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Paulo Roberto Costa denuncia cartel de empresas e propina a partidos; ouça

Do UOL, em São Paulo

09/10/2014 22h50

Em audiência à Justiça Federal no Paraná nessa quarta-feira (8), parte de seu acordo de delação premiada, o ex-diretor da Petrobras Paulo Roberto Costa afirmou que um cartel formado pelas principais empreiteiras do país opera tanto em obras da Petrobras como em outros setores.

De acordo com ele, os contratos eram superfaturados em 3%, em média, e o dinheiro excedente era distribuído para políticos da base aliada do governo federal, diretores da Petrobras e intermediadores, como o doleiro Alberto Youssef e o ex-deputado José Janene (PP).

Também foi conhecido o teor do depoimento de delação premiada de outro importante personagem da Operação Lava Jato, o doleiro Alberto Youssef.

Youssef, acusado de ser operador do esquema, confirmou que estava envolvido com o esquema comandado por Costa, que participava apenas das operações relacionadas à diretoria de abastecimento da Petrobras. Apesar de afirmar que não se envolveu nas operações de outros setores, disse que sabia da existência do mesmo esquema em outras diretorias da estatal.

Veja abaixo alguns trechos do depoimento de Paulo Roberto Costa:

CARTEL

“O que acontecia, principalmente a partir de 2006, é um processo de cartelização. São poucas as empresas que têm condição de fazer uma refinaria, uma plataforma, um navio de processo, uma hidrelétrica como Belo Monte, Santo Antônio, que têm condição de fazer uma usina como a Angra 3. Existia claramente [o processo de cartelização]. Isso me foi dito por algumas empresas, pelos presidentes das companhias, de forma muito clara, que havia uma escolha de obras dentro da Petrobras e fora da Petrobras. Essa cartelização obviamente resulta num delta preço excedente”, afirmou. 

EMPRESAS CITADAS

As empresas citadas por Costa são: Odebrecht, Camargo Corrêa, Iesa, Engevix, Mendes Júnior, UTC, Andrade Gutierrez, OAS, Queiroz Galvão, Toyo Setal e Galvão Engenharia.

INTERESSES DAS EMPRESAS

O ex-diretor da estatal disse que as empreiteiras participavam do suposto esquema porque tinham interesse não só na Petrobras, “mas em vários outros órgãos de governo”, como ministérios, secretarias, entre outros, comandados por integrantes dos partidos envolvidos. Costa afirmou que o pagamento de propinas ocorria não apenas em obras da Petrobras.

“Se ela [a empresa] deixasse de contribuir para determinado partido naquele momento, isso iria refletir em outras obras, porque os partidos não iriam olhar isso com bons olhos. Seria interesse mútuo dos partidos, dos políticos e das empresas, porque não visava só a empresa, visava rodovias, hidrovias, hidrelétricas etc”, disse o ex-diretor da empresa, citando como supostas obras fraudulentas a construção da usina de Angra 3 e hidrelétricas na região Norte.

PROPINA

Costa afirmou que os contratos da Petrobras eram encarecidos, em média, em 3%. Segundo ele, a divisão desse excedente era de 2% para o PT (Partido dos Trabalhadores), nos contratos da diretoria de serviços, e 1% para o PP (Partido Progressista), nos contratos da diretoria de abastecimento. O ex-diretor da estatal afirmou que as indicações para diretores da Petrobras sempre foram políticas, mesmo antes dos governos do PT.

Questionado sobre se o esquema já ocorria antes de 2006, quando ele assumiu a diretoria de abastecimento, Costa respondeu: “Possivelmente já acontecia antes de eu ir para lá. Essas empresas trabalham para Petrobras há muito tempo.”

DISTRIBUIÇÃO DO DINHEIRO

Segundo Costa, até 2008, quem recebia os recursos desviados que tinham como destino o PP era o ex-deputado federal José Janene, que foi líder do partido na Câmara e morreu em 2010. A partir de 2008, após Janene adoecer, Alberto Yousseff passou a intermediar os repasses.

Do valor desviado ao PP, 60% ia diretamente para os caixas do partido e 20% era usado para pagar despesas como nota fiscal, de acordo com o ex-diretor da Petrobras. Dos 20% restantes, 70% era repassado para Costa e 30% para Janene ou Yousseff.

“Recebia em espécie, na casa, no shopping, no escritório”, disse Costa.

Ainda segundo Costa, a diretoria de serviços abastecia o PT por meio do tesoureiro do partido João Vaccari Neto. Já o PMDB receberia recursos da diretoria internacional por meio de Fernando Soares.

O ex-diretor da Petrobras afirmou que a cartelização e o pagamento de propina ocorriam nas demais diretorias da estatal. Ele citou o diretor da área de serviços, Renato Duque, que teria sido indicado pelo ex-ministro José Dirceu. A diretoria internacional era comandada por Nestor Cerveró, indicado pelo PMDB. Segundo Costa, eles também recebiam parte do valor desviado.

TRANSPETRO

Paulo Roberto Costa afirmou que o esquema de cartel e pagamento de propina a políticos também ocorria na Transpetro, subsidiária da Petrobras. Ele afirmou que recebeu uma parcela desviada da Transpetro diretamente do presidente da empresa Sérgio Machado. “Se eu não me engano, era R$ 500 mil.”

CAMPANHAS ELEITORAIS

Costa afirmou que as empresas envolvidas no suposto esquema sabiam que o destino do dinheiro eram "agentes públicos" e que os recursos seriam utilizados para financiar “várias” campanhas políticas nas eleições de 2010

Segundo o ex-diretor da Petrobras, ele e demais envolvidos no suposto esquema reuniam-se com “certa periodicidade” com os políticos que teriam recebido propina. Nestes encontros, discutia-se o valor recebido por cada um.