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"Estamos diante da CPI da Delta, a CPI do Cachoeira acabou", diz deputado

Roseli Pantoja responde às perguntas dos parlamentares em sessão no Senado - Reprodução
Roseli Pantoja responde às perguntas dos parlamentares em sessão no Senado Imagem: Reprodução

Fábio Luís de Paula

Do UOL, em São Paulo

15/08/2012 13h29Atualizada em 15/08/2012 14h02

"Nós estamos diante da CPI da Delta. A CPI do Cachoeira acabou. A CPI do Cachoeira está concluída", afirmou o deputado Miro Teixeira (PDT-RJ) na manhã desta quarta-feira (15), em sessão da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) que investiga as relações do empresário Carlos Augusto Ramos, o Carlinhos Cachoeira, com agentes públicos e privados.

Teixeira fez a declaração depois que a CPI se viu diante do desafio de confirmar a identidade da depoente Roseli Pantoja da Silva, cujo nome pode ter sido usado no esquema. "De repente, o Cachoeira passa a ser o menor agente. Passa a ser um problema da polícia. A Delta não. Acho que nossa dedicação tem que se concentrar, e muito, na Delta."

Rosely Pantoja da Silva seria sócia de uma empresa fantasma ligada ao esquema do empresário. Para o relator da CPI, Odair Cunha (PT-MG), a rede de Cachoeira pode ter utilizado os documentos de Roseli para a criação da Alberto & Pantoja.

O senador Pedro Taques (PDT-MT) avalia que as investigações sobre a empresa Delta, acusada de envolvimento com o esquema de corrupção do contraventor Carlinhos Cachoeira, não podem se restringir à região Centro-Oeste. "Se vivêssemos num país sério, o dono da Delta estaria preso", desabafou.

Assim como o senador Randolfe Rodrigues (PSOL-AP) disse na terça (14), o deputado Vanderlei Macris (PSDB-SP) acha que o esquema de Cachoeira "é peixe miúdo" quando comparado ao da Delta, "que é a grande holding". "São 16 empresas que movimentaram quase R$ 300 milhões", lembrou ele.

Randolfe considera que as atividades do esquema na região Centro-Oeste "são na verdade parte de um todo, e esse todo se chama empreiteira Delta".

Roseli com 'i' e com 'y'

Durante depoimento, ao ser perguntada sobre seu nome, a depoente Roseli disse: "Meu nome é Roseli Pantoja da Silva, sim. Mas meu é com 'i' e não 'y'. Sou comerciante e tenho uma loja de artigos de rock. Não vim com advogado, estou aqui sozinha. Fiquei sabendo do uso de meu nome há cerca de dois meses, através de um jornalista. Estou aqui para ajudar no que for possível. Não tenho nenhum envolvimento com essa quadrilha".

Segundo Pantoja, ela soube sobre seu suposto envolvimento com Cachoeira há cerca de dois meses, pelo que leu na internet. "Eu dei uma procuração ao meu ex-marido para que ele abrisse minha empresa. Foi até um dos motivos de nossa separação", declarou Roseli sobre seu ex-marido, Gilmar Carvalho de Moraes, com o qual ficou casada por 13 anos e separou-se há cerca de dez meses.

"Na ocasião da procuração, ele [Moraes] deu cheques sem fundo e fez dívidas em meu nome", disse Pantoja.

O senador Alvaro Dias (PSDB-PR) citou seis empresas nas quais o nome de Roseli aparece como sócia, mas ela disse que não conhece nenhuma delas. Para ele, é necessário investigar o envolvimento do ex-marido de Roseli e a possibilidade de ele ter usado o nome da esposa no esquema.

Rosely é apontada como sócia da empresa Alberto & Pantoja Construções. Segundo a Polícia Federal (PF), trata-se de uma empresa de fachada para pagamentos ilegais da construtora Delta, que recebeu R$ 26 milhões desde sua criação, em abril de 2010.

Depoimentos

Outros depoimentos marcados para esta quarta (15) eram o de Hillner Braga Ananias, ex-segurança do ex-senador Demóstenes Torres, e do ex-presidente do Departamento de Trânsito (Detran) de Goiás Edivaldo Cardoso de Paula.

O primeiro a depor foi Cardoso, que logo de início já anunciou que seguiria orientações de seus advogados e ficaria calado. "Minha convocação foi como testemunha, mas seguindo orientações de meu defensor técnico, eu permanecerei em silêncio", disse. Então, o vice-presidente da CPI, o deputado Paulo Teixeira (PT-SP), o dispensou.

Diversos integrantes da comissão protestaram contra a dispensa da testemunha, pois queriam fazer as perguntas mesmo sabendo que ele poderia não responder. Pedro Taques (PDT-MT) criticou a decisão do tribunal. "O STF, com essa decisão, diz que praticamos ameaça aos depoentes". Segundo ele, o salvo-conduto só ocorre quando uma autoridade pode ofender a liberdade do cidadão ou ameaça de ofensa ao cidadão, o que não seria o caso na CPI, que respeita a Constituição.

Edivaldo Cardoso foi convocado por aparecer em gravações garantindo o repasse de verbas do Estado para uma das empresas de Cachoeira e também pela suspeita de ter sido indicado ao cargo pelo empresário. Edivaldo  também impetrou habeas corpus junto ao STF, mas o processo segue em segredo de Justiça, motivo pelo qual o conteúdo não foi divulgado.

Ananias, que teve o mandato cassado em julho sob acusação de favorecer Cachoeira, foi convocado por ter o nome citado em ligações telefônicas captadas pela PF durante as investigações da operação Monte Carlo. Ananias também estava munido de habeas corpus obtido no STF, garantindo o direito de permanecer calado. "Conforme orientação do meu advogado, permanecerei em silêncio", disse Ananias, pouco antes do vice-presidente da CPI, deputado Paulo Teixeira (PT-SP), decidir encerrar a sessão.

Segundo o autor do pedido de convocação, Pedro Taques (PDT-MT), as escutas telefônicas indicam que Ananias ia à casa de Cachoeira pegar dinheiro em espécie.

Inicialmente, também seria ouvido hoje o ex-policial aposentado Aredes Correia Pires, mas ele não foi localizado pela Polícia Legislativa. Ele teria recebido um dos aparelhos de rádio Nextel distribuídos pelo grupo na tentativa de evitar grampos. O seu depoimento foi remarcado para a próxima quarta-feira (22).

O ex-diretor-geral Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit) Luiz Antonio Pagot vai prestar depoimento à CPI no dia 28 de agosto. No mesmo dia, será ouvido o empresário Adir Assad, acusado de lavagem de dinheiro.

O depoimento do ex-dono da empreiteira Delta, Fernando Cavendish, ficou marcado para o dia 29, mesmo dia em que será ouvido o engenheiro Paulo Vieira de Souza, conhecido como Paulo Preto, ex-diretor da Desenvolvimento Rodoviário S/A (Dersa) e ligado ao PSDB de São Paulo.

 

Reportagem polêmica

Mais cedo, os parlamentares abriram a sessão discutindo uma matéria veiculada hoje no jornal Folha de S. Paulo, que aponta que a CPI arquivou a apuração de empresas de fachada da Delta. Alguns criticaram a notícia. Teixeira reiterou que a informação está errada, uma vez que não houve arquivamento. "Aprovamos ontem 105 requerimentos, o que mostra um avanço", disse.

De acordo com a reportagem, a CPI "praticamente sepultou uma de suas mais importantes linhas de apuração" e engavetou cerca de 250 requerimentos, entre eles os que determinavam a quebra de sigilo de empresas supostamente de fachada usadas no eixo Rio-SP pela empreiteira Delta.

O comando da CPI também afirmou que não estão descartadas a análise de requerimentos para a quebra de sigilo bancário e fiscal de dez empresas de fachada usadas pela empreiteira no eixo.

Os pedidos não votados ontem poderiam elucidar o que as firmas fizeram com o montante de ao menos R$ 200 milhões, recebidos da empreiteira por empresas desse eixo.

Ainda segundo o jornal, a decisão de não verificar essas contas vai gerar uma situação inusitada, pois os parlamentares vão inquirir o empresário Adir Assad, que controla parte dessas empresas, no dia 28, sem informações sobre suas movimentações financeiras.

Outra investigação abandonada se refere a empresas de fachada controladas por Cachoeira nos Estados Unidos. Com engavetamentos, a CPI foca só empresas usadas por Delta e Cachoeira no eixo Goiás-DF.

O prazo para o relatório final da comissão é 23 de outubro.

*Com Agências Brasil Câmara e Senado.