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Abraji cobra investigação sobre assassinato de jornalista no Maranhão

Do UOL, em São Paulo

24/04/2012 20h45

A  Abraji (Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo) cobra das autoridades do Maranhão uma investigação sobre o assassinato do jornalista Décio Sá, morto com seis tiros na noite desta segunda-feira (23) em um bar em São Luís. Segundo a Abraji, ele é o quarto jornalista assassinado no Brasil em 2012.

Em nota, a Abraji informa que "vê com preocupação a escalada de violência contra jornalistas no Brasil e cobra agilidade das autoridades na solução do caso". A nota diz ainda que, além de responsabilizar os culpados, a investigação deve esclarecer a motivação do crime e se ele teve relação ou não com o trabalho jornalístico: "Crimes que visam calar um jornalista configuram um grave atentado à liberdade de expressão."

De acordo com a associação, a violência contra repórteres no ano passado fez o Brasil cair 41 posições no ranking de liberdade de expressão da ONG Repórteres Sem Fronteiras; já segundo o INSI (International News Safety Institute), em 2011 o Brasil era o oitavo país mais perigoso do mundo para jornalistas, mas, neste ano, ocupa a segunda posição no ranking.

A Abraji cita ainda o Índice elaborado pela organização americana Comitê para Proteção de Jornalista, divulgado neste mês, que indica que o Brasil é o 11º país do mundo com o pior índice de impunidade em crimes contra jornalistas. Em março, o governo brasileiro, ao lado de Índia e Paquistão, impediu a aprovação de um plano de ação da ONU para proteger jornalistas.

Décio Sá trabalhava no jornal "O Estado do Maranhão" --pertencente à família Sarney-- e escrevia em um blog famoso por informações de bastidores da política no Maranhão. Ele também trabalhou no jornal "O Imparcial" e chegou a ser correspondente da "Folha de S.Paulo" no final dos anos 90. O jornalista deixa mulher e um filho de 8 anos.

O crime

O jornalista e blogueiro Décio Sá foi assassinado com seis tiros à queima roupa em um restaurante na avenida Litorânea, em São Luís, no Maranhão, por volta das 22h30 de segunda-feira (23). Segundo informações da Polícia Militar do Estado, Décio Sá estava jantando sozinho em um restaurante quando um homem  se aproximou e disparou seis vezes, acertando quatro tiros na cabeça e dois nas costas. Ele morreu no local.

O assassino fugiu em companhia de outra pessoa, que o esperava do outro lado da avenida em uma motocicleta. Uma viatura estava a cerca de 150 metros do local quando o jornalista foi assassinado, mas os criminosos conseguiram fugir. As buscas continuam, mas ninguém foi preso.

A polícia do Maranhão diz que os assassinos agiram de maneira planejada e “profissional”. Um grupo especial, com os policiais considerados mais experientes, já foi designado para investigar o crime.

A Secretaria de Comunicação do Estado publicou nota na qual "repudia a ação bárbara e cruel" e afirma ter "tomado as providências para a prisão dos responsáveis pela morte". Segundo a nota, peritos do Instituto Médico Legal foram até o local.

Ameaças

Amigos do jornalista Décio Sá, morto a tiros na noite desta segunda-feira (23) em São Luís, disseram que as ameaças eram constantes na vida da vítima. O blogueiro Luís Cardoso informou ao UOL que Décio não havia relatado nenhuma ameaça específica nos últimos dias. 

“Que eu saiba, não existia uma ameaça específica. Mas as ameaças são diversas. Nossa vida aqui é assim: de vez em quando tem que ir à polícia informar algum caso. Só ele saberia dizer se houve alguma ameaça mais virulenta, pois ele não comentou comigo. Mas esse tipo de jornalismo incomoda, e ele deveria estar incomodando alguém. Não creio ser uma coisa recente. O crime organizado, que ele denunciava, planeja e estuda para cometer o crime”, disse.

Sarney

O presidente licenciado do Senado, José Sarney (PMDB-AP), divulgou nota de pesar pela morte do jornalista. Na nota, Sarney qualifica o assassinado de "hediondo, brutal e cruel" e exige das autoridades maranhenses a punição dos culpados.

"Seu assassinato, além de uma atrocidade, é um atentado à democracia", disse José Sarney, que recebeu alta hoje do Hospital Sírio-Libanês, em São Paulo, onde estava internado desde o dia 14.

(Com reportagem de Aliny Gama e Carlos Madeiro e informações da Agência Brasil)