Economista, político, general e fiel escudeiro: os homens de Bolsonaro

Mariana Schreiber

Da BBC News Brasil em Brasília

A força eleitoral de Jair Bolsonaro (PSL) no primeiro turno, quando obteve 46% dos votos válidos, gerou uma onda crescente de adesão de última hora de políticos e empresários, mas o núcleo duro de seu futuro governo deve ser ocupado por quatro aliados que se aproximaram do candidato antes de sua campanha decolar nas pesquisas.

Os principais nomes que despontam como integrantes fortes na nova administração são o economista Paulo Guedes, que comandará um Ministério da Fazenda turbinado; o deputado federal Onyx Lorenzoni (DEM-RS), que chefiará a Casa Civil; o general da reserva Augusto Heleno, apontado para o Ministério da Defesa; e Gustavo Bebianno, presidente do PSL e fiel escudeiro de Bolsonaro - ele ainda não tem função definida, mas é cotado para o Ministério da Justiça.

A promessa de Bolsonaro é reduzir o número de ministérios de 29 para 15. Há pouca definição sobre a composição total da Esplanada.

Conheça melhor quem são os homens fortes que orbitam em torno de Bolsonaro.

Onyx Lorenzoni, o articulador

Um dos mais ferrenhos opositores ao PT na Câmara dos Deputados e apoiador de primeira hora da candidatura de Bolsonaro, o deputado federal reeleito Lorenzoni deve ocupar o cargo de ministro-chefe da Casa Civil no novo governo.

Contrariando a orientação do seu partido, que no primeiro turno apoiou a candidatura de Geraldo Alckmin (PSDB), o parlamentar gaúcho é articulador da campanha do presidente eleito desde 2017. Há cerca de um ano, começou a realizar jantares em sua casa em Brasília a fim de atrair outros parlamentares e construir uma frente suprapartidária de apoio ao capitão reformado.

Lorenzoni, de 64 anos, é médico veterinário e iniciou sua atuação política como dirigente de entidades da categoria no Rio Grande do Sul. Ele é sócio do Hospital Veterinário Lorenzoni onde, por mais de 20 anos, atuou como clínico e cirurgião de pequenos animais.

Após dois mandatos como deputado estadual, chegou em 2003 à Câmara Federal, quando se tornou amigo de Bolsonaro. Chegaram a ser colegas de partido por um período. "É um pouco radical, tem umas ideias de que eu discordo, mas é uma pessoa que respeito. Liderei o Bolsonaro quando fui líder do Democratas em 2008. Comigo, ele foi nota dez", disse em entrevista de abril de 2017 ao portal Congresso em Foco.

Assim como o novo presidente, o parlamentar batalhou na Câmara pela flexibilização do Estatuto do Desarmamento e pela aprovação do impeachment de Dilma Rousseff (PT). Defendeu que seu partido não assumisse cargos no governo Michel Temer (MDB), mas a posição acabou vencida.

No final de 2016, ganhou destaque como relator do projeto de lei elaborado pelo Ministério Público que ficou conhecido como Dez Medidas Contra a Corrupção. À sua revelia, a proposta acabou desfigurada no texto final aprovado na Câmara e, depois, empacou no Senado.

Apesar de sua postura incisiva pela moralidade na administração pública e na política, foi citado na delação premiada da JBS como receptor de R$ 200 mil para caixa dois eleitoral. Lorenzoni preferiu admitir que havia recebido recursos não declarados para cobrir gastos de campanha, segundo ele em valor menor, de cerca de R$ 100 mil, mas afirmou que não houve contrapartida a essa doação, nem dinheiro público envolvido.

Após essa revelação, ele tatuou no braço o versículo bíblico: "Conhecereis a verdade e a verdade vos libertará".

"Por que eu tatuei isso? Para nunca mais errar", disse em entrevista a uma rede de TV de Cachoeira do Sul (RS).

"Entre carregar uma mancha que me macularia pela vida toda, eu resolvi ter uma cicatriz", acrescentou.

Paulo Guedes, o superministro

O economista liberal Guedes - que ficou conhecido na campanha como "Posto Ipiranga" por ser a referência para qualquer questão econômica levada a Bolsonaro - deve assumir um super-Ministério da Fazenda, previsto para incorporar também as pastas do Planejamento, da Indústria e Comércio, além da secretaria que hoje cuida de concessões e privatizações.

A fusão faz parte da promessa do presidente eleito de reduzir o número de ministérios de 29 para 15. Guedes é um fervoroso defensor da redução do tamanho do Estado e promete zerar o rombo das contas da União de mais de R$ 100 bilhões em apenas um ano, com ajuda de um amplo programa de privatizações.

O economista já declarou que gostaria de vender todas as estatais, sem restrições, mas Bolsonaro quer preservar as que considera "estratégicas", como Petrobras, Banco do Brasil e Caixa Econômica.

"Mais Brasil e menos Brasília", resumiu em artigo do ano passado, com críticas à "concentração de poder político e recursos financeiros no governo federal".

Carioca, nascido em 1949, Guedes deixou o Brasil nos anos 1970 para fazer doutorado sobre política fiscal na Universidade de Chicago (EUA), referência no ensino de economia liberal. De lá saíram os chamados Chicago Boys, grupo de economistas que atuou no governo do ditador chileno Augusto Pinochet (1973-1990).

A convite de um deles, Jorge Selume, Guedes de tornou professor da Universidade do Chile no início dos anos 1980, segundo perfil da revista Piauí.

Logo, porém, retornou ao Brasil, onde desenvolveu carreira no mercado financeiro e na área de educação. Chegou a dar aulas na PUC e na FGV e presidiu o Ibmec, uma escola de negócios. Fundou, em 1983, o banco Pactual, hoje BTG Pactual, do qual já se desligou. Foi sócio de outras gestoras de recursos e hoje é presidente da Bozano Investimentos, posto que deixará para integrar o novo governo.

Segundo jornais brasileiros, o Ministério Público Federal instaurou no início do mês uma investigação para apurar se Guedes teria cometido gestão fraudulenta ao administrar R$ 1 bilhão captado em 2009 junto a fundos de pensão estatais e investido em dois fundos da gestora BR Educacional. A defesa do economista negou qualquer ilegalidade e disse que a investigação "é uma afronta à democracia cujo principal objetivo é o de confundir o eleitor".

A aproximação com Bolsonaro ocorreu no final de 2017, quando o então pré-candidato subia nas pesquisas, mas ainda estava longe de despontar como favorito. O economista, porém, já enxergava o potencial vitorioso do agora presidente eleito e passou a externar isso em artigos. Os textos atraíram a atenção de Bolsonaro, que precisava de um interlocutor para conquistar a confiança do mercado financeiro - a estratégia funcionou.

General Heleno, o linha dura

O general da reserva Augusto Heleno Ribeiro quase foi candidato a vice-presidente de Bolsonaro no lugar do general Hamilton Mourão, mas a intenção acabou frustrada por contrariar a estratégia eleitoral do seu partido, o PRP. Em entrevista ao Jornal Nacional logo após o primeiro turno, Bolsonaro chegou a se referir duas vezes ao seu vice erroneamente como "Augusto".

Heleno, que é general de quatro estrelas (general de Exército, no topo da hierarquia), deve assumir o comando do Ministério da Defesa, substituindo o general Joaquim Silva e Luna. Antes deste, a pasta criada pelo presidente Fernando Henrique Cardoso sempre havia sido comandada por civis.

O futuro ministro se formou na Academia Militar das Agulhas Negras com o primeiro lugar na turma de cavalaria em 1969, oito anos antes, portanto, que Bolsonaro. Tornou-se conhecido do grande público ao ser nomeado o primeiro comandante militar da Missão das Nações Unidas para a Estabilização no Haiti (Minustah), liderada pelo Brasil, cargo que ocupou de 2004 a 2005.

Depois, assumiu, em setembro de 2007, o Comando Militar da Amazônia (CMA), um dos postos mais prestigiosos do Exército. Menos de dois anos depois, porém, foi removido após chamar a política indigenista do governo Lula (2003-2010) de "caótica" e dizer que a demarcação contínua da reserva Raposa-Serra do Sol era uma "ameaça à soberania nacional".

"Demarcações de terras indígenas baseiam-se em laudos antropológicos forjados. Os índios seguem abandonados e servem como massa de manobra de interesses escusos de ONG estrangeiras", afirmou, quando já estava aposentado, em entrevista a uma pesquisa da USP.

Encerrou sua carreira no Exército no burocrático Departamento de Ciência e Tecnologia, de onde saiu em 2011. No discurso de despedida, elogiou o golpe militar de 1964 ao se referir à memória do pai, que também serviu às Forças Armadas: "Lutastes, em 1964, contra a comunização do país e me ensinastes a identificar e repudiar os que se valem das liberdades democráticas para tentar impor um regime totalitário, de qualquer matiz".

Após deixar o Exército, onde chegou a chefiar o Centro de Comunicação Social, enveredou para a área de mídia. Foi consultor de segurança e assuntos militares da TV Bandeirantes e também dirigiu a Comunicação e a Educação Corporativa do Comitê Olímpico Brasileiro.

É apontado como conselheiro de Bolsonaro na área de segurança e, assim como ele, defende que os policiais tenham poder para executar criminosos armados. "Eu vou ter morto sim, mas vou ter morto do lado certo", afirmou em entrevista a rádio BandNews no início do ano.

Gustavo Bebianno, o escudeiro

Gustavo Bebianno, atual presidente do PSL, é figura recente no entorno de Bolsonaro, onde ascendeu rapidamente como um dos principais interlocutores do futuro presidente. Admirador do militar reformado, o advogado carioca de 54 anos começou a procurá-lo com insistência a partir de 2015 e passou a assessorá-lo juridicamente de forma voluntária em 2017. Em suas falas públicas, fica clara sua devoção ao novo presidente.

"Poucas pessoas conhecem o coração de Jair Bolsonaro e sua capacidade de enfrentar desafios, sua resiliência. (...) Na convivência do dia a dia, a minha admiração só se fez aumentar. Hoje posso dizer que sou, de forma hétero, apaixonado por Jair Bolsonaro", discursou em julho, no lançamento oficial da candidatura.

Embora repita com frequência que nunca foi politizado ou que tenha gostado de política, participou da negociação que selou a entrada de Bolsonaro no PSL em janeiro deste ano para disputar a eleição. Foi destacado, então, para assumir a presidência do partido no lugar de seu fundador, Luciano Bivar, de onde conduziu a vitoriosa campanha ao Planalto.

Quando o então candidato levou uma facada, no início de setembro em Juiz de Fora (MG), seu fiel escudeiro foi parar dentro do centro de cirurgia em que Bolsonaro estava sendo operado, junto com Carlos, um dos filhos do presidente eleito.

A expectativa, agora, é que Bebianno devolverá o comando do PSL a Bivar e exercerá algum cargo de relevo no novo governo. Seu nome tem sido aventado para o Ministério da Justiça, pasta que perdeu relevância no governo Michel Temer com a criação do Ministério da Segurança Pública, mas o convite não foi confirmado.

Antes de despertar para a política, foi diretor jurídico do Jornal do Brasil e sócio do escritório de advocacia Sergio Bermudes, um dos mais tradicionais do Rio. É formado em direito pela PUC-Rio e mestre em finanças pela Universidade de Illinois (EUA).

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