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PT abre processo e dá o primeiro passo para expulsar Palocci do partido

Palocci diz que relação entre PT e Odebrecht era movida a propinas

UOL Notícias

Eduardo Schiavoni

Colaboração para o UOL, em Ribeirão Preto

18/09/2017 20h14Atualizada em 18/09/2017 21h42

O diretório regional do PT em Ribeirão Preto (SP) instaurou, na noite desta segunda-feira (18), um processo contra o ex-ministro Antonio Palocci na Comissão de Ética da legenda. Esse é o primeiro passo para a expulsão de Palocci da sigla.

No último dia 6, o ex-ministro afirmou, em depoimento ao juiz Sergio Moro, que havia um "pacto de sangue" entre o PT e a Odebrecht criado na transição entre o governo dos ex-presidentes Luiz Inácio Lula da Silva e Dilma Rousseff, ambos do PT, no fim de 2010. Segundo Palocci, a Odebrecht ofereceu um "pacote de propinas" que incluía R$ 300 milhões para o PT e Lula. O ex-presidente afirmou que o ex-ministro fez acusações falsas para garantir um acordo de delação premiada.

“Quando a presidente Dilma foi tomar posse, a empresa entrou num certo pânico. E foi nesse momento que o doutor Emílio Odebrecht fez uma espécie de pacto de sangue com o presidente Lula", disse Palocci, citando o presidente do Conselho de Administração do Grupo Odebrecht. Segundo o ex-ministro, Emílio levou a Lula, no fim do mandato, um "pacote de propinas".

Um dos principais nomes dos governos Lula e Dilma, Palocci é réu junto com o ex-presidente da República, o ex-presidente do grupo Odebrecht, Marcelo Odebrecht, e outras quatro pessoas em processo da Operação Lava Jato sobre um esquema de corrupção envolvendo oito contratos entre a empreiteira e a Petrobras, que teriam gerado desvios de cerca de R$ 75 milhões e teriam beneficiado o ex-presidente e seu grupo político. 

A declaração de Palocci a Moro aprofundou a crise do partido.

A votação no PT de Ribeirão Preto foi secreta. Nove petistas que integram a Executiva da legenda estiveram presentes e debateram por cerca de uma hora. A discussão ficou tensa e gritos foram ouvidos do lado de fora. Apesar de acatado por unanimidade, apoiadores de Palocci conseguiram aprovar um destaque que abre a possibilidade de uma ampla análise da denúncia e da defesa. Com isso, o processo não poderá ser sumário e terá que ser analisado minuciosamente pelo diretório.

Segundo Fernando Tremura, presidente local da sigla, o processo deve demorar cerca de 60 dias. Tremura afirmou que o processo foi aberto a pedido de Luis Fernando da Silva, um dos integrantes da Executiva, mas admitiu que há também interesse do diretório estadual da legenda, comandado por Luiz Marinho.

“O diretório estadual e o federal estiveram do nosso lado. Recebemos o pedido de nosso filiado e o procedimento foi aberto. Agora, iremos ouvir o que ele tem a dizer e decidir o que faremos”, conta.

Tremura informou que vai esperar a definição da situação de Palocci, hoje preso, para definir como ele será ouvido. "Vamos ver se ele será libertado ou se iremos até lá.  Mas daremos a ele todo direito de se defender e dizer o que ele quiser", afirma.

Antes da orientação da executiva estadual, entretanto, Tremura havia saído em defesa de Palocci. Ele chegou a dizer que a confissão teria sido feita “sob tortura” e que “nada do que [Palocci] disse diminui a importância de Palocci para Ribeirão Preto".

"A decisão está tomada, agora vamos fazer o processo de forma transparente", diz o vereador petista Jorge Parada.

A defesa de Palocci foi procurada pela reportagem para comentar o caso, mas não respondeu às ligações.

Filiado desde 1981

Palocci se filiou ao PT de Ribeirão em 1981 e, desde que foi eleito vereador pelo partido, em 1988, é o principal líder do partido na cidade. Pela legenda, disputou e venceu as eleições para deputado estadual, duas vezes para prefeito e duas para deputado federal. Também foi ministro dos governos Lula (Fazenda) e Dilma (Casa Civil).

Agora, Palocci será julgado por muitas das pessoas que ele trouxe para o PT. Mesmo antes da prisão e do depoimento para o juiz Sergio Moro, a legenda na cidade vivia um racha entre os apoiadores fieis a Palocci e militantes que tentavam diminuir a influência do petista no diretório da cidade.

“Para nós, é muito difícil. Além de tudo, convivemos como amigos, acompanhamos o Palocci desde 1981. É um momento muito duro”, disse Tremura.

“Assim como o PT nacional, o PT de Ribeirão Preto enfrenta uma crise, ainda anterior à crise nacional. A transição entre o período de sucesso político, militante e organizativo dos tempos de Palocci para um novo período ainda não se completou. Um novo projeto político que aponte o futuro e crie novas possibilidades de organização, crescimento e vitórias políticas ainda não foi elaborado”, disse Ricardo Jimenez, professor e coordenador de Direitos Humanos do PT de Ribeirão Preto, em artigo publicado no site do partido.