Governo precisa de placar amplo no Senado em teste pós-Calero
A votação da PEC do teto de gastos em primeiro turno no Senado nesta terça-feira (29) pode ser um teste decisivo para o governo. Será a primeira oportunidade de Michel Temer mostrar que a turbulência associada às saídas dos ministros Geddel Vieira Lima e Marcelo Calero não afetou aquela que é tida como uma das mais destacadas características do presidente: a capacidade de mobilizar votos no Congresso, demonstrada em várias votações. Mas, para sufocar a crise, não basta aprovar a PEC. A vitória terá de ser grandiosa.
Se a PEC for aprovada com, pelo menos, 60 votos será um resultado positivo para o governo, que terá mostrado "coesão forte" de sua base no Congresso, mesmo após um período complicado com as denúncias feitas pelo ex-ministro da Cultura, diz o cientista político Ricardo Sennes, diretor da Prospectiva Consultoria. Seria um sinal animador sobre a capacidade do governo de tocar reformas ainda mais desafiadoras, como a da Previdência.
Uma vitória por placar apertado, muito abaixo de 60, por sua vez, mostraria um quadro complicado, diz Sennes. Revelaria que o enfraquecimento do apoio ao governo, que já vinha sendo observado tenuemente em votações recentes, se agravou. Na Câmara, a fidelidade dos parlamentares ao governo, segundo dados compilados pela Prospectiva, recuou de 71% dos votos em maio para 65% agora em novembro.
Uma derrota da PEC, tida como improvável, seria uma "bomba atômica", diz Sennes. Sem base popular, o governo estaria perdendo seu único pilar, que é o apoio do Congresso. Por isso, o analista considera que o presidente acerta ao se empenhar em obter uma votação o mais forte possível. Romero Jucá (PMDB-RR), líder do governo no Congresso, disse que projeta entre 62 e 65 votos de senadores a favor da medida.
O mercado financeiro conta com a vitória do governo na PEC do teto. O teste definitivo na reconquista da confiança dos investidores, contudo, só deve vir com a reforma da Previdência, que o governo pode enviar ao Congresso este ano para ser votada em 2017. Isso porque não será tarefa simples cumprir o teto de gastos aprovado agora se as despesas com aposentadoria continuarem subindo sem parar. "Sem uma reforma robusta da Previdência, será difícil manejar o orçamento", diz Ronaldo Patah, estrategista do UBS Brasil Wealth Management.
A aprovação da reforma da Previdência é vista como fundamental para reafirmar o cenário base do mercado para o próximo ano, que inclui a retomada do crescimento e queda da inflação e dos juros, combinadas a uma relativa estabilidade do câmbio. Patah, por exemplo, considera que, com as reformas, o dólar poderá cair para até R$ 3,00 num período entre seis e 12 meses. Mesmo que o Fed suba sua taxa de juros, o diferencial em relação à Selic brasileira deve continuar atrativo para o investidor aplicar em renda fixa no Brasil.
O estrategista do UBS Wealth trabalha com uma projeção um pouco melhor do que a média do mercado para o PIB no próximo ano, mesmo após a onda de volatilidade causada pela eleição de Trump nos EUA. Após uma recessão de -3,6% em 2016, a instituição prevê expansão de 1,3% no próximo ano, puxado pelos investimentos, reposição de estoques e o programa de concessões do governo. Em 2018, PIB deve crescer 2,6%.
Além de uma alta gradual dos juros do Fed, o cenário mais otimista do mercado já leva em conta também a ocorrência ocasional de turbulências políticas internas, como a verificada nos últimos dias. Além da sobrevivência do governo Temer, que ainda não é colocada em dúvida apesar do pedido de impeachment pela oposição, a única condição que o mercado considera crucial para manter a confiança é que essas turbulências não prejudiquem as reformas.
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