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Em 2 anos, Conselho de Ética julga 7, mas não cassa nenhum deputado

Os deputados federais Pedro Henry (PP-MT), Valdemar Costa Neto (PR-SP) e João Paulo Cunha (PT-SP), condenados no julgamento do mensalão no STF - Alan Marques/Folhapress; Leonardo Prado/Agência Câmara e Renato Silvestre/AE
Os deputados federais Pedro Henry (PP-MT), Valdemar Costa Neto (PR-SP) e João Paulo Cunha (PT-SP), condenados no julgamento do mensalão no STF Imagem: Alan Marques/Folhapress; Leonardo Prado/Agência Câmara e Renato Silvestre/AE

Edgard Matsuki

Do UOL, em Brasília

15/03/2013 06h00

No próximo dia 16 de março, o ciclo de dois anos do atual Conselho de Ética e Decoro Parlamentar da Câmara dos Deputados se encerra. Ao todo, 21 deputados escolhidos para julgar denúncias de quebra de decoro parlamentar deixam o posto com o balanço de sete julgamentos e nenhuma cassação.

Os casos julgados pelo conselho nos dois últimos anos foram os do deputado Valdemar Costa Neto (PR-SP, por suposto envolvimento em superfaturamento de contratos e recebimento de propina no Ministério dos Transportes, entre outras denúncias), Jair Bolsonaro (PP,-RJ, acusado de racismo e homofobia), Protógenes Queiroz (PCdoB-SP, acusado de envolvimento com o “araponga” de Carlinhos Cachoeira), Marcos Medrado (PDT-BA, acusado de venda de emendas), João Carlos Bacelar (PR-BA, acusado de vender emendas e de nepotismo) e Jaqueline Roriz (PMN-DF, acusada de corrupção no mensalão do DEM no DF).

Costa Neto, apesar de ter sido absolvido no conselho, pode perder o mandato devido à condenação pelo STF no julgamento do mensalão. Bacelar se licenciou da Câmara em fevereiro deste ano, tendo sido substituído por Colbert Martins (PMDB-BA).

De todos os casos julgados nesses dois anos, apenas no de Jaqueline Roriz o conselho deu o parecer pela condenação. Mas de nada adiantou – o plenário ignorou s recomendação e absolveu a deputada.

Para o atual presidente do Conselho de Ética, o deputado José Carlos Araújo (PSD-BA), o órgão cumpre o papel fiscalizador. Ele diz que algumas vezes os pedidos dos deputados são um pouco exagerados. “Quando você pede saúde para Deus, pede pouca ou muita? Quando entram com representação no conselho, pedem sempre a cassação. Temos que ponderar aqui”, afirma.

Araújo ressalta que o Conselho de Ética é mais rígido que o plenário “pela votação ser aberta no conselho e fechada no plenário. A gente não sofre mais pressão, mas acaba fica mais exposto nas nossas decisões”, fala.

“Decepção”

Das sete representações enviadas ao Conselho de Ética nos últimos dois anos, seis foram feitas pelo PSOL. De acordo com o deputado Chico Alencar (PSOL-RJ), há um sentimento de decepção com a atuação do conselho. “Pela atuação dos últimos anos, percebe-se facilmente que o conselho virou algo para a Câmara dizer que tem preocupação com o decoro do que realmente tomar atitudes punitivas”, diz.

Alencar ressalta que há um acordo tácito para se preservar parlamentares que foram a julgamento. “Sem dúvida há corporativismo. Depois que o conselho julgou o mensalão (em 2006), nota-se um afrouxamento nos casos levados pelo parlamentares”, diz. 

Para o cientista político Émerson Cervi, a própria estrutura dos conselhos de ética não favorece a fiscalização: “Na prática, os conselhos são meras formalidades. O peso da fiscalização entre pares é sempre pró-absolvição. O formato atual é ideal apenas para os parlamentares”.

Para o cientista político, o índice de absolvições é grande em todos os conselhos de classe, mas o conselho da Câmara deveria ser mais rígido. “Exige-se dos parlamentares um comportamento diferente por estarem em uma instituição pública e não de classe. No entanto, não é o que acontece”, afirma. Cervi. Ele complementa que a fiscalização dos parlamentares não deveria vir de dentro: “O órgão fiscalizador do parlamento é o eleitor. Se não ele, o judiciário”.

Neste ano, o Conselho de Ética deve avaliar o caso dos deputados Carlos Alberto Leréia (PSDB-GO), amigo do bicheiro Carlinhos Cachoeira, e Devanir Ribeiro (PT-SP). E, caso o STF não casse os parlamentares condenados no julgamento mensalão, o pedido de cassação de José Genoino (PT-SP), João Paulo Cunha (PT-SP), Pedro Henry (PP-MT) e Valdemar Costa Neto (PR-SP) deve passar pelo Conselho de Ética.

Chico Alencar diz que é possível que os condenados pelo mensalão não percam o cargo. “Do jeito que o nosso Conselho de Ética caminha com espírito de corpo, não duvido que absolvam parlamentares condenados pela justiça. Esse paradoxo obviamente geraria um desgaste na casa. Seria uma história bizarra”, completa. 

Como funciona o Conselho de Ética da Câmara

Como é formado?O Conselho de Ética da Câmara é formado por 21 membros escolhidos de acordo com a proporção partidária da Câmara. Há a possibilidade de, por acordo, vagas serem cedidas para outros partidos. Na última composição, o PSD não teria nenhuma vaga. Mas acabou com quatro cadeiras cedidas por PT, PSDB, PDT e bloco PPS-PV. Para a nova formação, o PT e o PMDB seriam os partidos com maior número de representantes: três cada um
Para que serve?O Conselho de Ética é o órgão que fiscaliza e julga denúncias de quebra de decoro parlamentar dos deputados. O conselho também serve para os parlamentares realizarem consultas quando têm dúvidas sobre quebra de decoro
Quem pode enviar denúncias ao conselho?Apenas partidos políticos e a Mesa Diretora da Câmara podem fazer pedidos de cassação diante do Conselho de Ética. Se, por exemplo, uma pessoa ou instituição organizar um abaixo-assinado pela cassação de um deputado, ela teria que ser encaminhada para a Mesa Diretora e ela avaliaria se envia para o conselho
O Conselho de Ética pode cassar mandatos?Não. Apesar de julgar casos de quebra de decoro por parte dos parlamentares, a palavra final pela cassação não é do conselho. Ele apenas pode arquivar um pedido de cassação (como fez em 6 dos 7 processos dos últimos dois anos). Se o conselho der um parecer pela cassação de um parlamentar, o plenário da Câmara vota se ele perde o mandato
De quais parlamentares o conselho já recomendou a cassação?O Conselho de Ética foi fundado em 2001 e neste período julgou deputados acusados de participar do mensalão, da Máfia dos Sanguessugas e casos como do ex-deputado Edmar Moreira (DEM-MG) e da deputada Jaqueline Roriz (PMN-DF). Jaqueline foi a última parlamentar que teve um parecer pela cassação. Porém, o plenário da Câmara a absolveu. O último deputado cassado na Câmara após processo no Conselho de Ética foi o envolvido Pedro Corrêa (PP-MT), pelo envolvimento no mensalão, em 2006