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Nova fase da Lava Jato mira filho de ministro do TCU

O advogado Tiago Cedraz, filho do ministro do TCU Aroldo Cedraz - Ruy Baron/Valor/Folhapress
O advogado Tiago Cedraz, filho do ministro do TCU Aroldo Cedraz Imagem: Ruy Baron/Valor/Folhapress

Mirthyani Bezerra

Do UOL, em São Paulo

23/08/2017 07h30Atualizada em 23/08/2017 12h23

O advogado Tiago Cedraz, advogado e filho do ministro Aroldo Cedraz, do TCU (Tribunal de Contas da União), é um dos alvos da a 45ª fase da Lava Jato, a Operação Abate 2, deflagrada por agentes da Polícia Federal na manhã desta quarta-feira (23). Foram cumpridos quatro mandados de busca e apreensão nas cidades de Salvador (BA), Brasília (DF) e Cotia (SP).

A operação é um desdobramento da 44ª fase, chamada de Abate, que prendeu temporariamente o ex-líder do PT na Câmara dos Deputados, Cândido Vaccarezza (hoje PTdoB). O ex-parlamentar foi solto ontem.

Segundo a PF, as investigações identificaram a participação de Tiago Cedraz e do advogado Sérgio Dantas, além da secretária e advogada de campanha do Cândido Vaccarezza, Ana Claudia de Paula Albuquerque, como interlocutores que atuaram junto a Petrobras para favorecer a contratação da empresa norte-americana e pagar propina a agentes públicos.

O delegado da PF, Filipe Hille Pace, esclareceu que as investigações contra Tiago Cedraz não tem relação com a sua função de advogado, nem com o fato de ele ser filho de um ministro do TCU. Segundo ele, Tiago e Dantas conheciam Jorge Luz e Bruno Luz, apontados pelos investigadores como operadores do esquema de propina para diversos partidos políticos, e teriam participado das tratativas para a contratação da empresa norte-americana por parte da estatal brasileira. "Com o sucesso da contratação, em virtude do apadrinhamento político dado por Cândido Vaccarezza, eles também receberam parte dos recursos de comissão”, explicou o delegado.

As investigações apontam que os pagamentos foram feitos por contas mantidas na Suíça em nome de empresa off-shore. "A princípio eles teriam recebido cerca US$ 50 mil, em contas possivelmente titularizadas por doleiros que teriam sido indicadas por eles e acredita-se que o valor teria sido recebido em espécie aqui no Brasil", disse.

O delegado afirmou que eles foram afastados do grupo posteriormente e, por isso, não receberam mais recursos. “Ainda estamos avaliando porque eles foram afastados do grupo. Há uma suspeita. Os próprios operadores Jorge e Bruno relataram que provavelmente Marcio Arché [gerente de Marketing da Petrobras, que também é investigado] tentou afastá-los do grupo e teria conseguido, mas isso vai ser melhor apurado”, afirmou.

Ainda segundo Pace, a PF havia pedido ao juiz federal Sergio Moro mandados de busca e apreensão e de condução coercitiva. “Doutor Sergio deferiu as buscas, mas a condução ele indeferiu. Deu alternativa genérica: os alvos foram intimados a prestar depoimento nessa manhã ou se assim desejassem poderiam vir aqui para Curitiba prestar depoimento para mim”, esclareceu.

Pace afirmou que tanto Tiago Cedraz quando Dantas prestam depoimento, já Ana Cláudia não foi encontrada. “Vamos procurar intimá-la em outro local”, disse.

Em nota, Tiago Cedraz reiterou "sua tranquilidade quanto aos fatos apurados por jamais ter participado de qualquer conduta ilícita". Disse ainda que confia na apuração conduzida pela força-tarefa da Lava Jato e permanece à disposição para quaisquer esclarecimentos necessários.

Ele passou a ser investigado na Operação Lava Jato em 2015 a partir do depoimento do empreiteiro Ricardo Ribeiro Pessoa, da UTC, que o citou em acordo de delação premiada.

O empreiteiro disse ter pago R$ 50 mil mensais ao advogado para receber informações do TCU. Em seus depoimentos, o empreiteiro contou ter desembolsado R$ 1 milhão para Tiago Cedraz ajudar na liberação do processo licitatório de Angra 3, que estava sendo analisado pelo tribunal.

Na época, Tiago Cedraz disse que foi "consultado" pelo dono da UTC, Ricardo Pessoa, para trabalhar neste caso, mas "sua contratação não foi efetivada".

Bloqueio de bens

O juiz federal Sergio Moro decretou o bloqueio de R$ 6 milhões de Tiago Cedraz e Sérgio Dantas, a pedido da Polícia Federal e da Procuradoria da República em Curitiba. O valor do bloqueio seria referente à comissão que os advogados receberam na contratação da empresa americana.

"Viável o decreto do bloqueio dos ativos financeiros dos investigados em relação aos quais há, em cognição sumária, prova de pagamento ou recebimento de propina", assinalou Moro. Para o magistrado, "não importa se tais valores, nas contas bancárias, foram misturados com valores de procedência lícita. O sequestro e confisco podem atingir tais ativos até o montante dos ganhos ilícitos", afirma Moro.

O juiz anotou que a medida apenas gera o bloqueio do saldo do dia constante nas contas ou nos investimentos, não impedindo, portanto, continuidade das atividades das empresas ou entidades - considerando aquelas que eventualmente exerçam atividade econômica real.

Operação Abate

Vaccarezza - Foto: José Cruz/Agência Brasil - Foto: José Cruz/Agência Brasil
Moro mandou soltar Vaccarezza mediante o pagamento de R$ 1,5 milhão de fiança
Imagem: Foto: José Cruz/Agência Brasil

O juiz Sérgio Moro determinou a soltura de Vaccarezza na terça-feira (22) sob a condição de pagar uma fiança de R$ 1,5 milhão. O ex-deputado é acusado de ter recebido US$ 438 mil (R$ 1,4 milhão em valores de hoje) em propina para facilitar a contratação por parte da Petrobras de uma empresa norte-americana para o fornecimento de asfalto à estatal até 2011.

Durante a Operação Abate, que prendeu temporariamente Vaccarezza na última sexta-feira (18), os investigadores encontraram R$ 122 mil em espécie na casa do ex-parlamentar. Para a Polícia Federal, há a suspeita de que o ex-deputado tenha recebido mais valores indevidos, acima de R$ 3 milhões.

As investigações do MPF sobre a relação de Vacarezza com o esquema começaram após a delação premiada de Paulo Roberto Costa, ex-diretor de Abastecimento da Petrobras.

No dia da prisão temporária, o advogado Marcellus Ferreira Pinto, que defende Vaccarezza, afirmou que em nota, que "Cândido Vaccarezza nunca intermediou qualquer tipo de negociação entre empresas privadas e a Petrobras. A prisão foi decretada com base em delações contraditórias, algumas já retificadas pelos próprios delatores. A busca e apreensão excedeu os limites da decisão judicial, confiscando valores declarados no imposto de renda e objetos pertencentes a terceiros sem vínculo com a investigação".

Deixou o PT em 2016

O ex-deputado anunciou seu desligamento do PT em 2016. Pelo partido, ele tentou se reeleger para a Câmara dos Deputados em 2014, mas não teve sucesso.
Se filiou ao PTdoB no ano passado, assumindo a direção do PTdoB de São Paulo.

A prisão de Vaccarezza foi feita na manhã de sexta. A operação foi batizada de Abate, 44ª fase da Operação Lava Jato. A Abate foi realizada ao mesmo tempo em que a Operação Sem Fronteiras, a 43ª fase.

Ao todo, foram cumpridas 46 ordens judiciais distribuídas em 29 mandados de busca e apreensão, 11 mandados de condução coercitiva e 6 mandados de prisão temporária na capital paulista, em Santos, no litoral de SP, e na cidade do Rio de Janeiro.

Nos dois casos, as investigações apuram crimes de corrupção, desvio de verbas públicas e lavagem de ativos identificados em contratação de grandes empresas com a Petrobras.

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