Lula é "o responsável maior" pelo escândalo no Ministério dos Transportes, diz analista
O principal responsável pela presença do ministro dos Transportes, Alfredo Nascimento, do PR (Partido da República), no governo federal é o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, na avaliação de Roberto Romano, professor de Ética e Política da Unicamp (Universidade Estadual de Campinas). Para o analista, Dilma sabia do risco que corria ao manter Nascimento no cargo, mas teve que aceitá-lo em prol da governabilidade.
“Tudo indica que a Dilma, que foi ministra-chefe da Casa Civil, sabia do risco que corria mantendo ele no cargo, mas o responsável maior é o ex-presidente Lula, que para garantir a presença do PR na base aliada fez quase um apelo público para que a Dilma mantivesse o Nascimento”, afirma Romano.
Nascimento renunciou ao cargo nesta quarta-feira (6) após uma série de denúncias de corrupção na pasta. Na avaliação do analista, o escândalo remete a um problema estrutural da política brasileira, que obriga os governos a distribuir cargos a outros partidos para manter a governabilidade.
“Desde o final da ditadura Vargas os governos tiveram que se submeter ao Congresso Nacional. A questão é estrutural. O presidente é obrigado a se render ao Congresso ou a comprar os parlamentares com cargos e verbas. Se decidir impor a sua vontade, fica isolado. É um mal estruturante do presidencialismo à moda brasileira”, diz Romano.
Na opinião do cientista político David Fleischer, da UnB (Universidade de Brasília), a queda de Nascimento foi positiva para o governo Dilma, já que abre a possibilidade de o PR perder força. Segundo o analista, a presidente acertou ao não sair em defesa do ministro e daqui para frente “se livra das pressões do PR”.
“A Dilma deixou ele pendurado, sujeito a investigações. Ela não o demitiu e deixou a imprensa liquidá-lo”, afirma Fleischer. Para o analista, a imagem do governo será bem menos afetada do que no caso Palocci. “Com o Palocci a Dilma deixou rolar muitas semanas. No caso do Alfredo Nascimento ela agiu rápido, direito, mandou demitir os quatro envolvidos nos escândalos e deixou o ministro à mercê da imprensa”, diz.
Os dois mais cotados para assumir a pasta têm perfil técnico, o senador Eduardo Braga (PMDB-AM) e o engenheiro petista Hideraldo Caron, que trabalhou com Dilma no Rio Grande do Sul. A nomeação de outro integrante do PR para o Ministério dos Transportes é improvável, segundo o especialista, embora haja uma pequena possibilidade do senador ruralista Blairo Maggi ser nomeado.
O nome de Paulo Sérgio Passos, secretário-executivo do Ministério, que ficará interino no cargo de ministro até o final do mês, também ganha força. Passos tem perfil técnico, como prefere Dilma, e é ligado ao PR.
Futuro do PR
O PR é um partido de médio porte, com sete senadores e 42 deputados federais, e pode ser o fiel da balança em votações na Câmara. Para Fleischer, o destino do partido é incerto. “O PR não vai para a oposição, porque se não morre de vez. É um tipo de partido comensal do governo. Vamos ver com a bancada do PR vai se comportar nas votações no Congresso. De repente a posição do partido pode definir algumas votações apertadas."
Romano prevê que o partido passe a chantagear o governo, ameaçando obstruir votações por exemplo.
O analista acredita ser fundamental dar continuidade às investigações dentro do Ministério dos Transportes e diz que a Polícia Federal tem mais de descobrir as irregularidades do que a Corregedoria-Geral da União.
Fleischer afirma ainda que corrupção sempre esteve no DNA do Ministério dos Transportes, desde o governo militar, passando pelas gestões de Itamar Franco e Fernando Henrique Cardoso e agora de Dilma Rousseff. “É uma relação viciada entre o poder público e o setor privado. São grandes obras e um cartel de empreiteiras por trás”, diz.
Escândalo
O Ministério dos Transportes divulgou nota na tarde desta quarta-feira (6) para afastar a hipótese de que o ministro Alfredo Nascimento (PR-AM) teria sido demitido do cargo. Nesta quarta-feira (6), em Brasília, o clima no Congresso era de que Nascimento não tinha mais condições de ocupar o cargo por conta da divulgação de supostos esquemas de corrupção em sua pasta.
O comunicado do Ministério diz que dos Transportes diz que Nascimento tem “determinação de colaborar espontaneamente para o esclarecimento cabal das suspeitas” e vai “encaminhar requerimento à Procuradoria-Geral da República pedindo a abertura de investigação e autorizando a quebra dos seus sigilos bancário e fiscal”. A nota diz ainda que o ex-ministro reassumirá sua vaga de senador e a presidência de seu partido, o PR (Partido da República).
O caso
No último sábado (2) a revista “Veja” relatou suposto esquema de propinas no Ministério dos Transportes que beneficiariam o PR –partido ao qual pertence o ministro Alfredo Nascimento e que comanda a pasta desde o governo Lula.
Segundo a revista, o esquema envolveria o Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit) e a Valec –órgãos submetidos ao Ministério dos Transportes. No sábado mesmo, a presidente Dilma Rousseff afastou quatro dirigentes da cúpula do Ministério, incluindo Luís Antônio Pagot, diretor-geral do Dnit e José Francisco das Neves, diretor-presidente da Valec. Os outros afastados são Mauro Barbosa da Silva, chefe de gabinete de Nascimento, e Luís Tito Bonvini, assessor do gabinete do ministro.
A situação de Nascimento se agravou nesta terça. O jornal “O Globo” divulgou caso em que o Ministério Público investiga suposto enriquecimento ilícito do filho do ministro, Gustavo Morais Pereira, de 27 anos. Segundo a reportagem, o patrimônio de sua empresa, a Forma Construções, aumentou 86.500% em dois anos beneficiando-se, supostamente, do esquema no Ministério.
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