PM que acusa ministro do Esporte de irregularidades não aparece para prestar esclarecimentos
O policial militar João Dias, pivô das acusações contra o ministro do Esporte, Orlando Silva, não apareceu para prestar depoimento na Comissão de Fiscalização Financeira e Controle da Câmara dos Deputados, que estava previsto para a tarde desta quarta-feira (26).
O ministro, que nega todas as acusações, deve deixar o cargo ainda hoje. “Os últimos acontecimentos esvaziaram o motivo do meu comparecimento na audiência”, afirmou Dias em carta enviada à comissão. No documento, o PM reitera que foi vítima e que entregou às autoridades competentes as provas que tinha.
O motorista Célio Soares, que disse à revista “Veja” que entregou em mãos dinheiro para o ministro, também não compareceu à audiência. De acordo com a assessoria parlamentar da comissão, ele não foi localizado para receber o convite, que também foi enviado por telegrama.
O advogado do ministro, Antônio Carlos de Almeida Castro, que está presente na sessão, afirmou que o não comparecimento dos dois é "um desrespeito".
Depois de mais de uma semana de ataques, sua situação ficou ainda mais fragilizada depois que o Supremo Tribunal Federal (STF) aceitou ontem pedido do Ministério Público para a abertura de inquérito para investigar as irregularidades.
Delator de ministro também é réu
A convocação do policial militar para falar sobre as supostas fraudes no programa Segundo Tempo, do ministério do Esporte, foi proposta pelo deputado da oposição Antonio Carlos Magalhães Neto (DEM-BA).
Na última segunda-feira (24), o policial depôs novamente à Polícia Federal e entregou gravações com conversas dele com membros do Ministério do Esporte, indicando como fraudar prestações de contas dos convênios que firmou com a pasta comandada desde 2003 pelo PCdoB.
As gravações foram encaminhadas para perícia e os resultados devem ser divulgados na semana que vem, de acordo com a assessoria de imprensa da Polícia Federal.
Dias acusa Orlando Silva de integrar um esquema de desvio de verbas públicas do programa Segundo Tempo para abastecer caixa eleitoral do PCdoB. No começo da semana, por ordem do próprio ministro do Esporte, o secretário-executivo Waldemar de Souza constituiu uma Comissão de Sindicância para investigar as acusações publicadas primeiramente pela revista "Veja".
“Vamos reforçar tudo que afirmamos”, disse Dias antes do seu segundo depoimento à PF. O próprio acusador, que chegou a ser preso por envolvimento com notas fiscais frias, afirmou à polícia que nas gravações não há nenhum diálogo com Silva.
João Dias acrescentou que pessoas ligadas ao ex-ministro e atual governador do DF, Agnelo Queiroz, participam das gravações. “Há apenas pessoas próximas a ele”, disse o policial militar, referindo-se a Fábio Hansem –então chefe de gabinete da Secretaria Nacional do Esporte Educacional, mas que atualmente assessora Orlando Silva– e Charles Rocha, então chefe de gabinete da Secretaria Executiva do ministério. A reunião, segundo a "Veja", ocorreu em abril de 2008.
“Fui convidado para uma reunião na calada da noite, com o objetivo de parar com a produção de documentos falsificados que originaram a Operação Shaolin”, disse. “Acredito que [durante] toda a semana vão aparecer coisas novas porque estamos recuperando as provas”, afirmou Dias na segunda-feira em referência aos arquivos na PF obtidos durante a operação.
O PM voltou a reafirmar que acha difícil o ministro não ter conhecimento do esquema, já que em todas as reuniões o chefe de gabinete e o secretário executivo estavam presentes, além de pessoas que cuidavam da área de prestação de contas e fiscalização do ministério. “A reunião [sobre o Segundo Tempo] é feita no sétimo andar da Secretaria Executiva, com a cúpula do ministério. Então é de interesse do ministério”, completou.
Ex-militante do PCdoB, mesmo partido do ministro, João Dias Ferreira é responsável pela Federação Brasiliense de Kung Fu e pela Associação João Dias de Kung Fu, organizações não governamentais (ONGs) com as quais o ministério firmou dois convênios em 2005 e 2006, para que crianças e jovens em situação de risco fossem atendidos pelo programa Segundo Tempo.
*Com reportagem de Maurício Savarese e informações da Agência Brasil
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