Etchegoyen lamenta Haddad não telefonar para Bolsonaro, que não cita Haddad
Tânia Monteiro
Brasília
A área militar recebeu com alívio a vitória de Jair Bolsonaro. O ministro-chefe do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), general Sérgio Etchegoyen, resumiu o sentimento dos militares em relação à divisão que se impôs no País nos últimos tempos, trazendo enormes prejuízos a todos. "As fake news não contavam com a fortaleza das true news", declarou o ministro ao Estado, que esteve no Palácio da Alvorada, ao lado do presidente Michel Temer, acompanhando as apurações das eleições e a manifestação dos candidatos eleitos e derrotados.
A cúpula militar criticou ainda o fato de o candidato do PT, Fernando Haddad, que perdeu nas urnas, não ter ligado para Bolsonaro para cumprimentá-lo. "É lamentável, é muito ruim. No mínimo é falta de educação e falta de respeito com os 55 milhões de eleitores que votaram em Bolsonaro", desabafou o ministro-chefe do GSI, também resumindo discurso de vários oficiais-generais ouvidos pela reportagem. "Não podemos esquecer que o Brasil escolheu um pra governar e outro para liderar a fiscalização, o que compromete ambos com os eleitores e com o futuro do país", declarou ele, acrescentando que neste momento, "todos têm de trabalhar pela prosperidade, pelo bem comum, pela pacificação e pensarem no Brasil", prosseguiu.
Outros oficiais-generais destacaram que o ato de Haddad mostra claramente quem tem o verdadeiro espírito antidemocrático, do qual acusavam Bolsonaro. Lembram ainda que, em qualquer lugar do mundo, o perdedor, em um gesto tradicional da democracia, liga para o vencedor para cumprimentá-lo e Haddad não fez isso. "Ele teve 45% do votos. Uma pessoa com esse tipo de sentimento como quer liderar uma oposição sem ter um gesto de grandeza? Não sabe perder", comentou um outro general quatro estrelas. "Com isso, Haddad vai alimentar o ódio entre as pessoas que votaram nele, o que não é correto", completou o militar.
Foi sugerido a Bolsonaro que ele, em seu discurso da vitória, dirigisse a palavra ao seu opositor, em um gesto pela pacificação. O presidente eleito, no entanto, não aceitou o conselho e não citou Haddad ou o PT. Preferiu usar seu discurso lembrando a imagem do Duque de Caxias, o patrono do Exército, como pacificador do Brasil.
Apesar de o placar ser inferior ao esperado inicialmente, a avaliação é de que o resultado foi fruto os últimos acontecimentos. Para os militares, contribuíram decisivamente para a perda de votos os últimos dias, a pressão das fake news, o discurso radical de Bolsonaro no domingo passado para os apoiadores que estavam na Paulista prometendo varrer a oposição do País, além da divulgação da fala do deputado Eduardo Bolsonaro de que bastavam um soldado e um cabo para fechar o Supremo Tribunal Federal. "Tudo isso atrapalhou muito", comentou um general ouvido pela reportagem. Outro militar salientou que embora a votação tenha sido "expressiva" e não deixe dúvida sobre a rejeição do País a tudo que o PT representa, neste momento, se não tivessem perdido estes votos, Bolsonaro chegaria ainda mais forte ao governo e enfraqueceria ainda mais a oposição.
Embora considerem que, nos primeiros dias possa haver "muito barulho" entre os militantes os militares acreditam que em pouco tempo as coisas irão se acomodar porque a rejeição da população ao jeito do PT agir ficou claro no recado das urnas. Por isso mesmo, entendem que não deverá haver confrontos nas ruas.
Os militares ouvidos não se cansam de ressaltar sempre que Jair Bolsonaro não era o candidato desejado para o País e sabem das dificuldades que ele enfrentará para governar. Salientam, no entanto, que Bolsonaro era a única opção viável no momento e daí a ideia de que todos os esforços têm de ser feitos para ajudar o seu governo a dar certo. Isso, no entanto, não passa por qualquer tipo de intromissão das Forças Armadas no governo, e vice-versa. Os militares torcem pelo sucesso da gestão Bolsonaro também porque, embora ele esteja há quase 30 anos no Congresso, a sua origem de capitão reformado e o fato de ele ter como vice, um general de Exército, Hamilton Mourão, levará para as Forças Armadas o ônus se algo der errado.