'Há vários elementos de machismo e misoginia no impeachment', diz Dilma
A presidente afastada, Dilma Rousseff, afirmou ver um componente de machismo a motivar o processo de impeachment contra ela, ao responder uma pergunta durante a sessão de julgamento de seu impeachment, no Senado, na noite desta segunda-feira (29).
“Tem sempre um componente de misoginia e de preconceito contra as mulheres nas ações que ocorreram contra mim”, afirmou Dilma, em resposta à senadora Regina Sousa (PT-PI), que citou o tema.
“O recado que estão dando nesse processo é também para todas as mulheres. Com o seu impedimento eles nos dizem: mulher não pode”, disse a senadora.
Dilma citou como exemplo do machismo contra ela o costume de adjetivarem seu estilo de gestão como o de uma “mulher dura” ou o seu oposto, de ser “sensível” e estar abalada pelo processo no Senado.
“Eu fui descrita como uma mulher dura, e sempre disse que era uma mulher dura no meio de homens meiguíssimos”, disse Dilma em tom irônico. “Eu nunca vi ninguém acusar um homem de ser duro, e a gente sabe que eles são”, afirmou.
“Muitas vezes disseram para mim: mas você é sensível. Esta afirmação é estarrecedora, porque significa que conseguiram construir em torno de mim um nível de desumanização muito alto”, disse a presidente.
Discurso
Ao iniciar sua fala, Dilma fez um discurso de quase 50 minutos na manhã desta segunda-feira, em que se disse injustiçada e chamou o processo de impeachment de "golpe".
Em seguida, ela passou a responder a perguntas dos 51 senadores que se inscreveram para fazer questionamentos.
Os advogados autores da denúncia do impeachment, que representam a acusação, também poderão fazer perguntas, assim como o advogado de defesa da presidente, o ex-ministro da Justiça José Eduardo Cardozo.
Próximos passos
Após o fim do depoimento de Dilma, a acusação e a defesa terão uma hora e meia cada para considerações finais sobre o processo. Em seguida, há mais uma hora de fala para cada lado para réplica e tréplica.
Depois da fase de debate entre acusação e defesa, os 81 senadores podem falar por 10 minutos sobre o processo de impeachment.
Por fim, antes de ser aberta a votação, dois senadores falam pela acusação contra a presidente e dois, em sua defesa, por cinco minutos cada um.
Em seguida, o presidente do STF (Supremo Tribunal Federal), Ricardo Lewandowski, abre a votação, para que os senadores julguem Dilma pelo voto.
O impeachment é aprovado apenas se tiver o apoio de 54 senadores. Se for condenada, Dilma perde definitivamente o cargo e fica proibida de ocupar cargos públicos por oito anos.
O presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), disse acreditar que o julgamento se encerre na madrugada da quarta-feira (31).
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