Leia a transcrição da entrevista de Paulo Câmara ao UOL
Paulo Câmara, governador eleito de Pernambuco, participou do Poder e Política, programa do UOL conduzido pelo jornalista Fernando Rodrigues. A gravação ocorreu em 27.nov.2014 no estúdio do UOL, em Brasília.
UOL [OFF]: Paulo Henrique Saraiva Câmara tem 42 anos. É formado em economia e mestre em gestão pública pela Universidade Federal de Pernambuco.
Paulo Câmara foi aprovado em seu primeiro concurso aos 20 anos, para escriturário do Banco do Brasil. Três anos depois, tornou-se auditor do Tribunal de Contas do Estado. Também trabalhou no Tribunal de Justiça e na Câmara de Vereadores do Recife.
Em 2007, aos 35 anos, Paulo Câmara foi nomeado por Eduardo Campos,
então governador de Pernambuco, secretário de Administração do Estado. Em 2010, assumiu a pasta de Turismo e, 1 ano depois, tornou-se secretário da Fazenda.
Seu desempenho em cargos administrativos o aproximou de Eduardo Campos. Em 2013, Paulo Câmara filiou-se ao PSB e, no ano seguinte, foi escolhido para ser o candidato à sua sucessão no governo de Pernambuco.
Paulo Câmara era desconhecido dos pernambucanos no início da campanha: tinha apenas 11% de intenção de votos em julho de 2014. Após a trágica morte de Eduardo Campos, em 13 de agosto, e da comoção popular que sobreveio, Paulo Câmara virou a disputa e venceu Armando Monteiro, do PTB, no primeiro turno, com 68% dos votos válidos em outubro de 2014.
UOL: Olá, bem-vindo a mais um Poder e Política – Entrevista. Este programa é uma realização do portal UOL e a gravação é realizada aqui no estúdio do UOL em Brasília. O entrevistado desta edição do Poder e Política é Paulo Câmara, governador eleito de Pernambuco.
UOL: Olá governador, como vai, tudo bem?
Olá Fernando, tudo bem.
O PSB nesta quinta-feira teve uma reunião da sua Executiva e decidiu por uma posição de independência em relação ao governo da presidente Dilma Rousseff. O que que isso significa?
O partido se reuniu, a sua Executiva, uma nova Executiva, tivemos a eleição do novo presidente, Carlos Siqueira, há pouco mais de 30 dias, então hoje foi uma reunião importante, após as eleições, onde nós tivemos um candidato, Eduardo, posteriormente substituído por Marina Silva, e uma decisão no segundo turno de apoiar, naquele momento, Aécio Neves. Mas após as eleições, como era esperado, o partido fez uma reflexão dentro da sua nova composição, fez um processo de escuta com os deputados federais eleitos, com os senadores eleitos e os que vão continuar no mandato. Com os presidentes das Executivas estaduais do PSB. Com as novas lideranças, como eu, que estou entrando agora na Executiva nacional do partido, como governador eleito. Então esse processo de escuta foi muito rico, porque mostrou o caminho que o PSB quer seguir. Que é um caminho muito parecido com a decisão em 2013, quando o PSB saiu do governo Dilma, nós tínhamos representantes, ministros, e do segundo escalão também. Resolvemos naquele momento entregar os cargos, essa decisão de não aceitar cargos está mantida, vamos participar e vamos contribuir para a democracia e para o Brasil.
O PSB é um partido de oposição, portanto?
É um partido hoje que tem um olhar crítico em relação ao que aconteceu nos últimos anos no Brasil. A gente entende que o Brasil poderia ter melhorado muito nos últimos 4 anos e não aconteceu isso. E o Brasil tem agora a reeleição da presidente Dilma, e o partido vai tentar contribuir naquilo que acredita. Em pontos que estão colocados na nossa carta, que foi entregue à sociedade brasileira, pontos que são para nós fundamentais e que nós vamos construir ao longo dos próximos 4 anos, tentando contribuir para o debate nacional.
Agora, para quem nos assiste compreenda, qual a diferença da posição do PSB em relação, por exemplo, a partidos como PSDB e o Democratas, que se dizem de oposição? É diferente ou é a mesma coisa?
É diferente. Nós temos claramente posições a serem tomadas, pontos que nós consideramos fundamentais para o Brasil, e o governo, a partir do momento que sinalizar para avanços nesses pontos que colocamos, que são pontos gerais, como reforma política, como reforma do federalismo, mais recursos para a saúde, uma política diferente de segurança, uma relação Estados e municípios, também, que vejam e olhem a questão federativa de maneira muito clara e muito transparente. Esses pontos nós vamos defender, nós vamos apoiar o governo naquilo que seja de mudança. E vamos analisar ponto a ponto. Não vamos ser a oposição pela oposição. Vamos contribuir para o Brasil, como nós contribuímos também no governo de Fernando Henrique Cardoso, se formos observar o papel do PSB naquele momento, o PSB foi a favor do Plano Real, entendíamos que era importante para a estabilização econômica do Brasil. O PSB foi a favor da Lei de Responsabilidade Fiscal. Então, cada ponto nós vamos analisar, vamos discutir no partido, e vamos ter uma posição realmente de independência.
Agora, vamos a um ponto bem específico. O governo federal, no momento, tenta, no Congresso, alterar a Lei de Diretrizes Orçamentárias, a LDO, para alterar a meta de superávit fiscal para que dessa forma as contas fechem no final do ano. O PSB nesse caso é a favor ou contra?
A posição da bancada dos deputados foi de ser contra o projeto como ele está. Entendemos que o projeto poderia ter alguns princípios que neles constam, dada a dificuldade do fechamento das contas dos anos, mas podia ter e manter regras claras para que isso não ocorra nos futuro. Do jeito que está o projeto, do jeito que foi apresentado, o partido vai se posicionar, na Câmara dos Deputados, de maneira contrária. No Senado não, no Senado já há uma defesa de dar um crédito de confiança para o governo nesse momento, mas que espera também que isso não ocorra no futuro.
A votação deve ser numa reunião conjunta de Câmara e Senado, na terça-feira (2.dez.2014), é o que está previsto, o mais provável é que o governo, que tem a ampla maioria, pelo menos no papel, de deputados e senadores, consiga aprovar. Mas vamos supor que exista uma certa dificuldade, que por algum motivo que não conhecemos o governo tenha um revés, o projeto não seja aprovado. Nesse caso as contas não serão fechadas de acordo com o que determinou a lei e há quem argumente que houve então crime de responsabilidade por parte da presidente. O que o sr. acha?
Temos que aguardar realmente o fechamento dessa votação e o que vai acontecer. O governo ainda teria um mês, se o projeto não for aprovado, para cumprir a meta que está estipulada anteriormente. E a gente não pode prejulgar, a gente tem que ter uma explicação muito clara do governo, quais foram os motivos que levaram a esse caso, quais foram as questões que não podiam parar, os gastos que não podiam parar de jeito nenhum. Onde houve as frustrações, essa questão das desonerações, que ela realmente contribuiu para o Brasil, então eu acho que vai precisar, caso o projeto não seja aprovado e caso o governo não atinja a meta, uma explicação nacional. E se essa explicação for responsável, for transparente, for sincera, eu não vejo por que o partido também entrar nessa questão. A presidente Dilma acabou de ser reeleita, e temos que respeitar a sua reeleição, houve uma aprovação muito grande, principalmente das regiões e das classes sociais mais baixas, então a gente tem que respeitar isso, tem que entender que isso é a democracia, e temos que ajudar o governo a governar. Porque o Brasil tem mais 4 anos com a presidente Dilma e a gente tem que entender que tem que contribuir para esse país dar certo. O país precisa melhorar muito em muitos aspectos, precisa voltar a crescer, tem um desafio do combate à inflação e tem muita coisa a fazer. As desigualdades sociais persistem, o desemprego tem que cada vez mais ser controlado, então é um conjunto de opções que eu acho que o partido tem que ser muito responsável em relação a essas questões.
Porque tem alguns setores da oposição que falam claramente, que uma vez a Lei de Diretrizes Orçamentárias não ser cumprida, chegando no final do ano, se ela não for alterada agora, que haveria a configuração do crime de responsabilidade, alguns setores, não todos, da oposição, falam até que isso poderia levar ao impeachment da presidente. O sr. considera isso correto ou um exagero?
Acho que no momento, sem as explicações oficiais, é um exagero. A gente tem que respeitar realmente as instituições e dar um crédito para o governo se explicar e mostrar realmente o que que houve, o que que aconteceu, e o que que vai mudar para frente para que não ocorra novamente.
O PSB teve candidato a presidente, houve uma tragédia, Marina Silva o substituiu, no caso, Eduardo Campos, e no segundo turno, não indo para o segundo turno, o PSB acabou apoiando o tucano Aécio Neves. Olhando para frente, nós estamos ainda em 2014, mas olhando lá para frente, em 2018, o sr. diria que o PSB em 2018 deve trabalhar para ter um candidato próprio, deve trabalhar para apoiar algum candidato de um partido da oposição ou apoiar algum candidato das forças governistas atuais?
Eu defendo e acredito que hoje a ampla maioria do partido defende que nós temos que fazer um novo recomeço. E trabalhar nesses próximos 4 anos para a consolidação de uma nova candidatura. Nós apostávamos muito na candidatura do Eduardo. Eduardo se preparou muito para essa candidatura, nós fizemos um programa de governo, infelizmente as regras do jogo eleitoral não deram condições de se mostrar claramente qual era o projeto do PSB, junto com a Rede, para o Brasil dos próximos 4 anos, e o nosso desafio é nesses 4 anos que restam até a próxima eleição, mostrar realmente como o PSB pensa, o que o PSB quer fazer diferente, como o PSB pode contribuir para o Brasil, os governadores têm também um papel muito importante nisso.
São 3 governadores?
São 3 governadores. Sou eu, em Pernambuco, Ricardo Coutinho, na Paraíba, e o Rodrigo Rollemberg aqui no Distrito Federal. É um papel importante também porque o PSB tem se destacado pelos seus governadores. Uma forma de fazer política e de gerar resultados para os Estados, melhorar as condições de vida para a população. Eduardo mostrou que é possível fazer muita coisa em favor da população, mesmo com as limitações orçamentárias. Então vamos construir um novo projeto, a gente tem a perspectiva, em 2018, de poder apresentar também para o Brasil novamente um projeto e nomes que possam fazer com que o Brasil melhore, que continue avançando.
Mas olhando hoje, prospectivamente, o sr. imagina que o PSB caminhará em 2018 alinhado às forças atuais que apoiam a presidente Dilma, não se sabe qual candidato será lá, ou de uma forma independente?
Eu acho que, atualmente, o partido vai caminhar de forma independente. Vai, como falei anteriormente, contribuir para o Brasil naquilo que a gente acredita que é importante para o país e tentar criar novas lideranças, novas pessoas que possam ter condições de em 2018 apresentar um projeto, um projeto que já se iniciou em 2014, que seja um projeto de avanço para o Brasil, que pense diferente a política, que tenha conceitos de desenvolvimento social e econômico diferente dos atuais.
Além do sr., que é governador eleito de Pernambuco, Ricardo Coutinho, na Paraíba, e Rodrigo Rollemberg, no Distrito Federal, governadores sempre são líderes naturais de cada partido, quem são os líderes que o sr. apontaria de destaque no PSB hoje?
Nós temos muitas pessoas que sempre contribuíram para o partido e estão contribuindo efetivamente também de uma nova geração. Nessa nova geração eu me incluo, inclui o prefeito Geraldo Júlio, do Recife, e temos as lideranças que estão há muito tempo construindo o partido, que ajudaram Eduardo a chegar na sua candidatura. Nós temos o vice-governador eleito de São Paulo, Márcio França, temos o deputado federal que foi candidato a vice-presidente com Marina Silva, Beto Albuquerque (RS), o ex-governador [do Espírito Santo] Renato Casagrande, nós temos senadores, temos um conjunto de pessoas que realmente estão trabalhando há muito tempo por um projeto do PSB, um projeto de esquerda, um projeto de um Brasil diferente, que vão continuar nos ajudando. O prefeito Márcio Lacerda, de Belo Horizonte. São muitas pessoas. O PSB vem crescendo nas últimas eleições e apresentando novas lideranças.
Existe um herdeiro natural de Eduardo Campos no partido?
Não. Não tem. Eduardo era uma pessoa que estava acima do partido já, já tinha tomado uma dimensão nacional, o seu exemplo como governador de Pernambuco já tinha ganho o mundo. Muitas experiências que estavam premiadas. Eduardo estava num patamar acima. E hoje o desafio do partido é construir, dentro de um colegiado, pessoas que possam, juntas, chegar no mesmo tamanho que Eduardo chegou.
Os integrantes da família de Eduardo Campos, Renata, viúva de Eduardo Campos, alguns dos filhos, têm interesse em entrar na vida político-partidária-eleitoral?
Tanto Renata como os filhos ainda estão em um processo de recuperação. Não foi fácil tudo o que eles passaram. Mas a gente vê muita vontade de continuar o legado que Eduardo iniciou. Tanto Renata, por todo o papel que ela teve junto com o Eduardo, ao longo de uma vida, foram 30 anos juntos, e sempre contribuindo decisivamente nas decisões, junto com Eduardo em toda a sua vida, e os seus filhos, que são muito bem formados, principalmente os mais velhos, que têm uma posição política muito definida, que estão terminando os estudos e que são já quadros que estão se preparando para a vida pública ou para a vida privada, mas contribuindo sempre com a vida pública. Tenho certeza que a família Campos vai honrar muito o legado que Eduardo deixou e vai contribuir muito com Pernambuco e também com o Brasil. Eduardo formou filhos que com certeza vão ainda dar muito o que falar no futuro próximo.
Marina Silva era candidata a vice-presidente. Com a morte de Eduardo Campos, tornou-se candidata a presidente pelo PSB, em nome da Rede, que era ainda um grupo, não era um partido, ainda não é, mas a Rede deve ser formalizada ao longo de 2015. A Rede Sustentabilidade, que é o grupo, o partido de Marina Silva. É possível que então ela se desfilie do PSB e se filie formalmente ao partido que ela está criando. É possível que em 2018 esse grupo, partidário, tente lançar um candidato próprio a presidente, possivelmente pode ser Marina Silva. Olhando prospectivamente, o PSB em 2018 pode marchar ao lado de Marina Silva na disputa presidencial?
É um exercício grande de futurologia, mas temos muitas convergências com Marina. Bem mais convergências do que qualquer tipo de divergência que possa ter ocorrido ao longo desse período. Marina contribuiu muito também com o partido no período, desde que ela se filiou, porque ela ainda é filiada, ela tem o respeito de todos nós, da direção, do presidente do partido, no meu caso, como vice-presidente, e nós queremos inclusive que ela continue no partido, contribuindo com o PSB, contribuindo com o crescimento do partido, com suas ideias, com sua forma de pensar, mas respeitamos muito também a sua posição. Ela foi muito clara, foi muito transparente, desde o início, de que queria e quer fundar um novo partido, a Rede Sustentabilidade. E tenho certeza que vamos estar ainda conversando muito com Marina, independente da posição partidária que ela tomar, e em 2018 é muito provável que nós estejamos juntos de alguma forma. Ou ela nos apoiando, ou nós apoiando ela. Construindo uma nova alternativa para o Brasil.
É possível a reedição dessa aliança? É possível?
É possível sim, eu não vejo nenhum impedimento hoje em relação a isso. Pelo contrário, como disse, temos muita convergência em relação à maneira como a gente pensa o Brasil.
Ela já é um nome nacionalmente lançado, tendo sido candidata a presidente duas vezes, e todo mundo que é candidato a presidente, quando se reapresenta, já tem aquilo que os marqueteiros chamam de recall, e uma chance de entrar na disputa com um pouco mais de robustez. Nesse caso, em comparação com os quadros atuais do PSB, que não têm ainda a dimensão nacional, teria essa vantagem, talvez. Seria isso e daí poderia haver uma aliança?
Também, mas o papel importante eu acho que a contribuição que Marina realmente tem, que ela já vem mostrando nas 2 últimas campanhas que ela participou, houve crescimento, na sua forma de pensar, avanços, convergências com o PSB. Nós fizemos o programa de governo juntos, Rede e PSB, programa de governo que, como eu falei, infelizmente não pode ser apresentado da forma como a gente queria para a sociedade, mas é um programa de governo que pensa o Brasil de maneira diferente. O Brasil voltando a crescer, combatendo a inflação, mas tendo políticas inclusivas e de sustentabilidade. E pensar a política de maneira diferente. Marina Silva com certeza vai estar sempre conversando com o PSB, independentemente do destino dela.
Como é a sua relação com Marina?
Eu tive uma relação ao longo da campanha política, como candidato ao governo de Pernambuco. Primeiro como pré-candidato, depois como candidato. Mas é uma relação de muito diálogo, de muito respeito, de muita transparência.
Falou com ela depois da eleição algumas vezes?
Falei, falei, já algumas vezes com ela, tivemos muitas conversas ao longo do segundo turno. E com certeza esses diálogos vão permanecer.
O sr. diria que, dentro da classificação clássica do espectro político, o PSB hoje pode ser considerado um partido de direita, de centro ou de esquerda?
O PSB é um partido de esquerda, um partido que tem a questão social como central. Mas um partido que sabe também ver o que está acontecendo no mundo, sabe ver o que precisa avançar e se adaptar aos tempos. Então o PSB, como eu falei, tem muito a contribuir para um país melhor, com desenvolvimento social que chegue a todos, com responsabilidade fiscal, buscando crescimento com geração de emprego, um crescimento produtivo, crescimento sustentável. O PSB pensa as cidades, pensa a questão urbana, pensa a questão da violência não apenas como uma questão repressiva, mas também uma questão que precisa ter políticas de prevenção muito grande. É um partido que tem o social como carro-chefe, mas também sabe ver e sentir o que acontece no mundo.
Por que que eu perguntei isso? O ex-presidente nacional do PSB, Roberto Amaral, que ficou insatisfeito com a posição do partido no segundo turno da disputa presidencial disse que o partido “jogou no lixo” o legado de seus fundadores ao apoiar o tucano Aécio Neves no segundo turno da disputa presidencial. O que que o sr. acha dessa declaração de Roberto Amaral?
Uma posição pessoal dele, não é uma posição do partido. O partido, por ampla maioria, decidiu apoiar no segundo turno Aécio Neves por entender que a mudança era necessária naquele momento e havia o compromisso do então candidato Aécio Neves de pontos que eram importantes. Pontos defendidos por Eduardo, defendidos por Marina, de se comprometer também a colocar em prática como presidente da República. Mas o partido continua o mesmo, continua o mesmo do tempo de Amaral, continua o mesmo da decisão que tomou quando entregou os cargos no governo da presidente Dilma. O partido, após aquele período eleitoral, voltou a fazer a boa política, a política de buscar o futuro dentro daquilo que pensa. A aliança com o PSDB foi uma aliança para o segundo turno, estratégica, eu acho que foi importante o partido se posicionar, não seria bom o partido não tomar uma posição no segundo turno. Mas o partido pensa diferente do PSDB, como pensa diferente também da forma como a presidente Dilma governou o Brasil nos últimos 4 anos, e então é isso que tem que ser levado em consideração. E o ex-presidente Roberto Amaral com certeza já está vendo e vai ter a possibilidade de acompanhar os desdobramentos. Inclusive da reunião que nós tivemos em relação ao futuro do partido.
Sobre o futuro do partido, quando o sr. diz "é possível caminharmos juntos em 2018, de alguma forma, com Marina Silva”. Mas a gente se recorda que agora, no ano de 2014, o atual presidente nacional do PSB, Carlos Siqueira, protagonizou um episódio que foi a saída dele rumorosa da coordenação da campanha, quando Marina Silva assumiu a candidatura a presidente. Como está a relação do atual presidente nacional do PSB com Marina Silva, pensando no que vai acontecer mais adiante? Isto está superado ou não?
Bom, Fernando, o momento eleitoral são momentos difíceis, momentos de tensão, e aconteceu realmente um episódio, na época, com Carlos Siqueira secretário-geral do partido, e onde ele decidiu não continuar com Marina exercendo o papel que ele exerceu na campanha de Eduardo. Foi uma posição de momento. Ele como presidente já teve a preocupação de manter uma relação com Marina de diálogo, como ele sempre teve. Conversaram muito, e essa questão está superada. Essa questão está devidamente colocada e passada. Foi um momento eleitoral, a eleição realmente provoca muitos ruídos, são momentos muito tensos, não é fácil comandar uma campanha, não é fácil ser candidato, não é fácil passar por tudo que Marina passou, Carlos Siqueira passou, Eduardo passou, eu passei em Pernambuco. Então, a eleição... O pós-eleição também serve para isso, serve para reflexão, serve para se conversar, para colocar as questões em ordem, para que como a gente diz no Nordeste lavar a roupa suja. Então, isso já foi devidamente feito e o partido hoje está unido. O partido... Carlos Siqueira deixou muito claro com Marina Silva, se houver o desejo dela permanecer no PSB, ela vai continuar sendo respeitada, ouvida, e, se quiser, tendo participação ativa no destino do partido.
O sr. falou que o PSB pode ser considerado um partido de esquerda. Tem algumas posições da esquerda, vamos dizer, qu se auto- denomina progressista, na América Latina, que não se vê muito nas direções partidários dos partidos de esquerda no Brasil. Por exemplo, no Uruguai há uma experiência com o presidente José Mujica sobre liberalização do uso de drogas como forma de conter os crimes provocados pelo narcotráfico. Qual é a sua posição sobre isso?
Eu já tive, inclusive, durante a campanha lá em Pernambuco, de colocar essa questão. Eu acho que... Entendo que esse debate ainda está muito recente no Brasil. Não é um debate maduro.
A sua posição qual é?
Atualmente, é contra. Eu acho que hoje nós temos outras questões muito mais importantes para discutir em relação a vários aspectos sociais. Eu tenho uma preocupação muito grande com a questão que hoje já é uma epidemia, que é o crack, que é um fator de aumento de violência muito grande, e ao chegar ao crack tem muita coisa por trás. Então, eu acho que é um debate que ainda precisa ser muito feito, muito amadurecido no Brasil. Não dá para defender uma bandeira.
O sr. se posicionaria hoje contrário a uma liberalização nos moldes em que ocorreu no Uruguai?
Contrário, sim.
Com a participação do Estado?
Eu sou a favor de se debater isso, mas eu acho que o Brasil ainda não.... O desdobramento de uma decisão dessa não está muito claro, e quando a gente não tem clareza no desdobramento de decisões é preciso amadurecer bem ela para tomá-la.
Outro tema na área de costumes que eu gostaria de ouvi-lo a respeito. A mudança da lei que hoje regula a prática do aborto no país. O sr. acha que a lei atual é suficiente ou ela necessita de alguma atualização com a ampliação do direito que a mulher tem de praticar o aborto?
Isso aí nós também colocamos ao longo da campanha. Nós defendemos a manutenção de como está hoje. Isso é uma questão que eu acho que deve ser mantida e avançar nas discussões, mas a posição atual, a forma que está hoje, eu acho que é suficiente.
Na campanha presidencial, o sr. estava lá candidato em Pernambuco mas acompanhava de perto, e houve uma discussão muito grande durante um determinado período da campanha sobre as posições de Marina Silva, que foi muito atacada nos comerciais produzidos pela candidata do PT, a presidente Dilma Rousseff, que acabou sendo reeleita. A presidente Dilma colou em Marina Silva a imagem de que ela seria uma presidente, se eleita, liberal, que ia abrir o governo para os banqueiros, que ela era próxima de Neca Setubal, que é da família que controla o Banco Itaú. Acabou a eleição, a presidente Dilma Rousseff tentou convidar para ser ministro da Fazenda uma pessoa ligada ao Bradesco, que é o presidente do Bradesco, Luiz Trabuco, não deu certo, convidou um outro funcionário do Bradesco, Joaquim Levy para ser ministro da Fazenda. Como o sr. avalia esse episódio olhando agora a fotografia completa?
Eu acho que o debate não foi rico nesse sentido. Como eu já afirmei, nós tivemos muito pouco tempo de espaço, de conseguir passar para o Brasil a mensagem do PSB e também de se defender contra ataques como esse, que não procedem a realidade. Marina, quem conhece Marina, sabe muito bem a sua forma de pensar. Em relação a essas questões, o Brasil hoje precisa de medidas que eu entendo que a presidente vai tomar a escolha do Joaquim Levy mostra esse caminho de austeridade, de boa utilização dos recursos públicos. Isso é o que a gente ia fazer também, se chegássemos ao poder. Nós íamos ter medidas duras, mas medidas necessárias para o Brasil voltar a crescer, para o Brasil gastar melhor, para o Brasil arrecadar mais sem aumentar a carga tributária. Então, essa forma de pensar é a forma do PSB, que não houve tempo de se mostrar e no debate eleitoral acabou se perdendo, se desvirtuando e não sendo claro à sociedade.
As propagandas críticas do PT foram desleais ou isso é regra do jogo mesmo numa eleição?
Eu acho que não foi um debate rico. A campanha eleitoral poderia ter sido...
Mas foram desleais?
Fez parte do jogo. Quem acompanha a política brasileira vê que isso ocorre em toda a eleição. Eu acho que nessa eleição passou mais do tom do que deveria, em muitos casos, tanto no primeiro quanto no segundo turno. Mas a gente não pode jogar pedra em ninguém, porque as regras eleitorais estão aí, permitem esse tipo de fato e o que a gente tem é trabalhar para que isso não ocorra mais, para que o debate seja mais prepositivo e mais em favor do Brasil. Se discuta realmente o que vai fazer para os próximos quatro anos, isso foi muito pobre no debate eleitoral.
O sr. foi eleito governador de Pernambuco. A presidente Dilma Rousseff foi reeleita a presidenta da República. O sr. teve já a oportunidade de conversar com ela um pouco sobre como vai ser o seu mandato a partir o ano que vem?
Não. Eu tive a oportunidade de conversar com a presidente Dilma no primeiro turno, quando eu venci. Ela me ligou me dando os parabéns. E, no segundo turno, eu liguei para ela também dando os parabéns pela sua vitória. Mas, não assumi ainda. Quando eu assumir, com certeza eu vou procurar a presidente Dilma. Pernambuco tem muitos projetos de parceria com a União, muitos projetos importantes para o desenvolvimento do nosso Estado. Eu vou como governador eleito apresentar esses projetos e espero parcerias com o Governo Federal, independente da posição do PSB porque os projetos que nós vamos apresentar são projetos em favor de Pernambuco, em favor do Nordeste, em favor da melhoria de vida da população.
As conversas até agora com a presidente então foram protocolares?
Foram protocolares e, como eu falei, a partir de janeiro eu vou ser um governador que vou também juntar à União pleitear recursos, pleitear as minhas posições o que eu penso para melhorar Pernambuco.
A presidente Dilma Rousseff deve nomear Armando Monteiro, que é do PTB, ministro do seu próximo governo. Armando Monteiro foi candidato pelo PTB a governador de Pernambuco, ficou em segundo lugar, o sr. o derrotou. Há um risco de haver a influência da política que possa deteriorar a relação entre o governo de Pernambuco e o governo federal?
Pois é Fernando, a presidente tem toda a liberdade para escolher a sua equipe. Nós respeitamos muito isso. É sempre bom ter um ministro pernambucano, um ministro que conheça os problemas do nosso Estado e os desafios do futuro.
O sr. já conversou com ele depois da eleição?
Não. Não tive a oportunidade de conversar com o senador Armando, mas ele já se mostrou publicamente disposto ao diálogo, como eu também estou aberto ao diálogo, e com certeza a gente sabe, e espera, que o ministro Armando, na sua pasta, possa contribuir para o desenvolvimento de Pernambuco e possa me ajudar como ministro de Estado a enfrentar os desafios que Pernambuco tem.
Mas em política não podemos ser ingênuos, não é? Há interesse de Armando Monteiro daqui a quatro anos talvez ser candidato ao governo de Pernambuco de novo. O sr., se fizer um bom mandato, imagino vai querer também, eventualmente, disputar a reeleição. Como vai ser possível essa convivência produtiva ao longo de quatro anos com dois adversários nessas duas posições?
Nós vamos ter... Eu vou como governador fazer o meu programa de governo que foi amplamente aprovado pela população de Pernambuco. Eu tive 68% dos votos, foi a maior votação do Brasil. Pernambuco quer a continuidade do que Eduardo iniciou. Da forma de governar, da forma de fazer as entregas, de como desenvolver os projetos. E eu vou estar fazendo o meu programa de governo. E daqui a quatro anos eu quero ser julgado pelo o que eu fiz, e não antecipar possíveis disputas eleitorais. Eu, Fernando, disputei a minha primeira eleição agora, nunca tinha sido candidato antes, sou servidor público de carreira, tenho um senso de ser servidor público o resto da minha vida. Tive oportunidade, pela generosidade de muita gente do povo Pernambucano de ser governador, e estou focando nos próximos quatro anos. Vou trabalhar muito nos próximos quatro anos e sou diferente, eu já não estou pensando em reeleição, eu vou realmente trabalhar os próximos quatro anos e só vou pensar nisso, em reeleição, em continuidade, e nesse projeto político em 2018. Até lá, eu vou ficar muito focado em governar Pernambuco, em fazer com que as coisas aconteçam e pensar a política diferente, em pensar a política em favor do serviço público. Isso é o meu grande compromisso.
Geraldo Júlio, prefeito do Recife, foi eleito há dois anos. O sr. acredita que, em 2016, ele deva, pelo desempenho que teve até agora, disputar a reeleição?
É possível. Geraldo tem uma trajetória muito parecida com a minha, ou a minha é muito parecida com a dele. Nós somos do Tribunal de Contas, tivemos a oportunidade de ser secretários de Eduardo também. Geraldo disputou sua primeira eleição e vem fazendo bem para o Recife, vem conseguindo melhorar a vida da população do Recife. Ele vai ter legitimidade em 2016 para pensar e refletir no que ele vai querer. Mas Geraldo pensa como eu também, ele só vai discutir essas questões em 2016. Ele sabe que tem muitos desafios por nossa cidade, pela capital de Pernambuco, que é uma capital que tem muito que ser feito ainda. Então, ele está muito focado também em ser um bom prefeito e cumprir os seus compromissos.
Nesta eleição de 2010, ocorreu um fato curioso, que há muito não acontecia. O PT não elegeu nenhum deputado federal em Pernambuco. A que o sr. atribui esse desempenho tão ruim do PT em Pernambuco neste ano?
Bom, Fernando, nós estivemos em lados opostos e, como eu falei, eu tive 68% dos votos. Então, nós tínhamos uma coligação de deputados federais onde nós elegemos 18. Tínhamos uma coligação independente que elegeu mais um, ou seja, 19 deputados federais foram eleitos que me apoiavam, apoiavam a nossa proposta de governo e a chapa do nosso adversário elegeu apenas seis, desses seis um era do PDT, o deputado Wolney Queiroz, que também nos apoiou ao longo da campanha. Então, foi uma chapa muito disputada. Os cinco deputados que foram eleitos, que apoiaram o Armando Monteiro, eles foram eleitos dentro dessa chapa e o PT terminou ficando fora dessa composição, mas eles disputaram, teoricamente, cinco vagas, mas ficaram com outros partidos e não com o PT.
Temos um caso muito rumoroso na política nacional que envolve a Petrobras e a chamada Operação Lava Jato conduzida pela Polícia Federal. O ex-diretor da Petrobras Paulo Roberto Campos, que já fez um depoimento na base de uma delação premiada, disse, segundo foi noticiado, que Eduardo Campos teria sido também beneficiado por esquema de desvio de verbas da Petrobras para abastecer a sua campanha de governador em 2010. Uma das obras mais caras da estatal, que é a refinaria de Abreu e Lima, fica em Pernambuco. Como o PSB reagirá no momento em que tudo isso for oficializado, que as delações premiadas se tornem públicas?
Bom, Fernando, primeiro é preciso esclarecer muito claramente. A refinaria, realmente, é em Pernambuco, mas não há nenhuma participação do governo de Pernambuco em relação à sua construção. Ela é toda vinda da União, a execução é direta pela Petrobras, não há nenhuma interferência do governo em relação a essa obra. Nós ficamos muito surpresos e indignados com o aparecimento do nome de Eduardo ao longo desse processo, até porque nós sabemos da forma que ele sempre tratou essa questão da Petrobras. Ele foi um defensor incansável da abertura da CPI, trabalhou para isso junto à base do PSB, defendeu a apuração de todos os fatos que, aparentemente, estão sendo apurados. Nós não temos maiores informações em relação ao conteúdo dessa... Apenas é citado o nome dele. E eu tenho a convicção de que Eduardo não tem nada a ver com isso, e caso persista o aparecimento do nome dele, nós vamos ser também incansáveis na sua defesa, porque nós sabemos a forma que Eduardo sempre tratou a coisa pública. A sua vida como política, como governador, como pessoa e o seu legado também nos pertence. A gente vai defender também a sua forma de administrar e a correção que ele sempre teve em relação a isso.
Já houve uma conclusão dentro do PSB a respeito de quantas horas de voo a campanha de Eduardo Campos utilizou com aquele jato Cessna Citation, que foi o avião que acabou caindo no trágico de acidente lá em agosto?
As informações, o partido está levantando tudo, já tem a ampla maioria, está esperando conclusões de vários episódios em relação a isso, mas o partido também está muito comprometido em esclarecer todos esses fatos, inclusive ter a certeza do que ocorreu realmente. E estamos preparados para esse debate também, e a gente quer também dar muita transparência e muita clareza para que em relação a esse fato também seja colocado em prática qualquer dúvida e tirado qualquer dúvida que haja em relação a essa assunto.
Falando aqui da Petrobras, desse caso ainda que não está solucionado, e está sempre na cabeça das pessoas no Brasil a preocupação sobre corrupção e malversação de verbas públicas. O sr., que trabalhou no Tribunal de Contas do Estado de Pernambuco, trabalhou com análise de contas públicas, é correta essa percepção que, em geral, as pessoas têm no Brasil de que a maioria das obras públicas sempre tem um pouco de corrupção.?
Eu acho que não pode generalizar. Agora, que os...
Mas as pessoas pensam isso.
É. E os controles ainda podem ser mais aperfeiçoados para que a transparência seja cada vez maior. Eu sou muito claro em relação a isso, precisa avançar cada vez mais na questão dos controles, da transparência, das formas de contratação, nós temos uma lei de licitações de 1993, muita coisa já aconteceu em relação a tudo, em relação aos controles, às formas de contratação, que poderiam ser melhoradas. Então, isso é um debate que eu acho que devia avançar mais ainda, mais transparência, mais participação dos órgãos de controle em relação a essas contratações, sem amarrações também, porque as amarrações terminam refletindo no custo das licitações, às vezes as pessoas embutem um custo que é o custo de estar participando de obra pública, de saber das dificuldades que é de fazer uma obra pública no Brasil. Então tudo isso precisa ser refletido. Eu acho que o Brasil precisa ser mais ágil, mais produtivo e contratar melhor, porque sempre dá para contratar melhor, Fernando. Eu como auditor aprendi isso, como secretário que fui de Administração e da Fazenda, sempre procurei alternativas para se contratar melhor, e sempre tem, sempre tem forma de se contratar melhor, de dar mais transparência e se controlar mais e acabar com essa percepção que hoje tem na sociedade, de que muita coisa que tem no setor público está errado, que sempre tem por trás de contratos alguém tendo vantagens em relação a isso. Isso aí a gente tem que trabalhar e combater permanentemente.
Qual vai ser sua principal prioridade? A principal prioridade como governador de Pernambuco?
Prioridade são muitas. Pernambuco tem muitas coisas.
Qual é a número um?
Agora, nós temos um projeto de continuidade em relação à educação que já mostrou que é o caminho. Pernambuco conseguiu implantar a maior rede de escolas de tempo integral do Brasil, isso já mostrou nos resultados do Ideb [Índice de Desenvolvimento da Educação Básica] que é o caminho.
Quantos por cento das escolas públicas tem educação em tempo integral?
Ensino Médio, hoje, 53%.
Qual é a sua meta?
A minha meta é universalizar e fazer parcerias com os municípios para que haja também condição nas redes municipais de termos escolas de tempo integral também ,tenham oportunidades.
Tem dinheiro para isso? Tem condições para isso?
Isso é o que a gente vai buscar. Quando se quer se faz. E quando se prioriza mais ainda. A educação... Pernambuco mostrou que dá para fazer, tanto é que nós temos hoje a maior rede pública de escolas de tempo integral maior do que todos os Estados da região Sudeste, que é a região mais rica, São Paulo, Minas [Gerais], Rio de Janeiro. Se somar, nós temos mais vagas de escolas em tempo integral do que esses três Estados juntos. Então, é procurar fazer e otimizar os recursos. Agora, o resultado é muito claro, quando você faz a circularização só das escolas de tempo integral, nós temos notas que são as maiores notas do Brasil, em termos de medição. Então, para melhorar o Brasil, para melhorar Pernambuco, para melhorar o Nordeste, é com educação, e isso é um legado que Eduardo iniciou, que eu quero manter muito forte, muito vivo, porque isso dá a oportunidade de nossos jovens terem um futuro melhor.
Tem um programa de intercâmbio de estudantes para o exterior, em Pernambuco. Qual é o balanço desse programa? E ele vai continuar a existir?
Ele vai continuar. É o programa “Ganha o Mundo” que dá oportunidade...
Quantos já viajaram?
1.600 por ano. Esse programa tem 3 anos, foram em torno de 4 mil pessoas, porque ele, às vezes, não preenche todas as vagas, mas é um programa muito exitoso, é um programa que aumenta os sonhos dos jovens, que muda a vida desses jovens que fazem esse intercâmbio. Nós temos pessoas que moravam no sertão de Pernambuco que não...
Estudantes do Ensino Médio?
Ensino Médio. Eles são selecionados de acordo com o seu rendimento escolar, e têm a oportunidade de passar seis meses num intercâmbio, que quem já fez, que teve a oportunidade de fazer, sabe que é fundamental na formação aprender uma nova língua. São jovens, como eu falei, que saem do sertão, às vezes não conhece nem a capital e já estão ganhando o mundo, indo para o Canadá, indo para a Nova Zelândia, Austrália.
Esse programa vai ser mantido, ampliado? O que vai ser feito?
Nós temos a perspectiva de ampliar um pouco ele ainda. E manter, como eu falei....
Quanto custa um estudante no exterior nesse programa?
No preço, Fernando, de mandar de fazer um intercâmbio como se faz hoje. Não é uma coisa cara. Custa, em média, R$ 20 mil para seis meses no exterior. Então, é um custo relativamente barato dado a valorização que se dá ao estudante e também à oportunidade de alimentar os sonhos. Muita gente hoje está estudando mais, focando mais nos estudos, tendo a crença que vai ter essa oportunidade de ganhar o mundo, e eu vi isso durante a campanha eleitoral, em muitos locais, a maioria dos municípios que eu ia, tinha meninos que já tinham ido para o exterior ou que estavam se preparando para ir, felizes, animados e querendo que a gente continuasse esse programa porque já havia muitos candidatos querendo ter essa oportunidade.
Tem uma mobilização social recente no Recife contrária a um projeto imobiliário que pretende transformar o cais José Estelita numa área de empreendimentos imobiliários. Pessoas ocupam essa área desde maio, aproximadamente, e pedem que o projeto seja reformulado. O sr. como governador, quando assumir, pode atuar para tentar solucionar esse impasse?
Esse impasse já está solucionado. Já houve as reuniões, não há mais a ocupação. O prefeito teve a decisão de colocar todos na mesa e discutir um novo projeto, foram feitas as adaptações. E ele agora está indo para as fases conclusivas que são as audiências públicas mais abertas, porque nas reuniões dos grupos menores já ocorreu a participação de todos. E as audiências públicas, com a participação de quem quiser participar é para contribuir, mas está avançando e é um projeto importante para o desenvolvimento da cidade, porque é uma área que estava há mais de 20 anos abandonada, uma área belíssima, quem conhece Recife sabe, e a lei tem um potencial, se vê o melhor formato, mas é um projeto importante.
Quem são seus ídolos na política?
Minha formação, e eu sempre acompanhei, pessoas históricas, como o dr. Arraes, que eu acompanhei menos, mas sempre tive a oportunidade de estar ouvindo quando tinha e de ver toda a sua vida, e tive uma convivência muito intensa com o Eduardo. Foram 20 anos de conhecimento e 8 anos trabalhando juntos, e eu trabalhei em áreas que exigiam uma proximidade muito grande com Eduardo e minha formação política vem de dr. Arraes e de Eduardo, e minha formação profissional vem do Tribunal de Contas e desses meus anos como secretário que eu atuei muito junto com Eduardo.
O sr. citou dois políticos do PSB. Fora do PSB , na política brasileira, o sr. olha com admiração algum político ou gestor público?
A gente sempre tem no lado histórico pessoas que a gente vê muitas qualidades. Eu sempre vi e sempre tive uma curiosidade muito grande de ver o lado bom de cada político. Então, você não pode desprezar uma trajetória como a de Getúlio Vargas [1882-1954], não pode desprezar uma trajetória como a de Juscelino Kubitscheck [1902-1976], não podemos desprezar a trajetória que o Fernando Henrique fez, tudo que ele contribuiu para o Brasil, do presidente Lula. Então, são referências que a gente tem que extrair o bom e tem muita coisa boa em todo o legado que eles deixaram, tanto para o Brasil da maneira de pensar a política, da maneira de fazer o social, o econômico. Eu sempre procuro estar sempre acompanhando e lendo sobre isso e buscando extrair as coisas boas de cada um.
O sr. é jovem, tem 42 anos, tem 4 anos pela frente como governador, o sr. se enxerga na política servindo ao Estado de Pernambuco, ao país, de maneira longa, depois em outros cargos também? Como é que o sr. enxerga a sua carreira daqui para frente?
Vou ter a oportunidade de, como eu falei, na primeira eleição alçar o maior cargo de Pernambuco, ser governador. E estou muito focado nisso, entusiasmado, até pela confiança que eu recebi da população de Pernambuco. E nos próximos quatro anos eu vou focar nisso, eu não tenho planos para além dos próximos quatro anos. Tenho plano para os próximos quatro anos, vou trabalhar muito, vou ser muito intenso em relação ao meu programa de governo, que é um compromisso que eu tenho com Pernambuco.
Mas o sr. se sente vocacionado para isso? Gostou de disputar uma eleição?
Eu gostei de disputar uma eleição. Eu aprendi muito como candidato, tive a oportunidade de conhecer meu Estado profundamente, tive contato com a população ao longo de uma campanha eleitoral. E o bom da campanha eleitoral é justamente o contato com a população, o processo de escuta, de ouvir, e isso eu levo também para o meu governo, vai ser um governo que vai escutar muita a população, porque a contribuição do processo de escuta é muito grande na formulação das políticas públicas, na continuidade dos projetos, na correção de rumos. Então, eu vou fazer do meu governo, do governo de Pernambuco, um governo participativo e vou estar presente nos próximos quatro anos, Fernando, intensificadamente na política de Pernambuco para construir um bom governo e continuar aquilo que o povo deposita de confiança, que o povo realmente de Pernambuco quer que eu continue a forma de governar que Eduardo implantou.
Paulo Câmara, governador eleito de Pernambuco pelo PSB, muito obrigado por sua entrevista ao UOL.
Agradeço, Fernando, à disposição.
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