Após ter relatório rejeitado, deputado Odair Cunha diz que CPI produziu "pizza geral"
O deputado Odair Cunha (PT-MG), que era relator da CPI do Cachoeira e teve seu relatório rejeitado nesta terça-feira (18) pelos integrantes da comissão, disse que a CPI terminou em uma "pizza geral, lamentável".
“Não me compete aqui ficar tendo sentimentos, o que eu posso dizer que é lamentável, que apesar de todo o esforço feito pelos membros da CPI, por todos nós aqui, diante de provas incontestes, a CPMI não existe um juízo de valor sobre nada. Ela se nega a fazer aquilo que é a sua missão essencial. Levantar provas, identificar indícios e apresentar conclusões. As conclusões aqui são nada, um vazio, Uma pizza geral, lamentável”, afirmou o relator do caso, Odair Cunha (PT-MG) ao final da sessão.
Cunha afirmou não ter "ressentimento" por não ter tido o seu relatório aprovado e disse que a oposição blindou o governador de Goiás¸ Marconi Perillo (PSDB), e a construtora Delta e seu ex-presidente Fernando Cavendish.
"O que derrotou o nosso relatório foi a blindagem Marconi Perillo-Delta. A grande questão é essa. Queriam que eu retirasse questões elementares do nosso relatório, que tem no núcleo político da organização criminosa o primeiro da lista, Marconi Perillo, e, na ramificação empresarial, o primeiro da lista é a Delta-Fernando Cavendish. Então, como não aceitei fazer essas alterações, nós fomos derrotados", afirmou Cunha.
A oposição, com 18 votos contra, venceu a bancada governista, que conseguiu 16 votos a favor do relatório de Cunha. Os parlamentares, no entanto, aprovaram, por 21 votos a 7, o voto em separado, espécie de "relatório alternativo", do deputado Luiz Pitiman (PMDB-DF).
Antes da votação do relatório final, Cunha apresentou as alterações que fez após receber as sugestões dos demais integrantes, mas mesmo assim foi vencido pelos membros da comissão.
Cunha retirou do seu parecer final o pedido de análise da conduta do Procurador Geral da República, Roberto Gurgel, e de todos os jornalistas citados. Além deles, o vereador Elias Vaz (PSOL-GO) foi excluído da lista dos responsabilizados por "não nos parecer que houve associação para o crime por parte do vereador". Também foram subtraídos os pedido de indiciamento do superintendente do Incra (Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária), Marco Aurélio Bezerra da Rocha e do empresário Rossine Guimarães.
Pitiman declarou que o relatório dele, que não sugere nenhum indiciamento, mas apenas o envio do material recolhido pela CPI para a Polícia Federal e o Ministério Público. Segundo ele, assim, a investigação será aprofundada "num ambiente sem influências" e com isenção.
"O Ministério Público Federal e a Polícia Federal poderão, sim, num ambiente sem as influências que nós aqui tivemos, isentos por completo, poderão aprofundar e trazer para os brasileiros os verdadeiros fatos, da mesma forma que o STF trouxe os últimos fatos do mensalão", afirmou Pitiman.
"[A CPI] entra para a história como a primeira CPMI que encaminha todos os votos em separado, todas as quebras de sigilo, todas as dúvidas, todas as inseguranças para a PF, o MPF", acrescentou.
Tucano nega proteção
O senador Alvaro Dias (PSDB-PR) afirmou que o "Parlamento abdicou da sua responsabilidade de investigar", mas negou que o PSDB tenha articulado para aprovar o relatório de Pitiman para livrar o tucano Perillo e limitou a dizer que a investigação, quando esbarrou no governo federal, foi interrompida.
"O PSDB trabalhou o tempo todo para investigar a Delta e o escândalo de corrupção maior deste esquema do Cachoeira."
O senador Randolfe Rodrigues (PSOL-AP) criticou o acordo feito entre parlamentares para aprovar o relatório de Pitiman.
“O que vocês assistiram hoje aqui é pior do que pizza, é champanhe francês em Paris com guardanapo na cabeça. Os governadores [do Rio] Sérgio Cabral [PMDB], Marconi Perilo e a empresa Delta se uniram para derrotar o relatório e impedir que a investigação seguisse em frente. (...) Aqueles que protagonizaram a conspiração da madrugada, da calada da noite, de mudanças de parlamentares para votar na última hora serão julgados pela história."
O deputado Rubens Bueno (PPS-PR) fez coro: "De mais de 5.000 páginas [do relatório de Cunha], nós tivemos uma página e meia do relatório do deputado Pitiman, o que é lamentável sob todos os aspectos. Como estamos em véspera de Natal, é uma presepada o que foi apresentado na CPI".
Para o deputado Onyx Lorenzoni (DEM-RS), a aprovação do relatório de Pitiman "foi um circo, triste e lamentável, que seguramente foi financiado com muito dinheiro público".
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