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Quatro delatores depõem a Moro, mas Lula só é citado uma vez

11.mai.2015 - O ex-diretor da Petrobras Nestor Cerveró permanece em silêncio durante sessão de depoimento na Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Petrobras, realizada na Justiça Federal, em Curitiba (PR) - Geraldo Bubniak/AGB/Estadão Conteúdo
11.mai.2015 - O ex-diretor da Petrobras Nestor Cerveró permanece em silêncio durante sessão de depoimento na Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Petrobras, realizada na Justiça Federal, em Curitiba (PR) Imagem: Geraldo Bubniak/AGB/Estadão Conteúdo

Do UOL, em São Paulo

26/05/2017 19h39

Em uma audiência marcada para ouvir quatro testemunhas de acusação contra o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, apenas uma delas foi questionada sobre relação do petista com o apartamento em São Bernardo do Campo, na Grande São Paulo, e um terreno que seria destinado ao Instituto Lula. Os depoimentos aconteceram no início da tarde desta sexta-feira (26).

O juiz federal Sergio Moro ouviu Nestor Cerveró, ex-diretor da Petrobras, o doleiro Alberto Yousseff e os lobistas Milton Pascowitch e Fernando Soares, conhecido como Fernando Baiano. Todos eles fizeram acordo de delação e estão cumprindo penas no âmbito da Operação Lava Jato. 

Apenas Cerveró foi interpelado, tanto por Moro quanto pelo advogado de Lula Cristiano Zanin Martins, se poderia dar alguma informação sobre os imóveis que são alvos do processo. "Não tenho nenhum conhecimento quanto a isso", respondeu o delator.

A denúncia do MPF acusa o ex-presidente pelos crimes de corrupção passiva e lavagem de dinheiro em contratos firmados entre a Petrobras e a Odebrecht. O ex-presidente foi apontado como o "responsável por comandar uma sofisticada estrutura ilícita para captação de apoio parlamentar, assentada na distribuição de cargos públicos na administração federal".

Segundo o MPF, o petista teria recebido propina da empreiteira por intermédio do ex-ministro da Fazenda Antonio Palocci --também réu na ação, junto a Marcelo Odebrecht e outras cinco pessoas. Os procuradores afirmam que parte do dinheiro foi destinada para comprar um terreno, que seria usado para a construção de uma sede do Instituto Lula (R$ 12,4 milhões).

A denúncia diz ainda que o dinheiro de propina também foi usado para comprar um apartamento vizinho à cobertura onde mora o ex-presidente, em São Bernardo do Campo (SP), que é alugado pela família de Lula. Na avaliação dos investigadores, a operação foi realizada para ocultar o verdadeiro dono do apartamento, que seria Lula.

A defesa do ex-presidente vem afirmando que ele aluga o apartamento vizinho ao seu. Também argumenta que o Instituto Lula funciona no mesmo local há anos e que o petista nunca foi proprietário do terreno em questão. 

Audiências rápidas

Durante as audiências, os membros do MP perguntaram aos delatores se gostariam de retificar o que já havia sido tratado na delação de cada um. Todos se negaram a fazer alteração e confirmaram detalhes do que trataram em depoimentos anteriores. 

Youssef, por exemplo, confirmou pagamentos de propina em obras da Petrobras pelas empreiteiras Odebrecht, Andrade Gutierrez, Queiroz Galvão, Camargo Corrêa, OAS e UTC. O doleiro reafirmou também que nas obras do Complexo Petroquímico do Rio de Janeiro - Comperj, houve pagamento de propina e que parte do dinheiro foi destinada ao PMDB.

O MP também questionou Fernando Baiano sobre a intermediação de pagamentos de vantagens indevidas de contratos da Petrobras em favor de Paulo Roberto Costa e de Nestor Cerveró, ambos ex-diretores da Petrobras. Soares confirmou as ações e ressaltou que políticos do PT e PMDB pediam dinheiro e que os valores eram retirados de contratos da área internacional da estatal. No caso do PMDB, os políticos citados foram Renan Calheiros, Jader Barbalho e Romero Jucá, além do ex-ministro de Minas e Energia, Silas Rondeau.

No total, as audiências dos quatro duraram, juntas, 42 minutos e 56 segundos. Sem muitas perguntas, cada um prestou, em média, um depoimento de 10 minutos e 44 segundos. 

Outro lado

Os advogados de Lula afirmaram, por meio de nota, que Cerveró foi enfático ao afirmar não ter qualquer informação sobre os dois imóveis alvos da ação. "A indicação de quatro testemunhas que não têm qualquer conhecimento sobre os fatos específicos que integram a denúncia contra Lula reforça o caráter frívolo das acusações ali contidas", diz trecho de texto.