"O secretário de Obras era o atual governador", diz Cabral após ser acusado de receber 5% de propina
Em depoimento à Justiça Federal nesta segunda-feira (31) no âmbito da operação Eficiência, um dos braços da Lava Jato no Rio de Janeiro, o ex-governador do Estado Sérgio Cabral (PMDB) negou ter recebido 5% de propina sobre as principais obras no Estado, conforme acusa o MPF (Ministério Público Federal), e insinuou ser necessário questionar o atual governador do Rio, Luiz Fernando Pezão (PMDB).
A assessoria de imprensa de Pezão afirmou que ele não comentará a afirmação.
A audiência foi marcada por embates tanto entre o ex-governador e o juiz da 7ª Vara Criminal Marcelo Bretas --que a defesa de Cabral acusa de ser parcial-- quanto com o procurador.
Durante os questionamentos do MPF, Bretas chegou a intervir e ameaçar encerrar o interrogatório quando o representante do órgão e Cabral começaram a discutir.
O MPF questionou o porquê de os doleiros terem entregue US$ 100 milhões à Justiça se contra eles não havia nenhum processo. “Por que razão eles entregaram esse dinheiro no dia 5 de dezembro e o acordo de delação foi fechado no dia 8?”, rebateu Cabral, sendo interrompido pelo magistrado em razão da escalada de agressividade entre os dois.
"O MP fez um trabalho minucioso de verificação. Esses US$ 100 milhões estavam em seu nome e é verdade que havia esse pagamento de 5% de propina", afirmou o representante do MPF.
Ao que Cabral rebateu: "Se teve a taxa de 5%, de oxigênio, na Secretaria de Obras eu não tenho nada a ver com isso. O secretário de Obras era o atual governador”, afirmou, referindo-se a Pezão.
Defesa pedirá afastamento de Bretas de todos os processos
A defesa do ex-governador pretende solicitar que o juiz Marcelo Bretas se afaste da condução de todas as ações penais no âmbito da Operação Lava Jato que envolvem o peemedebista.
No 24 de julho o advogado Rodrigo Roca, que representa Cabral, entrou com um pedido de suspeição contra o magistrado alegando que Bretas antecipou sua análise sobre o caso que apura suposta lavagem de dinheiro por meio de joias em entrevista ao jornal "Valor Econômico", publicada no último dia 14.
“Vou pedir a suspeição do juiz em todos os casos, até por uma questão de coerência”, afirmou nesta segunda-feira após Cabral ser ouvido pelo juiz em interrogatório relativo à operação Eficiência. Segundo ele, Bretas tem se mostrado “parcial”.
O juiz abriu o interrogatório se manifestando sobre pedido de afastamento feito pela defesa do ex-governador. Bretas afirmou que, no que diz respeito a processo em que Cabral e sua esposa respondem por lavagem de dinheiro por meio da compra de joias, ainda não tem opinião formada.
O juiz citou que o caso pode ser julgado como lavagem de dinheiro, propina ou ostentação.
"Nós conversamos há alguns dias em outro interrogatório sobre a questão das joias, pagamentos no exterior... O senhor até me falava que não era viável lavar dinheiro com joias. Que deprecia muito o valor. Lembra dessa conversa? O seu advogado sustenta que, em razão disso, deveria avaliar melhor, ainda não tenho formado o meu convencimento, se essa joia é propina, ostentação --que o senhor até disse que vivia de forma não compatível com o seu padrão de riqueza--, que não é crime, ou lavagem de dinheiro. São as três possibilidades. E o advogado viu nisso um comprometimento da minha imparcialidade."
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