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Cabral nega propina, mas admite ter recebido R$ 30 mi em caixa 2 de Eike Batista

FÁBIO MOTTA/ESTADÃO CONTEÚDO
Imagem: FÁBIO MOTTA/ESTADÃO CONTEÚDO

Paula Bianchi

Do UOL, no Rio

31/07/2017 16h29Atualizada em 31/07/2017 20h09

O ex-governador do Rio de Janeiro Sérgio Cabral (PMDB) negou nesta segunda-feira (31) ter recebido US$ 16,5 milhões em propina de Eike Batista em contas no exterior, mas admitiu ter sido beneficiado por caixa dois do empresário, o que chamou de "ajuda financeira de campanha". O interrogatório, que durou cerca de duas horas na sede da 7ª Vara Criminal da Justiça Federal do Rio, foi marcado por embates de Cabral tanto com o juiz Marcelo Bretas quanto com o representante do Ministério Público Federal.

“Não foi propina, foi ajuda financeira de campanha”, afirmou ao dizer que pediu apoio ao empresário para financiar sua campanha em 2010. “Seriam R$ 25 milhões, R$ 30 milhões. Esse dinheiro foi pago no Brasil, em 2010, para a minha campanha eleitoral. Em reais.”

Cabral acrescentou ter "relação institucional com Eike", que cresceu durante o seu governo devido ao desejo do empresário de ajudar o Estado.

O peemedebista, que já havia admitido ter recebido dinheiro de caixa dois em campanhas em sem último depoimento à Justiça, disse que usou “quase a totalidade” dos recursos na política, “nunca para enriquecer”. 

“Jamais estabeleci qualquer tipo de toma-lá-da-cá com o empresário Eike Batista. Li na denúncia do Ministério Público muitos absurdos”, afirmou o ex-governador.

Cabral também solicitou ao juiz Bretas a possibilidade de fazer uma acareação com os doleiros Renato e Marcelo Chebar, que afirmaram à Justiça terem ocultado 100 milhões de dólares no exterior em nome do governador. Segundo ele, os doleiros mentem.

Durante os questionamentos do Ministério Público Federal, Bretas chegou a intervir e ameaçar encerrar o interrogatório, quando o representante do órgão e Cabral começaram a discutir. O MPF questionou o porquê de os doleiros terem entregue US$ 100 milhões à Justiça se contra eles não havia nenhum processo.

“Por que razão eles entregaram esse dinheiro no dia 5 de dezembro e o acordo de delação foi fechado no dia 8?”, rebateu Cabral, sendo interrompido pelo magistrado.

"O MP fez um trabalho minucioso de verificação. Esses US$ 100 milhões estavam em seu nome e é verdade que havia esse pagamento de 5% de propina", afirmou o procurador.

"Se teve a taxa de 5% na Secretaria de Obras eu não tenho nada a ver com isso. O secretário de obras é o atual governador", respondeu o ex-governador, bastante inflamado.

Eike indica desejo de colaborar com a Justiça

Eike Batista, que também prestou depoimento nesta segunda-feira ao juiz Marcelo Bretas, se manteve em silêncio durante a maior parte do depoimento. Ele está preso preventivamente desde janeiro, quando foi deflagrada a operação Eficiência, um desdobramento da Calicute, braço da Lava Jato que investiga crimes de lavagem de dinheiro para ocultar US$ 100 milhões.

Questionado sobre sua relação com Cabral e suposto pagamento de propina para o ex-governador, Eike disse que queria "colaborar com a Justiça", mas que iria se manter em silêncio sobre o assunto por orientação de sua defesa.

Bretas o questionou sobre o grau de intimidade com o ex-governador, a quem chegou a emprestar um avião. O empresário disse ter três aeronaves e receber muitos pedidos. "É difícil você dizer não ao governador de usar o seu maquinário", afirmou ele, antes de ser interrompido por um dos seus advogados sobre a orientação de permanecer em silêncio.

Eike é acusado de pagar US$ 16,5 milhões em propina para Cabral para conseguir vantagens para seus negócios no Rio. Além disso, teria simulado a prestação de serviços do escritório de advocacia de Adriana Ancelmo, mulher do ex-governador.

Ancelmo: ex-sócio conduziu processos de Eike

Também envolvida na Eficiência, a ex-primeira-dama Adriana Ancelmo disse nesta segunda-feira ter relação exclusivamente institucional com Eike e afirmou não saber por que e quais valores seu escritório recebeu do empresário.

"Eu não sei exatamente qual o trabalho realizado [pelo meu escritório para as empresas de Eike], uma vez que o meu sócio Sérgio Coelho ficou à frente das três demandas que surgiram envolvendo a REX [empresa de Eike]." Em depoimento de 20 minutos, Adriana disse ainda que conheceu Godinho na prisão, ao visitar Cabral, e que nunca tratou de nenhum valor com ele, Eike ou qualquer outro empresário do grupo.

Cabral e MPF batem boca em depoimento

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