Analistas políticos consideram condução coercitiva de Lula "excessiva"
A condução coercitiva do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva para depor na PF (Polícia Federal) na sexta-feira (4) foi considerada uma medida excessiva para a maioria dos especialistas ouvidos pelo UOL.
“Ou há elementos muito fortes para respaldar isso, ou será desmoralizante [para os responsáveis pela Lava Jato]", afirmou o cientista político Fábio Wanderley Reis, professor emérito da UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais).
A medida foi tomada pelo juiz Sérgio Moro no mandato de busca e apreensão na 24ª fase da operação Lava Jato, que recolheu material na residência do ex-presidente, no Instituto Lula, no sítio em Atibaia que seria de sua propriedade, no tríplex no Guarujá, que também é alvo da investigação, e nas casas dos filhos de Lula, em São Paulo.
Para Cláudio Gonçalves Couto, professor de ciência política da FGV (Fundação Getúlio Vargas), a imagem de Lula sendo levado coercitivamente para depor é "simbolicamente muito forte", a ponto de mudar o ambiente político e impor mais uma derrota ao PT e ao governo.
Já para o colega de Couto, Marco Antonio Carvalho Teixeira, também professor da FGV (Fundação Getúlio Vargas), não ficou claro se havia necessidade de a PF agir nestes moldes. "Na medida em que não houve qualquer intimação anterior, a pessoa está em seu endereço, não demonstra qualquer intenção de se evadir ou de se esconder, acho que não faz sentido, ainda mais em se tratando de um ex-presidente da República", afirma.
O filósofo e professor da USP (Universidade de São Paulo) Vladimir Safatle vê uma falta de simetria nas ações da PF e do Judiciário. "A simetria significa que todos os atores envolvidos serão punidos. Porque uma coisa é clara: toda e qualquer pessoa que atentou contra o bem comum, que utilizou da sua posição de governo para adquirir benesses em relação ao bem comum, seja para si próprio, seja para seu grupo, merece ter uma punição exemplar. Não há o que se discutir nesse ponto. O que há de se discutir é: todos precisam passar por isso. E o que a gente está vendo é que isso não está acontecendo até agora."
Na mesma linha que Safatle, o doutor em ciência política Malco Camargos, professor da PUC-MG (Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais), considerou a ação excessiva e teme pela seletividade das ações. "O grande risco que eu vejo é o de ela [Lava Jato] se encerrar com um viés de seletividade, ou seja, focar na busca de apenas um partido e de apenas uma liderança. Se ela fizer isso, em nada contribui para a diminuição da corrupção no país.”
Uma das vozes discordantes nesse debate é do professor de ética e filosofia da Unicamp Roberto Romano que acredita que "não foi uma medida drástica" diante das investigações e que as tentativas do ex-presidente de tentar evitar depoimentos.
Para o professor de Ciência Política da UFRJ, Jairo Nicolau, medidas controversas acabam sendo adotadas em momentos como esses, mas não considera negativo. "Tirando os exageros, é bom saber que um presidente não pode dizer que não quer depor", afirma.
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