Topo

Ministros da Justiça e advogado-geral da União vão ao Senado falar sobre operação da PF

O ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo (esq.), e o advogado-geral da União, Luís Inácio Adams, devem ser ouvidos hoje no Senado - Montagem UOL
O ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo (esq.), e o advogado-geral da União, Luís Inácio Adams, devem ser ouvidos hoje no Senado Imagem: Montagem UOL

Do UOL, em Brasília

05/12/2012 06h00

Depois de prestar esclarecimentos na Câmara dos Deputados sobre a Operação Porto Seguro, o ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, é aguardado nesta quarta-feira (5) em comissões do Senado, a partir das 14h30. Os senadores também convidaram o advogado-geral da União, Luís Inácio Adams, responsável pela indicação do número 2 na AGU, José Weber Holanda, suspeito de envolvimento no esquema de venda de pareceres.

Ontem, o ministro negou que as ações da ex-chefe de gabinete da Presidência da República, Rosemary Noronha, tivessem a anuência do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Cardozo rebateu ainda críticas de que haveria uma "quadrilha" operando no “seio” do governo federal.
 
Deflagrada no final de novembro, a operação da Polícia Federal, subordinada ao Ministério da Justiça, revelou a existência de um esquema de venda de pareceres fraudulentos em diversos órgãos do governo para beneficiar interesses privados.

Quem pode ir ao Congresso

José Eduardo Cardozo, ministro da JustiçaFoi à Câmara ontem e é esperado hoje na CCJ do Senado 
Luís Inácio Adams, advogado-geral da UniãoDeve ir à audiência conjunta da CCJ na quarta-feira e em outra comissão na quinta-feira
Gleisi Hoffmann, ministra da Casa CivilDeve ir à audiência pública conjunta de comissões na quinta-feira
Fernando Pimentel, ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio ExteriorDeve ir a audiência pública na quinta-feira
Rubens Vieira, ex-diretor da AnacFoi convidado para audiência na CI (Comissão de Infraestrutura) do Senado. A audiência ainda não tem data
Marcelo Guaranys, diretor-presidente da AnacFoi convidado para audiência na CI (Comissão de Infraestrutura) do Senado. A audiência ainda não tem data
 
Cardozo e Adams serão ouvidos hoje em uma audiência pública conjunta das comissões de Constituição e Justiça e de Meio Ambiente, Defesa do Consumidor e Fiscalização e Controle do Senado.
 
Parlamentares da oposição articulam para tentar ouvir também o secretário nacional de Portos, Leônidas Cristino, a secretária de Patrimônio da União de São Paulo, Evangelina de Almeida Pinho, o superintendente da PF em São Paulo, Roberto Troncon Filho, que coordenou a Porto Seguro, e o ex-número 2 da AGU.
 

Câmara

A presença de Cardozo na Câmara estava agendada inicialmente para a semana passada e trataria apenas da crise na segurança pública em São Paulo. No entanto, após a operação, os deputados quiseram cobrar mais explicações do governo sobre o assunto.
 
Para evitar que parlamentares da oposição formalizassem a convocação de Cardozo, o que tornaria obrigatória a ida do ministro, a base governista fechou um acordo em que concordava com a presença dele na Câmara como convidado, o que aconteceu nesta terça. Cardozo falou aos deputados por mais de seis horas.
 
Apesar do acordo, o DEM deverá tentar aprovar na reunião deliberativa de hoje da Comissão de Segurança Pública um pedido para que os ministros Gilberto Carvalho (Secretaria Especial da Presidência da República) e Gleisi Hoffmann (Casa Civil) deem explicações sobre as contratações das pessoas envolvidas na operação.
 
Diferentemente de uma CPI – que tem poder de investigação –, as comissões permanentes do Congresso não têm essa função. Normalmente, a presença de ministros nessas audiências serve para pressionar o governo por respostas e cobrar os ministros cujos funcionários e indicados tenham sido pegos em atividades irregulares.
 
Na quinta-feira (6), o advogado-geral da União deverá ser novamente ouvido, mas, desta vez, em uma audiência pública conjunta das comissões de Agricultura da Câmara e do Senado, prevista para as 8h30. Além dele, também são esperados os ministros Fernando Pimentel (Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior) e Gleisi Hoffmann (Casa Civil).
 
O tema oficial da reunião é a aquisição de terras por estrangeiros, no entanto, parlamentares da oposição podem aproveitar a presença dos ministros para fazer questionamentos sobre a operação da PF. Os ministros ainda não confirmaram a participação nesta audiência.

Cúpula das agências reguladoras

Na semana passada, a oposição conseguiu aprovar na CI (Comissão de Infraestrutura) do Senado dois convites de participação em audiência pública para o ex-diretor da Anac (Agência Nacional de Aviação Civil), Rubens Vieira, e o atual diretor-presidente da agência, Marcelo Guaranys. 

A presidência da CI é da senadora tucana Lúcia Vânia (GO), que aproveitou um “cochilo” da base aliada, que não participava em sua maioria da reunião da comissão e assim conseguiu a aprovação dos pedidos. A estratégia é utilizada pela oposição sempre que precisa aprovar assuntos que não são de “interesse imediato do governo” de aprofundamento em explicações.

Os convites não foram feitos ainda porque falta a definição da data para a audiência. No entanto, por ser convite, não há obrigatoriedade do comparecimento de Vieira e Guaranys.

O diretor da Anac, no entanto, foi convidado para outra audiência nesta semana no Congresso, para debater as demissões dos empregados da empresa aérea Webjet. 

Além das comissões do Senado, os deputados também tentarão ouvir os depoimentos em comissões da Câmara os chefes das agências reguladoras e dos responsáveis pela operação da PF para saber mais informações a respeito dos desdobramentos do esquema criminoso.

Entenda a operação Porto Seguro

Iniciada em março de 2011 e divulgada no último dia 23 de novembro, a Operação Porto Seguro da Polícia Federal resultou em 43 mandados de busca e apreensão, seis prisões e o indiciamento criminal de 18 pessoas no Estado de São Paulo e no Distrito Federal. Os envolvidos participavam, segundo a polícia, de fraudes e compra de pareceres técnicos de diversos órgãos públicos para beneficiar empresas privadas.

De acordo com a Polícia Federal, Paulo Vieira, diretor afastado da ANA (Agência Nacional de Águas), seria o chefe da quadrilha que praticava corrupção e tráfico de influência em órgãos do governo federal.

O esquema foi denunciado pelo ex-servidor do TCU (Tribunal de Contas da União) Cyonil Borges. O ex-auditor recebeu a oferta de R$ 300 mil por um parecer, aceitou parte do dinheiro, R$ 100 mil, mas, se arrependeu, devolveu a quantia e delatou o caso à polícia. Em entrevista à "Folha de S.Paulo", ele diz que nunca tocou no dinheiro para não caracterizar o crime de corrupção.

Além de Paulo Vieira, seus dois irmãos, Rubens Vieira, ex-diretor da Anac (Agência Nacional de Aviação Civil), e Marcelo Vieira, empresário, são acusados de participar do esquema. Rubens e Paulo foram soltos na última sexta-feira (30).

Por meio de interceptação telefônica, a PF identificou pagamentos feitos por Paulo Vieira a ex-chefe de gabinete da Presidência da República em São Paulo, Rosemary Noronha. A filha dela, Mirelle Nóvoa Noronha Oshiro, já foi exonerada do cargo comissionado de assessora técnica na Anac, onde trabalhava com Paulo Vieira.

Considerada como “peça-chave” do esquema, Rosemary teria a função de intermediar reuniões de “autoridades” com os interessados nos pareceres técnicos pagos e na indicação de pessoas para cargos em agências do governo. Para isso, ela usava sua proximidade com o ex-presidente  Luiz Inácio Lula da Silva.

Foi Lula quem nomeou Rosemary para o cargo em 2003. Até a semana passada, ela foi mantida pela presidente Dilma Rousseff. Rosemary era quem cuidava da agenda de Lula em São Paulo.

Outros órgãos como o MEC (Ministério da Educação), a AGU (Advocacia Geral da União) e a SPU (Secretaria do Patrimônio da União) também tiveram servidores citados como membros do esquema. O ex-advogado-adjunto da União, José Weber Holanda, foi exonerado do cargo e sofre um processo de investigação no órgão pela negociação de um parecer com Paulo Vieira.  Ele era o braço direito de Luís Inácio Adams na AGU, de quem era ainda amigo pessoal. Em entrevista,  Holanda negou fazer parte de um esquema de venda de pareceres jurídicos do governo para favorecer interesse privado e disse não ter nada a esconder.

No MEC, dois servidores foram afastados: o consultor jurídico Esmeraldo Malheiros dos Santos e Márcio Alexandre Barbosa Lima. O primeiro seria o intermediário para pareceres favoráveis e foi exonerado. O segundo foi quem ofereceu a senha a Paulo Vieira para consultar informações da faculdade da família de Vieira no ministério.

Na Antaq (Agência Nacional de Transportes Aquaviários), vinculada ao Ministério dos Transportes, três servidores estão entre os 18 indiciados. Dois deles foram exonerados: Ênio Soares Dias, chefe de gabinete da agência e Glauco Alves Cardoso, procurador-geral do órgão. O ouvidor Jailson Santos Soares foi afastado.

A assessora da SPU Evangelina de Almeida Pinho também foi exonerada do cargo e uma sindicância interna foi instaurada no órgão para apurar possíveis irregularidades praticadas na secretaria.

Outras conversas interceptadas pela PF identificaram que o grupo investigado teria interesse em regularizar um empreendimento portuário na Ilha de Bagres, em Santos (SP), de propriedade do ex-senador Gilberto Miranda, e se reuniu com o número dois da SEP (Secretaria de Portos), Mário Lima Júnior, que continua no cargo.