Bonner, e para dizer que entregaria uma carta a Fernando Haddad (PT) para ele levar ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, segundo Alvaro, o verdadeiro candidato do PT nesta eleição.

"Tenho muito prazer em conhecê-lo pessoalmente", disse o candidato do Podemos em tom de ironia e referência ao fato de não ter participado da série de entrevistas com presidenciáveis no principal telejornal da Globo, o Jornal Nacional. "Candidato, eu tenho que interrompê-lo para ser justo", alertou Bonner, levando a risadas dos presentes na sala reservada.

O presidenciável ainda foi orientado por Bonner a se posicionar corretamente no espaço dos candidatos, o que provocou mais risadas. "Você está atrapalhado em relação ao tempo e ao espaço. Você precisa se situar", ironizou Haddad.

O público da sala reservada também reagiu à sucessão da inusitada dobradinha entre Henrique Meirelles (MDB) e Ciro Gomes. Eles se uniram no primeiro, no terceiro e no quarto blocos para debater questões programáticas e também para atacar Jair Bolsonaro.

Em uma dessas ocasiões, Ciro chamou Bolsonaro de mentiroso e mencionou polêmicas recentes relacionadas a declarações do general Hamilton Mourão e do economista Paulo Guedes, que compõem a chapa do candidato do PSL.

Meirelles respondeu na mesma linha, buscando atacar a imagem de Bolsonaro e afirmou acreditar que "o Brasil não vai embarcar" no que chamou de "aventura".

"Queria que estivesse aqui para tirar a máscara dele na frente de todo mundo", comentou Ciro, no primeiro bloco.

Candidatos atacam Bolsonaro

Um olho na Globo, outro na Record

Bolsonaro não foi ao debate desta quinta alegando recomendações médicas. Porém, ele concedeu uma entrevista à Record TV que foi exibida exatamente no mesmo horário em que começou o evento na Globo.

A entrevista foi muito comentada pelos candidatos e também entre os presentes na sala reservada pela emissora. Alguns jornalistas acompanhavam o debate nos telões e, na tela do computador, alternavam com a entrevista de Bolsonaro à Record.

O assunto também foi levantado durante o debate pela candidata da Rede, Marina Silva. Em pergunta a Haddad, ela afirmou que o presidenciável do PSL "mais uma vez amarelou", o que levou à reação da plateia e, consequentemente, repreensão por parte do mediador.

"Eu iria fazer essa pergunta também para o candidato Bolsonaro, que mais uma vez amarelou, deu uma entrevista na Record e não está aqui debatendo conosco", declarou a representante da Rede ao perguntar se Haddad e o PT faziam uma autocrítica em função de erros cometidos durante os governos Lula e Dilma, na visão dela. O candidato petista fugiu da pergunta e, criticado na réplica, respondeu na tréplica que já havia reconhecido erros das gestões do PT em outras entrevistas.

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