Encontro de Temer com líderes e ministros tem quebra de protocolo e tapa na mesa
O anúncio das primeiras medidas econômicas da equipe do presidente interino, Michel Temer, nesta terça-feira (24) foi marcado pelo clima de “ressaca” da saída do senador Romero Jucá (PMDB-RR) do governo, por uma inesperada quebra de protocolo e por uma gafe com direito a tapa na mesa.
O governo Temer começou a terça-feira precisando sair das “cordas” às quais foi jogado na segunda-feira (23) pela divulgação de conversas entre Jucá e o ex-presidente da Transpetro Sérgio Machado. Nas conversas, Jucá dá a entender que seria necessário um “pacto” para “estancar a sangria” causada pela Operação Lava Jato, pela qual ele e Machado são investigados. No final da tarde da segunda-feira, Jucá, tido como um dos homens fortes do governo Temer, pediu licença do cargo.
Apesar do mal-estar causado pela revelação das conversas, Jucá participou da reunião que Temer teve com líderes partidários e outros integrantes de sua equipe. Se no dia anterior Jucá aparentava tensão, nesta manhã ele distribuía sorrisos a Temer e a correligionários.
Isso não impediu uma menção indireta de Temer a apurações de investigações. Segundo o peemedebista, que não citou diretamente a Operação Lava Jato, "por mais que digam que há um esquema" a fim de conter o avanço da apuração da Polícia Federal e do Ministério Público, não haverá interferência do governo. "Não queremos isso, não [barrar as investigações]. Ninguém quer", afirmou ele.
Atraso
A reunião, prevista para começar às 10h, começou com aproximadamente 20 minutos de atraso, na Sala Suprema do Palácio do Planalto. Do lado de fora, no Salão Leste, repórteres e parlamentares também aguardavam pela entrevista coletiva que se seguiria à reunião. De repente, um telão instalado no local começa a transmitir a conversa de Temer com os líderes partidários, quebrando o protocolo. Em geral, essas reuniões são fechadas.
Temer aproveitou para dar uma alfinetada na presidente afastada, Dilma Rousseff. Ao justificar por que estava anunciando as medidas aos líderes, Temer disse que julgou "mais próprio" comunicá-los antes. "Muitas vezes dá-se a entrevista e nós que somos líderes [dizemos] 'não estava sabendo disso'". Dilma tinha fama de não divulgar medidas importantes aos representantes do Congresso, que muitas vezes ficavam sabendo pela imprensa.
Entre os líderes partidários presentes à reunião estavam o líder do governo na Câmara, André Moura (PSC-SE), do PSDB na Câmara, Antônio Imbassahy (BA), do PPS, Rubens Bueno (PR) e do DEM no Senado, Ronaldo Caiado (GO).
Na conversa de Temer com os parlamentares, o presidente interino manteve o tom conciliatório e repetiu expressões como “união nacional” e “pacificação”. Mas doze dias depois de assumir o poder e após uma série de recuos notórios como a extinção e recriação do Ministério da Cultura, Temer tentou mostrar ao público que seu governo era forte. Foi neste momento que o presidente cometeu sua segunda gafe desde que assumiu o governo (a primeira havia sido uma crise de pigarro exatamente no discurso de “posse” resolvida apenas com pastilhas para a garganta).
Citação a "bandidos" gera dúvidas
“Eu ouvi aqui (comentários) ‘ah...o Temer está muito fraco, tadinho, não sabe governar’. Conversa!”, disse Temer, batendo na mesa. “Eu fui secretário de Segurança Pública duas vezes de São Paulo e tratava com bandidos. Então eu sei o que fazer no governo e saberei como conduzir”, completou o presidente. Um repórter que assistia às declarações do presidente comentou: “faltou ele falar de que bandidos ele está falando”, deixando a dúvida sobre se ele falava a respeito de criminosos comuns ou dos políticos com os quais ele lidou quando atuou como secretário de Segurança Pública de São Paulo.
Coube ao ministro da Secretaria de Governo, Geddel Vieira Lima, responder (parcialmente) a dúvida. “À fala do presidente não cabe ilação, ele falou dentro de um contexto", afirmou Geddel durante a entrevista coletiva quase uma hora depois.
Temer continuou seu discurso explicando, superficialmente, as medidas econômicas que seriam anunciadas pelo governo quando, no Salão Leste, repórteres tomaram um susto. O telão que antes transmitia toda a reunião de repente ficou inteiramente azul e o áudio foi cortado -- a transmissão havia sido encerrada sem aviso.
Aproximadamente 10 minutos depois, foi a vez de Geddel Vieira Lima; o ministro da Casa Civil, Eliseu Padilha; o ministro da Fazenda, Henrique Meirelles; e o ministro do Planejamento, Dyogo Oliveira, explicarem as medidas anunciadas pelo governo.
O “fantasma” de Jucá, porém, permanecia no Salão Leste. Dyogo Oliveira, que assumiu o ministério no lugar de Jucá, foi citado por delatores da Operação Zelotes. Documentos apreendidos pela investigação indicam que ele teria mantido encontros com lobistas interessados na aprovação de medidas provisórias. Questionado sobre o assunto, Eliseu Padilha tentou mostrar tranquilidade.
“A citação é absolutamente irrelevante. Ela se torna relevante quando se converte num inquérito. E não há um inquérito nenhum, e não existe, tanto quanto se saiba, nenhuma iniciativa por parte do Ministério Público solicitando que o doutor Dyogo venha a ser investigado por causa disso. Portanto, no caso dele, foi uma situação de ‘passou o avião’”, disse Padilha.
A fala de Temer também teve momentos de desabafo. "Estamos há 12 dias no governo e de vez em quando abro jornais e revistas e parece que estou há dois anos ou mais no governo", declarou o presidente interino.
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