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Protestos não barram tentativa de enterrar denúncia na Câmara, dizem aliados de Temer

Luciana Amaral

Do UOL, em Brasília

14/06/2017 04h00Atualizada em 14/06/2017 09h39

A pressão popular, como manifestações ou pedidos de eleitores, não deve atrapalhar a investida do Planalto na Câmara dos Deputados para barrar a possível denúncia da PGR (Procuradoria-Geral da República) contra o presidente da República, Michel Temer (PMDB), afirmaram aliados do peemedebista ao UOL.

Temer, que responde a um inquérito no STF (Supremo Tribunal Federal), deve ser denunciado pelo procurador-geral da República, Rodrigo Janot, nas próximas semanas, segundo a própria expectativa de auxiliares do presidente.

A tramitação prevista é que Janot apresente a denúncia à presidente do STF, Cármen Lúcia, que, por sua vez, a remete ao presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ). Na Casa, a CCJ (Comissão de Constituição, Justiça e Cidadania) analisará o pedido. Independentemente do resultado no colegiado, a denúncia é votada em plenário. Para barrar a abertura do processo, Temer precisa de pelo menos 171 votos contra a denúncia.

O governo conta com o apoio da maioria dos membros da CCJ e tem conseguido impor suas vontades. A comissão, inclusive, é presidida por um peemedebista, o deputado Rodrigo Pacheco (MG). Nas últimas semanas, por exemplo, a base conseguiu atrasar a análise da PEC (Proposta de Emenda à Constituição) que estabelece eleições diretas em caso de vacância dos cargos de presidente da República e vice a seis meses do fim do mandato.

O Planalto já começou os trabalhos para fortalecer a base aliada na Câmara e, segundo assessores e aliados do presidente, a pressão popular não deve afetar a corrida para assegurar Temer na Presidência. Isso porque as últimas manifestações físicas foram esvaziadas e parte da classe política está descontente com as ações de Janot, avaliam.

“Sinceramente, você acha que os políticos vão ficar do lado de quem? Com o Temer ou com o Janot? O Janot está num ataque aberto contra o presidente. Isso pode afetar os políticos lá na frente. A classe política não concorda com as ações recentes dele”, respondeu um assessor de Temer à reportagem do UOL.

Para um deputado peemedebista da chamada “tropa de choque” do presidente, Janot está politizando suas decisões, ao contrário do juiz federal Sergio Moro, responsável pelos processos da Operação Lava Jato em primeira instância. Outro fator para a relativa paz que os deputados devem ter ao votar a favor de Temer, apontou, é que o povo está “cansado”.

“A tentativa da oposição [em atacar Temer] fracassou. O povo está cansado dessa confusão toda e o governo está trabalhando pela economia. Os índices estão melhorando, os empresários também estão mais satisfeitos. Tem que passar as reformas”, afirmou.

Para outro parlamentar aliado de Temer, as únicas manifestações que se veem são “showmícios”, junção de shows artísticos e comícios, com o objetivo de aprovar a prerrogativa de eleições diretas no país em favor do PT. Mesmo esses eventos, falou, não estão com tanta força quanto o esperado.

“O movimento de artistas não está conseguindo levar as pessoas nem aos shows. Isso é parte de um ato para ter eleições diretas e o [ex-presidente] Lula se eleger antes de ser condenado”, declarou.

O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva é réu em cinco ações penais, sendo três no âmbito da Lava Jato, e já manifestou apoio à realização de eleições diretas para a Presidência no caso da saída de Michel Temer do cargo. Em evento no mês passado, Lula disse que “dá vontade de disputar” uma eventual eleição diante da “provocação” a ele.

O líder da minoria na Câmara, deputado José Guimarães (PT-CE), porém, rebateu a acusação do governista e afirmou que a “toalha” do PT são as eleições indiretas, como determina a Constituição.

“A oposição está mobilizando as ruas”, defendeu.