Mesmo "longe" da crise, Temer tem semana tumultuada na Europa e no Brasil
Ao desembarcar em Brasília na madrugada deste sábado (24), o presidente Michel Temer (PMDB) encerrou uma viagem internacional repleta de momentos incômodos e acabou retornando ao epicentro da crise política que fustiga o seu governo há pouco mais de um mês, quando vieram a público as delações dos executivos do grupo J&F.
Assim como quando decolou rumo à Rússia, na tarde de segunda (19), a maior expectativa a pairar sobre Temer é a de que o procurador-geral da República, Rodrigo Janot, apresente denúncia baseada no inquérito que investiga se ele cometeu os crimes de corrupção passiva, organização criminosa e obstrução de Justiça.
Na quinta-feira (22), o ministro Edson Fachin, relator do processo no STF (Supremo Tribunal Federal), enviou cópias dos autos da investigação à PGR (Procuradoria-Geral da República), que agora tem até a próxima terça (27) para oferecer, ou não, a denúncia que pode levar ao afastamento de Temer da Presidência da República --caso a Câmara dos Deputados autorize o seu recebimento pelo Supremo.
Em relatório preliminar, divulgado na terça (20), a Polícia Federal afirmou ter encontrado "evidências" com "vigor" do envolvimento de Temer na prática de corrupção. Poucas horas antes da chegada do presidente e de sua comitiva ao Brasil, no entanto, ele sofreu um novo revés no processo, com a revelação do resultado da perícia solicitada por ele e realizada pela PF no áudio da sua conversa com o empresário Joesley Batista, um dos donos da JBS.
Os peritos não encontraram interrupções irregulares na gravação. A tese de que a gravação havia sido editada era o principal argumento da defesa de Temer.
Mas não parou por aí. A semana teve ainda outras notícias que causaram dor de cabeça ao presidente, tanto no Brasil quanto no exterior. Relembre a seguir o que mais ocorreu enquanto Temer estava na Europa:
Derrota do governo na reforma trabalhista
Na terça, dia em que chegou a Moscou, na Rússia, Temer viu de longe a reforma trabalhista, uma das principais bandeiras do seu governo, ser derrotada, por 10 votos a 9, na CAS (Comissão de Assuntos Sociais) do Senado, a segunda em que o projeto precisava tramitar antes de poder ir à votação no plenário da Casa. No dia seguinte, a oposição impôs novo revés à base aliada.
Os governistas tiveram de ceder na agenda do projeto e já reconhecem que o texto só será votado em plenário no mês de julho, às vésperas do início do recesso legislativo. Até o início da semana, era dada como certa a votação em plenário na próxima quarta (28).
Um detalhe na votação de terça chamou atenção. Dois dos votos contrários à reforma foram de senadores de partidos da base: Eduardo Amorim (PSDB-SE) e Hélio José (PMDB-DF). O peemedebista foi alvo de retaliação do governo com a demissão de três indicados seus em órgãos do Executivo e partiu para o ataque, acusando Temer de chantagem e cobrando sua renúncia.
Delações validadas
Por 7 votos a 0, a maioria dos ministros do STF votou por manter a validade das delações da JBS e o ministro Edson Fachin como relator do acordo de colaboração premiada. Na quarta (21), primeiro dia de julgamento, Fachin e o ministro Alexandre de Moraes votaram no sentido de manter a relatoria e de chancelar as delações.
Na retomada da análise, na quinta (22), os ministros Luís Roberto Barroso, primeiro a votar, Rosa Weber, Luiz Fux, Dias Toffoli e Ricardo Lewandowski acompanharam este entendimento. Faltam votar, nesta ordem, os ministros Gilmar Mendes, Marco Aurélio Mello, Celso de Mello e a presidente da Corte, Cármen Lúcia. No entanto, a ministra avisou que os demais votos só serão revelados na próxima quarta (28). Os magistrados podem mudar seus posicionamentos até o final do julgamento.
O pedido para remover Fachin da relatoria havia sido proposto pela defesa do governador do Mato Grosso do Sul Reinaldo Azambuja (PSDB) e pela defesa do ex-deputado federal Rodrigo Rocha Loures (PMDB-PR), ambos citados na delação da J&F. Eles defenderam que os donos do grupo são líderes de uma organização criminosa, o que, por lei, impediria que eles recebessem o benefício da imunidade processual, ou seja, não fossem processados pelos crimes que delataram. Assim, pediam também a anulação do acordo.
Gafe e citação à Lava Jato na Noruega
Após encontro com a primeira-ministra da Noruega, Erna Solberg, nesta sexta, último dia da sua visita oficial, o presidente cometeu uma gafe em discurso, quando chamou o monarca do país de "rei da Suécia" ao se referir a um almoço que teria com ele em seguida.
"Embora voltando hoje ao Brasil, desde já com a reunião que tivemos com os empresários, e da reunião que tivemos agora com vossa excelência e mais adiante com o Parlamento e, um pouco mais adiante, com sua majestade, o rei da Suécia, eu já tenho a mais firme convicção de que, embora muito rápida a nossa visita, ela estreita cada vez mais os laços entre Brasil e Noruega”, disse já no final do seu pronunciamento.
No encontro, Solberg demonstrou preocupação com a operação Lava Jato e cobrou "limpeza" do governo brasileiro. "Estamos muito preocupados com a Lava Jato. É importante ter limpeza e soluções boas", disse a jornalistas após reunião bilateral.
Ignorado ao discursar, Temer não atraiu a atenção da imprensa local. Apenas um jornal norueguês estava no evento, com um repórter que fazia sua terceira cobertura desde que se formou na universidade e com apenas 23 anos. Sua pauta para a edição de sexta-feira era a corrupção no Brasil.
Cortes no Fundo Amazônia
Na Noruega, Temer ainda teve que rebater as críticas sobre a atuação do Brasil no combate ao desmatamento elencando medidas do governo nessa área, mencionando a ampliação de parques nacionais.
"Nós vetamos medidas que ampliavam enormemente áreas propícias para o desmatamento. Quero destacar a importância das contribuições da Noruega para o Fundo da Amazônia, ela que tem permitido o policiamento mais efetivo no sentido de evitar o desmatamento do nosso país já que, sem dúvida alguma, o Brasil é uma das mais grandes [sic], senão a maior, reserva ambiental do mundo”, disse.
A premiê norueguesa também expressou preocupação com o aumento do desmatamento na Amazônia e anunciou a redução na doação do país ao Fundo Amazônia. O corte neste ano será de ao menos R$ 166,5 milhões. "Esperamos voltar à boa tendência", disse. Do lado de fora do evento, dezenas de ambientalistas protestavam contra o presidente brasileiro.
*Com Agência Estado
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