'Desenterrado', projeto de terceirização foi aprovado sem discussão no Senado em 2002
Com quórum baixo e sem discussão. Foi assim que o Senado aprovou, ainda em 2002, o projeto de lei que libera a terceirização ampla e que foi votado na última quarta-feira (22) em sessão na Câmara dos Deputados, esperando agora a sanção presidencial. Há pouco mais de 14 anos, a pauta, criada por um ministro do então governo Fernando Henrique Cardoso, foi aprovada sem debate em uma rápida sessão no plenário.
O projeto de lei aprovado permite a contratação terceirizada de trabalhadores em qualquer ramo de atividade econômica e em parte do setor público. Como é agora, uma fábrica de parafusos, por exemplo, não pode terceirizar trabalhadores de sua linha de produção, mas poderia contratar dessa forma serviços de limpeza ou alimentação. A nova lei, se sancionada, permitirá que toda a linha de produção seja terceirizada.
Às 14h30 de 16 de dezembro de 2002, estavam presentes no plenário 44 dos 81 senadores, pouco mais da metade, segundo os registros oficiais. A sessão não foi comandada pelo presidente do Senado à época, Ramez Tebet (PMDB-MS), mas sim pelo primeiro vice, Edison Lobão (PFL-MA, atual DEM), hoje filiado ao PMDB e presidente da CCJ (Comissão de Constituição e Justiça) no Senado.
Segundo os registros, Lobão não ouviu os argumentos dos colegas para votar o texto. Ele abriu a discussão do projeto em um primeiro momento junto com a apreciação de uma emenda. “Não havendo quem peça a palavra, encerro a discussão”, disse.
A emenda foi aprovada e o texto foi reescrito para que fosse apreciado na sequência. Nova leitura, mas, desta vez, da íntegra do projeto de lei. Lobão, então, informou:
“Estando a matéria em regime de urgência, passa-se à imediata apreciação da redação do vencido, em turno suplementar.
A Presidência esclarece ao Plenário que poderão ser oferecidas emendas à proposição até o encerramento da discussão.
Em discussão. (Pausa.)
Se nenhum dos Srs. Senadores desejar fazer uso da palavra, encerrarei a discussão.
Encerrada a discussão, sem apresentação de emendas, a matéria é considerada definitivamente adotada, sem votação, nos termos do artigo 284 do regimento interno.
A matéria volta à Câmara dos Deputados.”
Dos 44 senadores que participaram daquela sessão, quatro estão hoje no Senado: Edison Lobão (PMDB-MA), Antonio Carlos Valadares (PSB-SE), José Agripino Maia (DEM-RN) e Romero Jucá (PMDB-RR), atual líder do governo e relator do projeto da terceirização no Senado.
Tramitação
Elaborado pelo então ministro do Trabalho Paulo Paiva, o projeto chegou à Câmara dos Deputados em 19 de março de 1998. Até ser aprovado, em 13 de dezembro de 2000, ele passou pela Comissão de Trabalho, de Administração e Serviço Público, onde ficou sob a relatoria do deputado Jair Meneguelli (PT-SP).
No Senado, a velocidade de tramitação foi semelhante. O texto chegou em 3 de janeiro de 2001 e foi aprovado em 16 de dezembro de 2002, após ficar na Comissão de Assuntos Sociais, sob responsabilidade de Jucá, na época, senador pelo PSDB.
O projeto, que passou por novas alterações, foi remetido à Câmara para aprovação final, só concluída 14 anos depois, na votação da última quarta-feira.
Ele passou pelas comissões de Constituição, Justiça e Cidadania, e de Trabalho, Administração e Serviço Público. Nesta última, o relator foi o então deputado Sandro Mabel (PR-GO), que, hoje, é assessor especial do presidente Michel Temer (PMDB).
Em 2003, o então presidente, Luiz Inácio Lula da Silva (PT), em seu primeiro ano de mandato, tentou barrar o projeto. Ele enviou uma mensagem à Câmara pedindo sua retirada. A pauta continuou tramitando, mas sem velocidade.
Mabel só foi apresentar seu relatório em agosto de 2008. Na outra comissão, o texto não parava com um deputado. Entre 2003 e 2015, foram cinco nomes diferentes, até chegar a Laércio Oliveira (Solidariedade-SE), em novembro daquele ano. Seu parecer ficou pronto em dezembro de 2016.
Pouco mais de 19 anos depois de criado, o projeto foi apreciado pelo plenário da Câmara no último dia 22, às 20h45. Dos 513 deputados atuais, 428 participaram da sessão, que durou quase cinco horas e foi aprovada por 232 votos a 188 (e oito abstenções).
A discussão foi aberta pouco antes das 16h e deputados da oposição passaram a criticar o projeto pelas horas a seguir. “Este projeto é um projeto que já estava morto. Este projeto é um cadáver que cheira mal”, disse Paulo Pimenta (PT-RS). “Este debate não é da terceirização, este debate é sobre as relações sociais”, comentou Afonso Motta (PDT-RS).
Já os governistas argumentavam que é necessário facilitar a geração de empregos. "Precisamos de um país competitivo que dispute com o Paraguai, que está levando as nossas indústrias", disse Mauro Pereira (PMDB-RS).
Cerca de duas horas após a aprovação e transcorrida a votação de outros pontos do texto, Maia disse: “os senhores deputados que a aprovam permaneçam como se encontram. (Pausa.) Aprovada. A matéria vai à sanção [presidencial]”.
Saiba quais senadores estavam na sessão de 2002:
- Antero Paes de Barros
- Antonio Carlos Júnior
- Antônio Carlos Valadares
- Arlindo Porto
- Bello Parga
- Carlos Patrocínio
- Edison Lobão
- Eduardo Suplicy
- Emília Fernandes
- Francelino Pereira
- Freitas Neto
- Geraldo Althoff
- Geraldo Cândido
- Geraldo Melo
- Gilberto Mestrinho
- Heloísa Helena
- Iris Rezende
- Jonas Pinheiro
- José Agripino
- José Eduardo Dutra
- José Fogaça
- José Jorge
- Juvêncio da Fonseca
- Lindberg Cury
- Lúcio Alcântara
- Lúdio Coelho
- Luiz Otavio
- Luiz Pastore
- Maria do Carmo Alves
- Marina Silva
- Mauro Miranda
- Mozarildo Cavalcanti
- Nabor Júnior
- Ney Suassuna
- Olivir Gabardo
- Osmar Dias
- Paulo Souto
- Pedro Simon
- Ricar do Santos
- Romero Jucá
- Tião Viana
- Valmir Amaral
- Waldeck Ornelas
- Wellington Roberto
ID: {{comments.info.id}}
URL: {{comments.info.url}}
Ocorreu um erro ao carregar os comentários.
Por favor, tente novamente mais tarde.
{{comments.total}} Comentário
{{comments.total}} Comentários
Seja o primeiro a comentar
Essa discussão está encerrada
Não é possivel enviar novos comentários.
Essa área é exclusiva para você, assinante, ler e comentar.
Só assinantes do UOL podem comentar
Ainda não é assinante? Assine já.
Se você já é assinante do UOL, faça seu login.
O autor da mensagem, e não o UOL, é o responsável pelo comentário. Reserve um tempo para ler as Regras de Uso para comentários.