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Vereador absolve a si mesmo em votação no Conselho de Ética de Curitiba

Rafael Moro Martins

Em Curitiba

03/05/2012 17h08

Presidente do Conselho de Ética da Câmara Municipal de Curitiba, Francisco Garcez (PSDB) colocou em votação seu afastamento do cargo nesta quinta-feira (3). A votação acabou empatada. Coube a Garcez, então, dar o voto de minerva. E ele decidiu que deveria ficar no cargo.

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O tucano é mais um dos vereadores suspeitos de receber dinheiro de publicidade da Câmara, em esquema denunciado pelo jornal “Gazeta do Povo”. Garcez é sócio de um dos mais tradicionais jornais de bairro de Curitiba, a “Folha do Boqueirão”.

“[Com a publicação das denúncias pela imprensa] Decidi que minha continuidade no cargo deveria ser avaliada pelo Conselho de Ética. Foi uma espécie de consulta plebiscitária”, explicou Garcez ao UOL.

Dirceu Moreira (PSL) e Noemia Rocha (PMDB) votaram pelo afastamento do tucano, mas Valdemir Soares (PRB) e Jorge Yamawaki (PSDB) se disseram favoráveis a que ele seguisse no cargo. Pelo regimento, o voto de desempate cabe ao presidente. Garcez, a princípio, se absteve, mas depois resolveu voltar a favor dele mesmo.

“Me sinto pouco à vontade, mas resolvi ficar até para seguir minha consciência e defender minha dignidade. Não roubei nada de ninguém, não sou ladrão. Não há nenhuma acusação contra mim na Justiça ou na Câmara, só o que saiu na imprensa”, afirmou Garcez, que está no primeiro mandato como vereador.

Mais denúncias

Francisco Garcez admite que seu jornal prestou serviços à Câmara “por oito meses”, em 2008. “Tratava-se da publicação de matérias de interesse da Câmara”, explicou. Pelo serviço, a “Folha do Boqueirão” recebeu R$ 31,5 mil.

O tucano argumenta que se afastou do comando do jornal quando assumiu o cargo de vereador, em 2009. “Mas em função de parcelamento tributário e fiscal pendentes, não registrei minha retirada [do comando da empresa] na Junta Comercial.”

Garcez é mais um vereador a ser apontado como destinatário de verbas de publicidade pela série de reportagens da “Gazeta do Povo”. Na lista, estão o atual presidente da casa, João Luiz Cordeiro, o João do Suco (PSDB), e o ex-líder do prefeito Luciano Ducci (PSB) na Casa, Roberto Hinça (PSD). Por conta das denúncias, Hinça foi afastado do cargo após ocupá-lo por apenas três semanas.

Hinça é um dos vereadores que tem programas de rádio e que recebia dinheiro da cota de publicidade da Câmara para se manter no ar. Dois funcionários de seu gabinete assinavam recibos de serviços de publicidade prestados à Câmara, segundo as denúncias.

Algaci Tulio (PMDB), ex-vice-prefeito de Curitiba por duas vezes (de 1989 a 1992, com Jaime Lerner, e de 1999 a 2002, com Cassio Taniguchi, atual secretário estadual do Planejamento), admitiu ao jornal que comprava notas para receber o dinheiro.

Além de Tulio, outro comunicador admitiu à “Gazeta do Povo” que recebia o dinheiro –Luís Ernesto, ex-vereador pelo PSDB. Atualmente sem mandato, Ernesto comanda um programa na Rádio Educativa AM, emissora de propriedade do governo do Estado.

Na mesma situação estão os ex-vereadores Marcio Celso Cunha (PSB, atual secretário estadual para a Copa do Mundo) e Valdernir Dias (PMN).

Após a série de denúncias, nesta quinta-feira o presidente da Câmara anunciou que irá revogar os contratos de publicidade mantidos pela Câmara. Os contratos, assinados pelo ex-presidente João Claudio Derosso (PSDB), homem forte da Casa por 13 anos, envolviam quase R$ 35 milhões.

Derosso pediu afastamento do cargo em novembro de 2011, acossado por uma denúncia de improbidade administrativa apresentada à Justiça pouco antes pelo Ministério Público. Na ação, os promotores pedem à Justiça que o tucano devolva R$ 5,9 milhões aos cofres públicos, provenientes de fraudes em licitações de serviços de publicidade à Câmara.

Uma das empresas contratadas, a Oficina da Notícia, pertence à mulher dele. Os promotores também suspeitam que a revista Câmara em Ação –que custou R$ 18,3 milhões– seja superfaturada, e tenha tiragem inferior à contratada. Por conta disso, ele pediu afastamento do cargo em novembro de 2011.

Há cerca de dez dias, o Ministério Público do Paraná denunciou Derosso por nepotismo. Dessa vez, ele é acusado de contratar a sogra, Noêmia Queiroz Gonçalves dos Santos, e a cunhada, Renata Queiroz Gonçalves dos Santos, para cargos na Câmara.

Dias antes, o tucano virara réu em outra ação, em que o MP pede a devolução de R$ 2,5 milhões usados na “contratação de funcionários fantasmas”.

Na semana passada, a “Gazeta do Povo” publicou que a Câmara gastou quase R$ 35 milhões em publicidade entre 2006 e 2011, e ao menos parte desse dinheiro foi pago a empresas subcontratadas via notas fiscais emprestadas.

Segundo o jornal, Antônio Carlos Massinhan e Francely Villagra, funcionários do então presidente da Câmara, assinaram recibos em nome de cinco empresas, todas subcontratadas pelas agências Visão Publicidade e Oficina da Notícia.

Ambos são funcionários públicos de carreira, vinculados a empresas da Prefeitura de Curitiba e, à época, estavam cedidos à Câmara. Por lei, não poderiam participar, mesmo indiretamente, de execuções de contratos com o poder público.