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Lula queria ser candidato em 2014 e Dilma não aceitou, diz delatora

Do UOL, em Brasília

12/05/2017 21h01

A empresária Mônica Moura, mulher e sócia do marqueteiro João Santana, afirmou em sua delação premiada que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) queria ser candidato nas eleições presidenciais de 2014, e que isso não ocorreu por que sua sucessora, Dilma Rousseff (PT), não aceitou abrir mão de tentar a reeleição.

Monica Moura atribuiu a informação a um relato feito pelo marido na época. Por meio de notas, Lula e Dilma disseram que o casal, que trabalhou em diversas campanhas do PT, como a de Lula, em 2006, e as duas de Dilma, em 2010 e 2014, mentiu nas declarações. O casal foi preso em fevereiro de 2016, na 23ª fase da Operação Lava Jato, sob suspeita de receber pagamentos com origem em dinheiro desviado da Petrobras, e deixaram a cadeia em agosto do mesmo ano.

A Justiça Federal em cinco Estados (Paraná, São Paulo, Rio Grande do Norte, Sergipe e Mato Grosso do Sul), o STJ (Superior Tribunal de Justiça) e o próprio STF são os destinos dos pedidos de providência encaminhados pela PGR (Procuradoria-Geral da República) à Corte com base nas delações dos três. São citados 16 políticos em 21 petições.

Mônica falou sobre o impasse entre os ex-presidentes petistas depois que uma representante da PGR lhe questionou se houve participação de Lula para tentar resolver os atrasos no pagamento da campanha ao casal por parte da construtora Odebrecht, por fora.

"Em 2014, o Lula não entrou em relação a dinheiro. Na verdade, em 2014, houve um certo estremecimento entre o Lula e a Dilma, acho que isso é do conhecimento de todos. Os jornais especulavam bastante na época, eles negavam, mas é verdade. Porque o Lula queria ser candidato e a Dilma não aceitou", declarou a empresária.

Segundo Mônica, Dilma "queria a reeleição dela". "Ela se sentia forte. Isso era conversa dela com o João, eu nunca tive esse tipo de conversa com a Dilma. Depois é que o João me contava". "O Lula queria ser candidato em 2014, voltar. Era tipo assim: em 2010 ele sai, bota a apadrinhada dele lá, mas em 2014 ele volta para ser o candidato. E aí houve um certo estremecimento", completou.

Ela contou ainda que Lula ia "de vez em quando" na produtora do casal gravar apoio para o programa eleitoral de Dilma --"porque não ia colocar em risco também a eleição dela". "Mas ele não se envolveu com dinheiro dessa vez, não. Foi totalmente com a Dilma, tudo com a Dilma. Falei com ela todas as vezes", informou.

Os vídeos com os depoimentos de Mônica e de seu marido foram divulgados pelo STF (Supremo Tribunal Federal) nesta sexta-feira (12). O acordo com a PGR, firmado em março deste ano, também envolveu André Santana, que trabalhava para a empresária. Um mês depois, as delações foram homologadas pelo ministro Edson Fachin, do STF, relator da Lava Jato na Corte.

"Nem um tostão"

Em sua delação, João Santana também afirmou que Dilma assumiu o "controle da gestão financeira" da campanha de 2014. Segundo o marqueteiro, a ex-presidente marcou um encontro, no início de 2014, para "tranquilizá-lo" sobre a forma de custear a campanha, que passaria a ser gerenciada pelo então ministro da Fazenda Guido Mantega.

"Ela disse: 'eu quero primeiro lhe tranquilizar em relação à campanha de 2014. Eu estou criando um sistema que você pela primeira vez poderá ser pago até antecipadamente'", relatou Santana. O sistema, descreveu o delator, excluiria o então tesoureiro do PT, João Vaccari Neto.

A empresária disse ter "dado por perdido" o pagamento da Odebrecht em meados de 2015, quando a Operação Lava Jato prendeu o então presidente da construtora, Marcelo Odebrecht. "Essa campanha não nos deu R$ 1 de lucro. Porque todo lucro que a gente teria para receber depois ficou travado", declarou.

"Dilma me pedia paciência, [dizia] que eles iam resolver. Acabaram não resolvendo nunca. Era exasperador para mim, porque a gente trabalhou o ano inteiro sem descanso, porque campanha é de domingo a domingo, não tem parada de feriado, não tem horário, a gente sai todo dia meia-noite, 1h da manhã. Sem eu ver meus filhos, minha família... Foi um ano tenso para não ganhar um tostão", relatou Mônica.