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"Marisa morreu triste", diz Lula no velório da ex-primeira-dama

Conheça a trajetória da ex-primeira-dama Marisa Letícia

UOL Notícias

Janaina Garcia

Do UOL, em São Bernardo do Campo

04/02/2017 15h29Atualizada em 04/02/2017 18h21

Um ato ecumênico e um discurso de forte apelo político contra as reformas propostas pelo governo de Michel Temer (PMDB) e em defesa de Marisa Letícia marcaram, neste sábado (4), em São Bernardo do Campo (Grande São Paulo), o fim do velório da ex-primeira-dama.

Em um discurso emocionado e interrompido pelo choro mais de uma vez, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva chamou de "facínoras" aqueles que "levantaram leviandades" contra a mulher --ré, ao lado dele, em processos da Operação Lava Jato

A ex-primeira-dama morreu na sexta-feira (3) em função de um AVC (acidente vascular cerebral) do tipo hemorrágico.

"Marisa morreu triste porque a canalhice, a leviandade e a maldade que fizeram com ela...", disse Lula, que discursou por aproximadamente 20 minutos.  "Acho que ainda vou viver muito, porque quero provar para os facínoras...que eles tenham um dia a humildade de pedir desculpas a essa mulher."

"Esse homem que está enterrando sua mulher hoje não tem medo de ser preso", afirmou o ex-presidente. "Descanse em paz, Marisa. O seu 'Lulinha Paz e Amor' vai ficar aqui para brigar por você."

O discurso marcou o encerramento do velório por volta das 15h30. Por lá, passaram 20 mil pessoas, de acordo com o Sindicato dos Metalúrgicos do ABC.  A Polícia Militar não fez estimativa de público.

Após a fala de Lula, foi pedido ao público presente que se retirasse para que os familiares e amigos se despedissem de Marisa Letícia com privacidade. O corpo foi cremado no cemitério Jardim da Colina, em cerimônia reservada à família.

Pé de frango no Alvorada

Lula rememorou casos dos mais de 40 anos em que estava casado com Marisa Letícia --dos jantares no Palácio do Alvorada às viagens oficiais, à época em que Lula ocupava a Presidência (2003-2006/2007-2010).

Lula e Marisa, nos anos 1970 - Reprodução/Fundação Perseu Abramo - Reprodução/Fundação Perseu Abramo
Lula e Marisa, nos anos 1970
Imagem: Reprodução/Fundação Perseu Abramo

Em uma dessas ocasiões, citou, a então primeira-dama teve um ataque de risos, enquanto comia, ao conjecturar, com o marido, que dificilmente cozinheiros e garçons do palácio teriam, em alguma outra oportunidade, comido pé de frango.

"Ela criou os filhos praticamente sozinha. Ela foi mãe, foi pai, foi tia, foi avó, foi tudo. E ela nunca reclamou da vida", disse emocionado o ex-presidente.

Ré na Lava Jato

Dona Marisa era ré em uma ação penal, junto com o marido, na Operação Lava Jato. Eles respondem pelos crimes de corrupção passiva e lavagem de dinheiro em contratos firmados entre a Petrobras e a Odebrecht.

Segundo o Ministério Público, Lula recebeu propina da empreiteira Odebrecht por intermédio do ex-ministro da Fazenda Antonio Palocci, que também virou réu na ação, ao lado do empreiteiro Marcelo Odebrecht, e outras cinco pessoas.

De acordo com a investigação, o dinheiro foi usado para comprar um terreno, que seria usado para a construção de uma sede do Instituto Lula (R$ 12,4 milhões), e um apartamento em frente ao que mora em São Bernardo do Campo, na Grande São Paulo (R$ 504 mil).

A defesa de Lula informou que o ex-presidente aluga o apartamento vizinho ao seu. Além disso, acrescentou que o Instituto Lula funciona no mesmo local há anos e que o petista nunca foi proprietário do terreno em questão.

Segundo os advogados do ex-presidente, a transação seria um "delírio acusatório".