Topo

Renan defende renúncia e eleições indiretas: "Temer compreenderá seu papel"

O líder do PMDB no Senado, Renan Calheiros, conversa com o presidente Michel Temer - Ueslei Marcelino-12.mar.2016/Reuters
O líder do PMDB no Senado, Renan Calheiros, conversa com o presidente Michel Temer Imagem: Ueslei Marcelino-12.mar.2016/Reuters

Gustavo Maia

Do UOL, em Brasília

22/05/2017 19h40Atualizada em 22/05/2017 20h53

Em vídeo de apenas 33 segundos divulgado no início da noite desta segunda-feira (22), o senador Renan Calheiros (PMDB-AL) tornou pública a sua opinião sobre "a saída para a crise" política deflagrada pela delação dos executivos do grupo J&F, que levou à abertura de inquérito contra o presidente Michel Temer, seu correligionário.

Discutida reservadamente com lideranças políticas, entre elas o ex-presidente e ex-senador peemedebista José Sarney, durante esse fim de semana, a sugestão para que Temer renuncie ao cargo foi revelada em declaração sutil, cuidadosamente construída depois que texto divulgado por ele no sábado (20) não foi entendido por aliados como um posicionamento claro o suficiente.

"Eu tenho absoluta convicção de que o presidente da República compreenderá o seu papel e ajudará na construção de uma saída", declara Calheiros na gravação realizada em sua casa, em Brasília, no fim da tarde. O ex-presidente do Senado, hoje líder do PMDB na Casa, começou sua fala dizendo que a OAB (Ordem dos Advogados do Brasil) "se equivoca ao propor o impeachment".

"O impeachment, como vocês sabem, não traz consigo uma solução para a crise. Pior, pode agravá-la. Falo isso com a responsabilidade de quem conduziu o processo anterior", disse o peemedebista, que era presidente do Senado durante o impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff (PT), no ano passado.

A avaliação de Renan, segundo apurou o UOL, é que um novo processo de afastamento faria o país "sangrar" e que a saída mais adequada seria a saída voluntária de Temer, seguida de eleição indireta --realizada pelo Congresso Nacional. Para o ano que vem, ele defende a convocação de uma Assembleia Constituinte em conjunto com eleições gerais.

Foi isso que o senador quis transmitir ao declarar que "nós precisamos construir uma saída na Constituição que garanta eleições gerais em 2018, e Assembleia Nacional Constituinte". "Fora disso, é o imponderável", vaticina.

Por ser líder da bancada de seu partido no Senado, Renan entendeu que não poderia pedir abertamente a renúncia do presidente. Não à toa, a descrição que acompanhou o vídeo, publicado em suas redes sociais, foi "o que penso sobre a saída para a crise".

Nas últimas semanas, o peemedebista foi enquadrado por correligionários por se posicionar contra as reformas da Previdência e trabalhista, principais projetos do governo federal. A sua destituição da liderança chegou a ser cogitada, com o apoio do Palácio do Planalto.

Renan rompeu o silêncio sobre a crise política com a divulgação de texto, no sábado à noite, no qual classificou o atual cenário como "pedagógico" e disse que as dificuldades não podem "comprometer os esforços para superar nossos problemas".

"O erro dos governos recentes --e por isso se desgastaram rapidamente-- foi não ter exercido protagonismo na solução de saídas para o grave impasse que imobiliza e ameaça o país há três anos. Precisamos superar essa crise rapidamente em nome da esperança e do futuro", escreveu.

"As crises (a atual é política e muito grave) são pedagógicas. Elas forçam o engenho na busca de alternativas para que a nação não purgue pelos pecados de seus dirigentes. Mas ela não pode --e não irá-- comprometer os esforços para superar nossos problemas", completou o senador.

Citado em delação

Os acordos de colaboração dos executivos da J&F incluem o próprio Renan na lista de políticos que, direta ou indiretamente, teriam obtido vantagens ilícitas.

Em sua delação, Ricardo Saud, ex-diretor de Relações Institucionais da JBS (grupo pertencente à holding J&F), disse ter comprado o apoio de Renan, na casa do senador, que confirmou o encontro, mas negou ter tratado de atos ilícitos. O pagamento teria sido feito aos parlamentares por meio de doações eleitorais.

"A citação do delator é fantasiosa. O fato de ele ter ido a minha casa não significa que tenho qualquer relação com seus atos criminosos. Ele ou qualquer outro delator jamais falaria comigo sobre propina ou caixa 2. Se fizesse isso, eu teria mandado prende-lo", diz a nota.

Ao dizer que mandaria prender o executivo, Renan fez menção indireta a Temer, que, em gravação feita por Joesley Batista, dono da JBS, ouviu o empresário falar de iniciativas para tentar frear investigações. O presidente não denunciou Batista e se justificou dizendo não ter acreditado em "fanfarronices" de um "falastrão".