Lava Jato detalha como funcionou "departamento de propinas" na Odebrecht
A 26ª fase da Operação Lava Jato trouxe detalhes de um verdadeiro departamento dedicado ao pagamento de propinas dentro da Odebrecht, segundo os investigadores da fase apelidada de Xepa. As informações vieram do depoimento de Maria Lúcia Tavares, secretária na empreiteira que teria sido uma das funcionárias do departamento. Os dados recolhidos são dos anos de 2014 e 2015.
Segundo Maria Lúcia, o departamento, chamado oficialmente de “Operações Estruturadas”, dividia-se entre São Paulo e Salvador. Além da própria depoente, participavam os funcionários Angela Palmeira e Adenira Bezerra, na Bahia, e Luiz Eduardo Soares, Fernando Migliaccio e a secretária Alyne Borazo, na capital paulista. O trabalho era coordenado por Hilberto Silva.
O departamento tinha acesso a um sistema exclusivo e separado das outras operação da empresa, de onde eram retiradas planilhas de requisições de pagamentos.
O esquema funcionaria da seguinte maneira:
- Os funcionários utilizavam codinomes como Waterloo (Migliaccio) e Charlie (Hilberto).
- Maria Lúcia fechava os valores totais e avisava Migliaccio, seu superior, sobre os pagamentos que deveriam ser feitos em cada cidade.
- As encomendas eram acompanhadas de senhas e codinomes dos receptores como Feira, Timão ou Fórmula K.
- Os endereços de entrega quase nunca se repetiam.
- Na maioria das vezes, os valores, que podiam chegar a R$ 1 milhão, eram entregues em espécie.
- Para disponibilizar e entregar o dinheiro, a empreiteira contava com prestadores, ligados a outras empresas como imobiliários e corretoras de valores em cidades como São Paulo, Rio, Porto Alegre e Recife. Esses prestadores também usavam codinomes como Carioquinha e Paulistinha, Tonico ou Madeira.
Marqueteiro do PT
Segundo Maria Lúcia, uma das pessoas que teria recebido esses valores seria Mônica Moura, esposa do marqueteiro João Santana, responsável por campanhas eleitorais do PT. Seu codinome seria Feira. O depoimento narra em detalhes um pagamento de R$ 500 mil a Mônica.
Embora não tivesse nenhum contato direto, Maria Lúcia afirmou em seu depoimento que algumas ordens vinham diretamente de Marcelo Odebrecht, ex-presidente da incorporadora.
Para a Polícia Federal, os documentos obtidos até agora corroboram o afirmado no depoimento. A Justiça Federal, agora, pretende promover busca e apreensão nos endereços obtidos durante a investigação.
Por meio de nota, a Odebrecht informa que "a empresa tem prestado todo o auxílio nas investigações em curso, colaborando com os esclarecimentos necessários."
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