Alvo de machismo, relatora diz não ser possível reforma política ideal
A deputada federal Shéridan (PSDB-RR) faz parte de duas minorias na Câmara. No seu primeiro mandato na Casa, é uma das 54 mulheres em exercício na atual legislatura --número que representa pouco mais de 10% dos 513 deputados--, e, aos 33 anos de idade, é uma das parlamentares mais jovens do Congresso Nacional.
Nas últimas semanas, ela se tornou também um dos nomes mais citados em Brasília, em meio ao intenso debate sobre a reforma política no Legislativo. Relatora da PEC (Proposta de Emenda à Constituição) 282/2016 na Câmara, a tucana viu seu texto ser aprovado por quase unanimidade na comissão que analisou o fim das coligações partidárias nas eleições para deputados e vereadores e adoção de uma cláusula de desempenho eleitoral, que tem como objetivo diminuir o número de partidos.
A proposta é hoje considerada a única com chances reais de ser aprovada a tempo das eleições do ano que vem, segundo parlamentares ouvidos pelo UOL. Enquanto isso, as propostas relatadas pelo deputado Vicente Cândido (PT-SP), que incluem a criação de um fundo público de financiamento de campanhas e a alteração do sistema eleitoral do país, podem ficar no papel por falta de consenso.
Pressionada por partidos menores, a deputada fez alterações de última hora no texto que suavizaram a proposta.
A gente não consegue construir o texto que a gente imagina como o ideal, mas o que é possível, que é viável”.
Nos dois anos e meio como deputada, nenhuma das 125 proposições de sua autoria virou norma jurídica. Dentre os 19 projetos que relatou, o único que virou lei até agora foi o que institui agosto como o mês do aleitamento materno.
Machismo no Parlamento
A projeção que ganhou por conta da atuação em uma das partes da reforma política chegou no momento em que a psicóloga Shéridan Estérfany Oliveira de Anchieta se vê engajada na luta contra o machismo na Câmara.
No último dia 2, durante a votação da admissibilidade da denúncia contra o presidente Michel Temer (PMDB) no plenário da Casa, ela foi chamada de "gostosa" por um deputado. O comentário, classificado por ela com "totalmente indecoroso e desrespeitoso", foi captado por um microfone e vazou na transmissão da sessão.
Shéridan não estava lá --contou que teve um imprevisto no voo de Boa Vista para Brasília--, mas fez questão de protocolar um pedido de investigação do episódio na Presidência da Câmara. O autor do comentário ainda não foi identificado.
Questionada se votaria pelo arquivamento da denúncia, disse que não. "Ninguém está acima de nada, nem da lei. É democrático que o presidente tenha a possibilidade de se defender", afirmou.
Sobre o apoio de seu partido ao governo, desconversou e disse não ver "um racha" entre os tucanos. "É como uma família que discute, as opiniões divergem, mas se acertam", diz.
Desde março presidindo a Comissão de Defesa dos Direitos da Mulher, Shéridan defende o aumento da representatividade feminina na política, lembrando que as mulheres são maioria na população brasileira, e fala ainda sobre como o rótulo de "musa da Câmara" interferiu na sua atividade como parlamentar.
"Para defender as causas da mulher não precisa ser feminista", afirma.
Mulher na Presidência da Câmara?
Para a deputada, o fato de a Câmara dos Deputados só ter tido presidentes homens em seus 191 anos de história é simbólico para a luta das mulheres dentro da Casa. "A cada momento que se alcança um espaço é uma conquista. Eu sou a primeira mulher a relatar uma reforma política. Hoje, no Congresso, é um grande passo", declarou.
"A gente inicia sabendo que tem uma história a construir, que vai discorrer sobre a nossa capacidade e as condições de avançarmos. É uma possibilidade [presidir a Câmara no futuro]. A gente está construindo a reforma, ano que vem tem eleição. A gente vai tentar retomar o mandato e continuar essa caminhada. O que está por vir nessa construção aqui dentro, no cenário nacional, vai vir", completou.
ID: {{comments.info.id}}
URL: {{comments.info.url}}
Ocorreu um erro ao carregar os comentários.
Por favor, tente novamente mais tarde.
{{comments.total}} Comentário
{{comments.total}} Comentários
Seja o primeiro a comentar
Essa discussão está encerrada
Não é possivel enviar novos comentários.
Essa área é exclusiva para você, assinante, ler e comentar.
Só assinantes do UOL podem comentar
Ainda não é assinante? Assine já.
Se você já é assinante do UOL, faça seu login.
O autor da mensagem, e não o UOL, é o responsável pelo comentário. Reserve um tempo para ler as Regras de Uso para comentários.