STF nega afastamento de Janot de denúncias contra Temer
Todos os ministros do STF (Supremo Tribunal Federal) consideraram não haver motivos para afastar o procurador-geral da República, Rodrigo Janot, das investigações contra o presidente Michel Temer (PMDB).
O relator, Edson Fachin, foi o primeiro a votar contra o afastamento de Janot. Nove dos 11 ministros acompanharam sua decisão: Alexandre de Moraes, Rosa Weber, Luiz Fux, Dias Toffoli, Ricardo Lewandowski, Marco Aurélio de Mello, Celso de Mello e Cármen Lúcia, presidente da corte. Gilmar Mendes e Luis Roberto Barroso não participaram da sessão.
Como procurador-geral, Janot é responsável pelas investigações contra o presidente e apresentou denúncia contra Temer, por suspeitas de corrupção passiva, com base em investigações feitas a partir da delação premiada da JBS.
Um dos pontos indicados pela defesa de Temer como comprometedores da atuação de Janot seria a frase dita pelo procurador-geral em palestra de que as denúncias continuariam a ser apresentadas em seu mandato. "Enquanto houver bambu, lá vai flecha" foi a expressão utilizada.
Fachin defendeu em seu voto que "ainda que eventualmente criticável, essa linguagem não configura, a meu modo de ver, excesso". "Não é possível reconhecer a partir dessa afirmação inimizade capital entre procurador-geral da República e eminente presidente da República."
Em seu voto contra a suspeição de Janot, Fachin citou um julgamento anterior, que foi relatado pelo ministro Gilmar Mendes, segundo o qual ainda que sejam praticados atos abusivos contra o investigado, isso não leva à suspeição do juiz ou procurador.
"Há precedente da Corte que reconhece que até mesmo em caso de atos abusivos, o que entendo não ser o caso dos autos, a suspeição não constitui desdobramento necessário da censura de atos processuais", disse.
O caso relatado por Mendes foi um pedido de habeas corpus julgado pela 2ª Turma do STF em maio de 2013. A decisão foi resumida dessa forma por Mendes: "O conjunto de atos abusivos, no entanto, ainda que desfavorável ao paciente, devidamente desconstituídos pelas instâncias superiores, não implica necessariamente parcialidade do magistrado", dizia o trecho da decisão citada por Fachin na sessão de hoje.
Em um longo voto, o decano Celso de Mello ressaltou a atuação de Janot à frente do MPF: "Não posso deixar de reconhecer a atuação responsável, legítima e independente do procurador-geral da República, Rodrigo Janot, que tem exercido a chefia do Ministério Público da União com grande seriedade, atento aos gravíssimos encargos que incidem sobre o Ministério Público, notadamente em situações que envolvem implacável e necessária persecução estatal movida em face de delinquentes, que em contexto de criminalidade organizada atentam contra ordenamento positivo do Estado brasileiro praticando delitos que tem efetivamente ultrajado a consciência e desrespeitado o sentimento de decência do povo de nosso país".
"Não constitui demasia assinalar que regimes autocráticos, que governantes ímprobos, que cidadãos corruptos temem um Ministério Público independente", acrescentou.
A defesa de Temer também queria que fosse suspensa a apresentação de qualquer nova denúncia contra o presidente até que se conclua a investigação sobre a delação da JBS e diz que as provas obtidas nas investigações são inválidas, pois a assinatura do acordo de delação foi colocada sob suspeita a partir da revelação dos novos áudios dos executivos da JBS. Mas esse pedido não foi analisado nesta quarta-feira por falta de tempo. A presidente do STF, Cármen Lúcia, deve remarcar esse julgamento para a próxima semana.
'Janot agiu de forma açodada', diz defesa de Temer
Rodrigo Janot não esteve presente. A PGR foi representada pelo vice-procurador Nicolao Dino.
Para a defesa de Temer, Janot agiu com pressa --"de forma açodada"-- desde a instalação do inquérito.
"O presidente da República não é tutor de seus assessores e não pode responder por seus erros", disse o advogado de Temer, Antônio Cláudio Mariz de Oliveira sobre Rodrigo Rocha Loures. "O presidente da República quer trabalhar e ele não consegue", disse Mariz.
Nicolao Dino afirmou que Janot apenas exerceu as atribuições do cargo, respeitando os limites da lei.
"A expressão 'enquanto houver bambu, lá vai flecha' nada mais significa que o procurador-geral da República exercerá seu mandando integralmente até o fim, manejando instrumentos processuais eu a lei lhe confere", disse.
"Nada disso constitui obsessão acusatória como dito na peça de acusação", afirmou Dino.
Mariz disse que a PGR deveria ter "cautela" em relação a Temer e pediu que o órgão deixasse o presidente "em paz".
"É preciso que haja cautela, cuidado, se está acusando um cidadão, se está acusando um brasileiro, se está acusando um cidadão brasileiro, que é presidente da República. Quer se queira, quer não se queira. É o homem que responderá pelo país por um ano e meio daqui para a frente. Deixem-no em paz", afirmou.
Segunda denúncia para a sucessora de Janot
A defesa acusou Janot de agir de forma parcial contra o presidente, tentando deixar a decisão sobre a apresentação de uma segunda denúncia contra Temer para a sucessora de Janot, Raquel Dodge, que toma posse como procuradora-geral na próxima segunda-feira (18).
A delação da JBS passou a ser investigada por decisão de Janot, no último dia 4, para apurar a omissão de informações no acordo de colaboração premiada firmado por três dos sete delatores da JBS após a apresentação de novas gravações.
A investigação pode levar à revisão dos benefícios concedidos aos delatores, mas segundo a Procuradoria não impediria o uso das provas apresentadas nas investigações.
A delação dos empresários foi fundamental na abertura de inquérito contra o presidente da República, Michel Temer (PMDB), por suspeitas de corrupção passiva e obstrução de Justiça.
A investigação também apura se houve atuação irregular de Marcelo Miller, ex-procurador da República e ex-braço direito do próprio Janot, nas negociações para fechar a delação da JBS. A suspeita é que Miller tenha auxiliado os delatores durante a negociação do acordo, quando ainda estava ligado à Procuradoria.
Posteriormente, Miller deixou o cargo de procurador e passou a atuar como advogado num escritório que atuou na negociação do acordo de leniência da JBS, espécie de delação premiada feita pela empresa.
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