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Durante encontro, governadores tucanos falam sobre Carlinhos Cachoeira e pedem CPI "sem interesses partidários"

Rafael Moro Martins

Do UOL, em Curitiba

17/04/2012 17h57

Presente a um encontro que reuniu sete dos oito governadores do PSDB em Curitiba, nesta terça-feira (17), o presidente nacional do partido, o deputado federal Sérgio Guerra (CE), disse esperar que a CPI mista (Comissão Parlamentar de Inquérito) proposta por partidos da base aliada para investigar o bicheiro Carlinhos Cachoeira seja “limpa, aberta e sem interesses partidários”.

“Esperamos que o PT e o governo tenham capacidade de desenvolver uma CPI, pois até agora só souberam impedi-la. Desde a CPI do Mensalão que não se deixa comissão alguma funcionar”, criticou, em entrevista coletiva realizada no Palácio Iguaçu, sede do governo do Paraná.

Antes, na abertura da entrevista, Guerra saiu em defesa de Marconi Perillo (GO), suspeito de envolvimento com Cachoeira. “Temos convicção quanto à integridade do governador. Perillo é um exemplo de uma liderança efetiva e desenvolveu um PSDB forte em Goiás. Entre nós, não há o que esclarecer”, falou.

Cachoeira foi tema da primeira pergunta da entrevista, dirigida a Perillo e ao governador do Tocantins, Siqueira Campos. Ambos negaram que o bicheiro tivesse influência em seus governos. “Nunca recebi pedidos de Cachoeira para cargos no governo. Não há nenhuma pessoa indicada por ele nas gerências, que obedecem a critérios de meritocracia”, falou Perillo.

“Jamais alguém teria a ousadia de me procurar para discutir assunto que dissesse respeito a ilegalidades. Estou absolutamente tranquilo. Quero tranquilizar meus colegas e meu presidente (Sérgio Guerra) quanto a isso”, garantiu o goiano.

“Não existe nenhum contrato em meu governo com empresas ligadas ao Cachoeira. Uma vez, fui apresentado a Cachoeira pelo [ex-senador] Ataídes Oliveira (PSDB-TO), após um encontro fortuito. Mas nunca mais nos encontramos, não temos nenhum relacionamento”, afirmou Campos.

O encontro também serviu para os tucanos realizarem projeções para as eleições municipais deste ano. “Analisamos a situação Estado a Estado. Hoje, temos cerca de 780 prefeitos, e pretendemos eleger 1.000 prefeitos em outubro. No Paraná [que tem 399 municípios], esperamos ficar com 100 prefeituras”, falou Guerra.

Pacto federativo

O evento reuniu em Curitiba os governadores Geraldo Alckmin (SP), Antonio Anastasia (MG), Beto Richa (PR), Simão Jatene (PA) e Anchieta Júnior (RR), além de Perillo e Campos. Único governador tucano ausente, Teotonio Vilela Filho (AL) alegou compromissos em seu Estado.

Na Carta de Curitiba, divulgada ao final do evento, os tucanos falam em “enfrentamento da falência federativa”, apontam “a perigosa omissão da União diante do compromisso pelo financiamento dos serviços públicos” e defendem “agenda emergencial e sincera com o governo federal para um reposicionamento nacionalista de temas como a redução de encargos e do comprometimento dos Estados com o pagamento da dívida”.

“Há uma concentração abusiva na arrecadação de impostos a favor da União. Ano passado, o governo federal arrecadou R$ 1 trilhão. Minas, que tem 10% do PIB brasileiro, não chegou a R$ 40 bilhões em tributos estaduais, e isso se repete em outros Estados. Enquanto isso, recebemos novos encargos, e por isso é imprescindível que a União aponte fonte de receita”, disse Anastasia.

“A centralização dos recursos na União é um problema histórico, mas que se agravou nos últimos anos. A saúde está subfinanciada [pelo governo federal]. Os parceiros do SUS, como as Santas Casas, estão abandonando o sistema”, lamentou Alckmin. “Falência da federação é a falência da saúde, da educação”, bradou Jatene. Em meio às reclamações sobre a falta de dinheiro, porém, ouviu-se poucas sugestões para solucionar o problema.

Uma delas, mencionada na entrevista coletiva, é desvincular parte da arrecadação estadual de gastos obrigatórios (educação e saúde, por exemplo) para investimentos em infraestrutura, de modo semelhante ao que hoje faz o governo federal com a Desvincunlação das Receitas da União (DRU).

“(Mas) isso sequer está na Carta de Curitiba”, admitiu Richa. “Avaliamos de forma genérica a necessidade de recursos para investimentos. Estamos discutindo de forma mais profunda a questão no Confaz. Um exemplo prático: parte da arrecadação com IPVA pode ser desvinculada para financiar investimentos em rodovias”, explicou o paranaense. Para isso, porém, seria necessário aprovar uma emenda constitucional no Congresso Nacional.

Os governadores também pediram mudanças no indexador da dívida dos Estados. “O valor do indexador ficou distorcido, o que tornou a dívida impagável e onera o dia a dia, por causa do comprometimento da receita corrente líquida com o pagamento. Temos reunião na próxima quinta-feira, na Câmara dos Deputados, para tratar do assunto”, disse Anastasia.