Presidente do Senado, Eunício perde no CE e deixará Congresso após 20 anos
Diogo Max
Colaboração para o UOL, em São Paulo
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Renato Costa/FramePhoto/Folhapress
O presidente do Senado, Eunício Oliveira (MDB), 66 anos, deixará o Congresso após duas décadas. Ele foi derrotado nas eleições deste domingo (7), sendo superado por Cid Gomes (PDT), irmão do presidenciável Ciro Gomes (PDT) e ex-governador do Ceará, e Eduardo Girão (PROS).
Eunício esteve na segunda colocação em todas as pesquisas feitas por Ibope e Datafolha durante a campanha, atrás apenas de Cid Gomes. Mas, nesta semana, Girão passou a ganhar votos após declarar apoio ao presidenciável Jair Bolsonaro (PSL) na terça-feira (2). O candidato do PROS é empresário e foi presidente do Fortaleza, time de futebol que hoje disputa a Série B do Campeonato Brasileiro. Neste domingo, ele superou Eunício por apenas 11.974 votos e foi eleito com 17,09% dos votos contra 16,93% do emedebista.
Por sua vez, Cid foi governador do Ceará entre 2007 e 2014 e ex-ministro de Dilma Rousseff. Ele terminou como o mais votado para o Senado, com 3.228.341 votos, equivalente a 41,62% dos votos.
Na disputa pelo governo, Camilo Santana (PT) foi reeleito para um novo mandato. Ele recebeu mais de 79,96% dos votos válidos, com 3.457.368 votos, deixando General Theophilo (PSDB), com 11,30% (488.433 votos), em segundo lugar.
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Com a derrota, o empresário deixa o Congresso após 20 anos. Ele foi eleito pela primeira vez em 1998 para ser deputado federal, sendo reeleito em 2002 e 2006. Neste período, o emedebista foi ministro das Comunicações (entre 2004 e 2005), durante o primeiro governo Lula. Em 2010, elegeu-se senador pela primeira vez. Quatro anos depois, ele concorreu para o governo do Ceará, mas perdeu a disputa no segundo turno para o agora aliado Camilo Santana. Agora, Eunício amarga a sua segunda derrota consecutiva, mas que o deixará longe do poder e sem foro privilegiado.
Eunício é investigado na Lava Jato, citado como suposto beneficiado por propinas da Odebrecht, do grupo J&F e da Galvão Engenharia. Por conta disso, foram abertos inquéritos contra o senador, que ainda estão em trâmite. O senador nega as denúncias. Sem o foro privilegiado, que perderá a partir da posse dos novos senadores em 2019, Eunício terá possíveis julgamentos feitos pela primeira instância e não mais pelo Supremo Tribunal Federal (STF).
Campanha do mal-estar
O resultado do presidente do Senado nas urnas é o capítulo final de uma campanha marcada por situações embaraçosas. O emedebista fez alianças informais com PT e PDT no Ceará e, apesar de não entrar na coligação do governador Camilo Santana (PT), o MDB ficou com a segunda vaga "informal" da chapa para o cargo. Assim, a situação causou mal-estar na família Gomes, dos irmãos Cid e Ciro. Ivo, prefeito de Sobral, apoiou declaradamente o presidente do Senado. Cid relutou no começo, mas posteriormente fez manifestações públicas recomendando o voto no emedebista.
A decisão revoltou Ciro, que é um desafeto declarado de Eunício e se recusou a subir no mesmo palanque do emedebista. O pedetista não poupou críticas ao senador, a quem chamou de "picareta" e "ladrão". Outro mal-estar foi provocado com o PT, que abriu mão de uma candidatura próprio ao Senado para liberar o caminho para reeleição do emedebista – o senador José Pimentel teve de desistir do sonho de se reeleger.
Em troca, o governador foi favorecido com a retirada de uma candidatura do MDB para o cargo e a campanha de Camilo ainda recebeu doação de R$ 600 mil do presidente do Senado. O montante representa 14% do total arrecadado por Camilo, segundo dados divulgados até sexta-feira (5) no DivulgaCandContas, site do TSE (Tribunal Superior Eleitoral) que registra informações de candidatos.
Para demonstrar sua aliança informal com o PT, Eunício declarou seu voto em Fernando Haddad em setembro e encontrou-se com o petista quando o presidenciável visitou o Ceará durante a campanha. Assim, o emedebista abdicou de apoiar o candidato do próprio partido à Presidência, Henrique Meirelles, na tentativa de aproximar-se do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, preso em Curitiba (PR).
O problema é que, em 2016, o presidente do Senado votou pelo impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff, sendo rotulado de "golpista" por parte dos petistas. Aos críticos, ele respondeu ser defensor de Lula, mas não das práticas do partido, e disse que teve de seguir a orientação do MDB no caso do impeachment da ex-presidente.
"Sempre foi lulista, mas nunca petista"
Eunício Oliveira, em entrevista à rádio O Povo/CBN, em 2 de outubro
Oficialmente, o emedebista aliou-se nestas eleições ao PHS, Avante, Solidariedade, PSD, PSC, Podemos e PRB, motivo pelo qual foi proibido pelo TRE (Tribunal Regional Eleitoral) de usar as imagens de Lula, Cid e Haddad em seus programas eleitorais. A justiça eleitoral teve de ordenar que o presidente do Senado removesse da propaganda imagens com os três políticos, além de determinar que o material de propaganda contendo fotos com Lula e Eunício fossem apreendidos de seu comitê.
Investigado na Lava Jato
Durante a campanha, o presidente do Senado viu também um ex-executivo da Galvão Engenharia denunciá-lo por supostamente ter cobrado propina de R$ 1 milhão em troca de obras contra seca, em um acordo de delação homologada pelo STF (Supremo Tribunal Federal). O emedebista negou as acusações e afirmou que se trata de um falso testemunho. Ele disse ainda que vai processar o acusador e que as doações ao então PMDB foram aprovadas pela justiça eleitoral.
Eunício também é investigado pela operação Lava Jato. Ele foi citado como um dos beneficiados em uma suposta propina de R$ 7 milhões paga a políticos do MDB pela Odebrecht. O fato foi revelado em acordo de delação por Marcelo Odebrecht e outros cinco executivos da empreiteira. O senador ainda foi mencionado como beneficiário de propina dada pelo grupo J&F. O presidente do Senado desmentiu as duas acusações.
Patrimônio de quase R$ 90 milhões
Segundo homem mais rico no Senado, Eunício possui um patrimônio declarado de quase R$ 90 milhões. Ele é formado em administração de empresas e ciências políticas pelo Centro Universitário de Brasília (CEUB).
Para a candidatura, ele recebeu R$ 3,3 milhões do fundo partidário, gastando R$ 1,8 milhão. A maioria das despesas de campanha está relacionada à propaganda de rádio e TV (65%) e na confecção de bandeiras (18%), de acordo com o TSE.
Na campanha, Eunício mesclou a divulgação de conquistas dos oito anos em que foi senador e o anúncio de promessas principalmente para a educação. Ele prometeu levar mais faculdades para o interior do estado e ampliar a quantidade de creches, escolas de tempo integral e escolas técnicas no Ceará. Porém, o resultado não deu certo e o senador deixará o Poder Legislativo depois de duas décadas.