Empresa que Witzel disse estar inativa organizou evento em março
Gabriel Sabóia e Rodrigo Mattos
Do UOL, no Rio
-
José Lucena/Futura Press/Estadão Conteúdo
23.out.2018 - Witzel participa de debate promovido por SBT, UOL e Folha de S.Paulo
A empresa HW Witzel Produções e Participações, de propriedade do candidato a governador do Rio Wilson Witzel (PSC), realizou um seminário em março deste ano. O candidato omitiu de sua declaração de bens à Justiça Eleitoral esta e outra empresa --a justificativa para isso era a inatividade delas.
Criada em outubro de 2017, quando o candidato ainda era juiz federal, a HW Witzel tinha como finalidade a organização de palestras na área de direito. Tem como sócios Wilson Witzel e sua mulher Helena Witzel, que é a administradora. Seu capital social é de R$ 100 mil.
O UOL revelou que esta empresa não foi incluída na declaração de bens do candidato à Justiça Eleitoral --ele informou possuir apenas uma casa no valor de R$ 400 mil no Grajaú, bairro da zona norte carioca. Na ocasião, a assessoria de imprensa de Witzel justificou-se: "a empresa não está em funcionamento, e o patrimônio não foi integralizado." Mas, quatro meses antes do anúncio da candidatura de Witzel, a empresa realizou um seminário no centro do Rio.
O evento
Em janeiro, foi anunciado pela ABF (Academia Brasileira de Filosofia) o seminário "Eleições 2018: sistematização jurídico-política e inovações" a ser realizado em março. Entre os coordenadores do congresso, está Wilson Witzel. A empresa responsável pela produção do evento é a HW Witzel. No anúncio do seminário, o e-mail da empresa é informado como contato para potenciais patrocinadores.
Em nota, Witzel afirma que "o evento foi realizado na Academia Brasileira de Filosofia, com inscrição gratuita e sem qualquer pagamento aos palestrantes, sendo o local cedido pela ABF. Ou seja, não houve o recebimento de nenhum valor".
O seminário teve o apoio de um instituto de pesquisa, de uma associação de direito eleitoral, da faculdade cristã, entre outros. Foi realizado no dia 19 de março na própria ABF. Ou seja, ocorreu pouco depois de Witzel ter se desligado do cargo de juiz, o que ocorreu no final de fevereiro.
Desembargador entre os palestrantes
Entre os palestrantes, estava o desembargador Herbert Cohn, do TRE (Tribunal Regional Eleitoral). Durante o período eleitoral, o desembargador se declarou suspeito para não participar de julgamento de acusação contra Witzel de propaganda eleitoral antecipada --o candidato recebeu uma multa.
Nesta quinta-feira (25), Cohn entrou com uma notícia-crime contra o candidato Eduardo Paes (DEM), adversário de Witzel, acusando o ex-prefeito carioca de difamação por usar em sua campanha uma foto de Witzel com o desembargador e o advogado Luiz Carlos Azenha, que já defendeu o traficante Nem, ex-chefe do tráfico na Rocinha. No programa eleitoral, Paes apontou que Witzel e Azenha tinham relação próxima.
O desembargador Cohn votou em 2017 pela manutenção do mandato do governador Luiz Fernando Pezão (MDB), que enfrentava acusação de caixa dois. Mais tarde, a investigação da Operação Cadeia Velha, desmembramento da Lava Jato no Rio, mostrou que Pezão pediu ao deputado estadual Jorge Picciani, que cumpre prisão domiciliar, para atuar para manter Cohn no cargo.
Sobre a presença do desembargador no evento, a assessoria de Witzel diz que "ele estava presente como outros desembargadores e juízes, de acordo com seus conhecimentos sobre os temas apresentados".
Procurado pela reportagem nesta quinta, o TRE ainda não respondeu aos questionamentos em relação à participação do desembargador no evento. O UOL também procurou Cohn ontem e nesta sexta (26) no seu escritório, por meio de telefone informado no CNA (Cadastro Nacional dos Advogados), mas ele não foi encontrado. A reportagem também encaminhou pedido de manifestação por meio da assessoria do TRE.
Receba notícias do UOL. É grátis!
Veja também
- Witzel paga Google para se associar a Bolsonaro, que não o apoia
- Witzel nega "falcatrua" em instrução de juízes para acúmulo de gratificação
-
- Ex-juiz, Witzel recebeu auxílio-moradia apesar de ter casa no Rio
- "Eu não fiquei surpreso", diz Wilson Witzel após virada em eleição no Rio
- Witzel discursou no ato em que placa destruída de Marielle foi exibida
- "Vai curtir a vida em NY" e "Pediu para sair": as frases do debate no RJ