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Palocci e Mantega cuidaram de caixa 2 no PT, diz mulher de João Santana a Moro

Marqueteiro João Santana é escoltado pela PF em Curitiba (PR), com Mônica ao fundo - Rodolfo Buhrer/Reuters
Marqueteiro João Santana é escoltado pela PF em Curitiba (PR), com Mônica ao fundo Imagem: Rodolfo Buhrer/Reuters

Bernardo Barbosa

Do UOL, em São Paulo

18/04/2017 20h32Atualizada em 18/04/2017 23h03

A empresária Mônica Moura, mulher e sócia do publicitário João Santana, disse nesta terça (18) em depoimento ao juiz Sérgio Moro no âmbito da Operação Lava Jato que Antonio Palocci e Guido Mantega, ex-ministros dos governos Lula e Dilma, foram seus interlocutores no PT para a definição de quanto seria pago via caixa 2 pelo trabalho em campanhas eleitorais do partido.

Segundo Mônica, Palocci foi seu contato no partido para a definição do dinheiro a ser pago irregularmente nas eleições de 2006, 2008, 2010 e 2012. Já Mantega teria atuado no pleito de 2014.

A empresária também relatou que Palocci por vezes a orientava a procurar seu ex-assessor Branislav Kontic para resolver atrasos de pagamentos em caixa 2. A empresária afirma que encontrou-se com Kontic “várias vezes no escritório do Palocci em São Paulo” para tratar destas questões.

Já João Santana afirmou ter tratado com Palocci sobre pagamentos em caixa 2 relativos às campanhas do ex-presidentes Luiz Inácio Lula da Silva e Dilma Rousseff em 2006 e 2010, respectivamente.

O depoimento concedido nesta terça pelo casal faz parte da ação penal em que Palocci é réu por corrupção e lavagem de dinheiro. O ex-ministro está preso preventivamente, por decisão de Moro, desde setembro de 2016, quando foi detido na 35ª fase da Operação Lava Jato.

“Que não se repita o mesmo erro”

Santana disse ter conhecido Palocci em 1996, quando o ex-ministro deixava o cargo de prefeito de Ribeirão Preto, e retomaram o contato em 2005, visando à campanha de Lula à reeleição no ano seguinte.

O marqueteiro contou ter sido convidado pelo então ministro Gilberto Carvalho para conversar com Lula pessoalmente no Palácio do Planalto. Como o PT era acossado pelo estouro do escândalo do mensalão, o presidente perguntou se Santana “poderia ajudá-lo” naquele momento.

Segundo Santana, naquela reunião, datada de 24 de agosto de 2005, Lula disse que o marqueteiro deveria tratar de “detalhes mais burocráticos” com Palocci, na época ministro da Fazenda. Palocci então sondou o marqueteiro para trabalhar para o PT.

“Eu falei para ele: Olha, Palocci, tudo bem. O que eu imagino é que vocês estão vivendo uma crise muito profunda por causa de financiamento ilegal de campanha, e que não se repita o mesmo erro”, disse o publicitário.

No entanto, Santana disse ter sido procurado por Palocci em maio de 2006, quando o ministro o comunicou que a campanha não poderia ser paga apenas com recursos legais. A solução dada por Palocci foi justamente o pagamento via caixa 2 pela Odebrecht.

Mais “segurança” no exterior

De acordo com a Mônica Moura, Palocci era o responsável por definir os valores a serem pagos e por indicar quem ela deveria procurar para receber o caixa 2, em parte pago pelo grupo Odebrecht. O ex-tesoureiro João Vaccari Neto, por sua vez, cuidaria da operação do pagamento da parte do caixa 2 que cabia ao PT.

O restante do caixa 2, segundo Mônica, era pago pela Odebrecht, quase sempre em contas no exterior. De acordo com a empresária, a Odebrecht sempre “queria pagar tudo no exterior”, alegando que “era mais seguro”. Ela disse não saber se Palocci tinha conhecimento de que pagamentos de caixa 2 via Odebrecht eram feitos no exterior.

Segundo ela, a empreiteira pagou, usando caixa 2, parte dos gastos da campanha presidencial de Dilma Rousseff (PT) em 2010. O valor total seria de, no mínimo, R$ 15 milhões.

De acordo com Mônica, “R$ 5 milhões ou R$ 6 milhões” foram pagos em espécie ainda em 2010. No ano seguinte, mais R$ 10 milhões foram depositados pela Odebrecht em uma conta não declarada do casal no exterior, chamada Shellbill.

“Eles pagaram uma parte em dinheiro, no Brasil, durante a campanha, e pagaram uma parte na Shellbill no ano seguinte”, declarou Mônica.

Procurados pela reportagem do UOL, os advogados da ex-presidente Dilma no TSE, Flávio Caetano, e dos ex-ministros Guido Mantega e Antonio Palocci, José Roberto Batocchio, não responderam às ligações nem as mensagens de texto enviadas.